Associação União das Aldeias Apinajé-PEMPXÀ
Nos últimos 15 anos, testemunhamos com
bastante preocupação o avanço do desmatamento do Cerrado para o plantio
de soja, cana, eucaliptos e implantação de carvoarias no extremo Norte
do Estado do Tocantins. Em pouco mais de uma década, as empresas
Sinobrás, Eco Brasil Florestas S/A, Cargil Agrícola S/A, Suzano Papel e
Celulose S/A, vindas do Sul e Sudeste do País, se instalaram na região
do Bico do Papagaio, com a finalidade de consolidar de vez seus
“projetos desenvolvimentistas” baseados em desmatamentos, destruição e
extinção da diversidade do bioma cerrado para introdução e cultivo de
espécies exóticas com fins econômicos.
Em 2012 o Ministério Público
Federal/Araguaína-MPF-AGA, levantou 494 empreendimentos de silvicultura
no Norte do Estado do Tocantins. Ao menos 20 desses projetos foram
implantados nas vizinhanças das Terras Apinajé e Krahô, localizadas nos
municípios de Tocantinópolis, São Bento do Tocantins, Cachoeirinha,
Itacajá e Goiatins.
Até que se prove o contrário, esses
empreendimentos foram licenciados de forma irregular, uma vez que foram
emitidas licenças pelo Instituto Natureza do Tocantins-NATURATINS, sem a
participação da Fundação Nacional do Índio-FUNAI e do Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-IBAMA,
nos Processos de Licenciamentos. Também verificamos a total ausência de
Estudos de Impactos Ambiental-EIA/RIMA, obrigatórios para
empreendimentos desse porte.
Os povos Apinajé e Krahô já sofrem com
impactos ambientais provocados pelos desmatamentos para cultivos de
eucaliptos, soja e cana, considerados altamente destruidores da fauna e
da flora. É sabido que essas atividades econômicas também são causadoras
de assoreamentos, diminuição dos mananciais de água, seca total de
nascentes e extinção de espécies de animais e vegetais.
Outra preocupação das comunidades é com
relação às pesticidas e produtos químicos, tidos como potenciais
poluidores das águas, do solo e do ar. Assim essas substâncias tóxicas
podem também envenenar, contaminar e adoecer as pessoas e os animais
domésticos. Os modos de vida; a cultura e a economia da população
Apinajé e Krahô, estão sendo seriamente ameaçados e prejudicados pelos
grandes empreendimentos empresariais.
Preocupados os sérios riscos e ameaças
que esses empreendimentos representam para os territórios e as
populações indígenas, temos denunciado de maneira exaustiva, requerendo
providencias da FUNAI, do MPF-AGA e do IBAMA no sentido de impedir mais
degradação dos rios e do bioma cerrado dentro e no entorno das Terras
Indígenas Apinajé e Krahô.
Atualmente estamos sofrendo também com
os impactos da UHE Estreito, que foi construída no Rio Tocantins, do
lado maranhense e afetou diretamente as populações ribeirinhas;
pescadores, agricultores familiares e extrativistas nos municípios de
Estreito, Carolina e Porto Franco no Estado do Maranhão. No Estado do
Tocantins, a obra atingiu as populações ribeirinhas nos municípios de
Aguiarnópolis, Filadélfia e Babaçulândia.
O plano de destruir ainda mais os rios
Tocantins e Araguaia, continua com os projetos de construção das UHE de
Serra Quebrada e Marabá, proposta inaceitável, que ameaça de forma
violenta a vida das populações ribeirinhas e indígenas da região Norte
do Tocantins.
Com a finalidade de debater os impactos
dos grandes projetos de hidrelétricas, desmatamentos e eucaliptos, será
realizado entre os dias 19 a 21 de novembro de 2014, em Imperatriz
(MA), o I Seminário em Defesa dos Rios Tocantins e Araguaia, na qual
serão tratados sobre os impactos e problemas desses empreendimentos na
vida dos povos da região.
Terra Indígena Apinajé, 13 de novembro de 2014.
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