O Cerrado brasileiro é a segunda savana mais rica em biodiversidade do mundo e engloba um terço da biota — o conjunto de seres animais e vegetais de uma região, como explica o dicionário Aurélio — do nosso país. É também o segundo maior bioma (conjunto de diferentes ecossistemas, com certo nível de homogeneidade)brasileiro, já que ocupa cerca de 25% do território nacional, e está entre as 34 áreas prioritárias para a conservação da biodiversidade mundial.
Por: Tudy Câmara
Fotos: Roberto Murta
Realização: Bicho do Mato Meio Ambiente
Fotos: Roberto Murta
Realização: Bicho do Mato Meio Ambiente
“Por este Brasil tão vasto
Do campo vejo sinais
O Cerrado virou pasto
E o pasto, canaviais
O progresso é sempre assim
Alguém sai prejudicado
Até mesmo esse jardim
Das planícies do Cerrado.”
Geovane Alves de Andrade
Do campo vejo sinais
O Cerrado virou pasto
E o pasto, canaviais
O progresso é sempre assim
Alguém sai prejudicado
Até mesmo esse jardim
Das planícies do Cerrado.”
Geovane Alves de Andrade
A província do Cerrado, como denominada
pelo botânico George Eiten — cientista americano que trabalhava na
Universidade de Brasília e considerado como o descobridor do Cerrado
brasileiro —, é a segunda savana mais rica em biodiversidade do mundo, e
engloba 1/3 da biota brasileira e 5% da flora e fauna mundiais. É o
segundo maior bioma brasileiro; ocupa cerca de 25% do território
nacional.
O
Cerrado brasileiro está entre as 34 áreas prioritárias para a
conservação da biodiversidade mundial. A área original desse bioma
alcançava cerca de 2.036.448 km2, mas hoje, devido ao avançado processo de degradação resta apenas 450.000 km2
de sua paisagem original. A área contínua está presente basicamente no
Planalto Central sobre os estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Maranhão, Piauí, Rondônia,
Paraná, São Paulo e Distrito Federal, além dos encraves no Amapá,
Roraima e Amazonas.
Alto índice de biodiversidade
Na região do Cerrado encontram-se as
nascentes e rios tributários das três maiores bacias hidrográficas da
América do Sul (São Francisco, Amazônica/Tocantins e Paraguai/Prata),
portanto um elevado potencial aqüífero, que resulta em um alto índice
de biodiversidade.
O Cerrado brasileiro abriga 11.627
espécies de plantas nativas já catalogadas. Existe uma grande
diversidade de habitats que determinam uma notável alternância de
espécies entre diferentes fitofisionomias (aspectos da vegetação de um
lugar ou flora típica de uma região). As diferentes fisionomias e
ambientes apresentam características variáveis, dependendo das condições
edáficas — relativas à formação dos solos — e adensamento vegetacional,
destacando-se o cerrado (sentido restrito), o campo-cerrado, o
campo-sujo, o campo-limpo, e as formações florestais como o cerradão, a
mata seca, a mata ciliar e a mata de galeria.
Cerrado (sentido restrito)
O Cerrado (sentido restrito) representa
aproximadamente 70% do bioma. É formado por um conjunto de árvores e
arbustos de estatura mediana mais ou menos contínua e aberto e um
estrato arbustivo-herbáceo, constituído por gramíneas e subarbustos.
Caracteriza-se pela presença de árvores e arbustos tortuosos, com casca
grossa e folhas em sua maioria coriáceas — cuja textura assemelha-se ao
couro, pois pode ser quebrada com facilidade. Dentre as espécies
representativas dessa fitofisionomia destacam-se o ipê-amarelo (Handroanthus ochraceus), a sucupira (Bowdichia virgilioides), o pau-terra-folha-miúda (Qualea parviflora), o pau-terra-folha-larga (Qualea grandiflora), o pau-ferro (Connarus suberosum), o capitão (Terminalia argentea), a lixeira (Curatella americana) e o araticum (Annoa coriacea).
Cerradão
O cerradão corresponde à fitofisionomia
florestal do Cerrado (sentido amplo), apresentando composição
florística comuns às formações savânicas brasileiras. Distribui-se por
solos profundos e úmidos dos chapadões ou encostas, que favorecem o
desenvolvimento do porte dos indivíduos aí presentes. As alturas máximas
das árvores situam-se em torno de 12 m, podendo ocorrer elementos
emergentes de 15 m a 18 m.
Campo-cerrado
O campo-cerrado constitui uma
fitofisionomia em que a densidade de árvores é inferior a do cerrado
(sentido restrito), e a cobertura graminosa-herbácea atinge maiores
proporções. É uma forma de cerrado (sentido amplo) caracterizada pela
presença de árvores esparsas, baixas, inclinadas, tortuosas, com
ramificações irregulares e retorcidas e, geralmente, com evidências de
queimadas. Os troncos das plantas lenhosas apresentam cascas com grossa
cortiça, fendidas ou sulcadas. As folhas em geral são rígidas e
coriáceas.
Campo-sujo
O campo-sujo compreende uma fisionomia
do cerrado (sentido amplo) onde as árvores são raras, com arbustos e
subarbustos destacando-se da camada graminosa. Destaca-se a presença de
pau-santo (Kielmeyera coriacea), bate-caixa (Salvertia convallariaeodora), jatobá-do-campo (Hymenaea stigonocarpa), murici (Byrsonima coccolobifolia), murici (Byrsonima verbascifolia), mercúrio (Erythroxyllum suberosum), favela (Dimorphandra mollis), barbatimão (Sthryphnodendron adstringens) e pau-terra-folha-larga (Qualea grandiflora).
O estrato arbustivo-herbáceo é comumente formado pelas mesmas espécies
de ocorrência no Cerrado (sentido restrito). A cobertura graminosa é
contínua, destacando-se a presença de capim-flechinha (Echinolaena inflexa) e capim-estrela (Rhynchospora consanguinea).
Campo-limpo
O campo-limpo é uma forma de cerrado
(sentido amplo) onde predomina a cobertura graminosa-herbácea, sendo
praticamente desprovido de árvores e arbustos de caules grossos. É
constituída de uma fitofisionomia predominantemente herbácea, com raros
arbustos e ausência quase completa de árvores. Pode ser encontrado em
diversas condições topográficas, com diferentes variações no grau de
umidade, profundidade e fertilidade dos solos. Dentre as espécies
destacam-se o capim-flechinha (Echinolaena inflexa), o capim-estrela (Rhynchospora consaguinea) e a íris (Trimezia juncifolia).
A fauna do Cerrado
A
alta diversidade de ambientes do cerrado reflete em uma elevada riqueza
de espécies. Existem no cerrado cerca de 199 espécies de mamíferos, 837
espécies de aves, 1 200 espécies de peixes, 180 de répteis e 150 de
anfíbios. O número de peixes endêmicos não é conhecido, porém os valores
são bastante altos para outros vertebrados. Das 150 espécies de
anfíbios que ocorrem no cerrado, 28% são endêmicas. Para mamíferos, o
endemismo chega a 10% e para os répteis encontra-se em torno de 17%. O
Cerrado ainda abriga 13% das espécies de borboletas, 23% das espécies de
cupins e 35% das espécies de abelhas.
Alguns Animais do Cerrado
Jaguaroundi (Puma yagouaroundi )
O jaguaroundi, também conhecido por gato
mourisco, é um pequeno felino de pequeno porte que se caracteriza pela
falta de machas na pele e coloração uniforme. Como todos os felinos, é
uma espécie estritamente carnívora. Alimenta-se principalmente de aves,
pequenos mamíferos e répteis. O gato-mourisco é terrestre, mas sobe em
árvores com muita agilidade.
Lobo-guara (Chrysocyon brachyurus)
O lobo-guará é o maior canídeo
brasileiro. É uma espécie solitária, com hábitos preferencialmente
noturno e/ou crepuscular. Alimenta-se principalmente de pequenos e
médios vertebrados e frutos. O fruto predileto é a lobeira (Solanum lycocarpum) muito
abundante no cerrado. Atualmente encontra-se na lista de espécies
ameaçadas de extinção (como vulnerável) do Estado de Minas Gerais e do
país.
Tucano (Ramphastos toco)
É o maior de todos os tucanos. Vive
atravessando os céus do Cerrado. A característica mais marcante da
espécie é o bico amarelo-alaranjado, que mede cerca de 20 cm. Apesar do
tamanho, o bico é muito leve, pois apresenta espaços ocos em sua
estrutura. Com o bico, os tucanos capturam seus alimentos que são
predominantemente pequenos vertebrados, invertebrados, ovos e frutos.
Seriema (Cariama cristata)
São aves de médio porte, de hábitos
terrestres, que apresentam mais habilidade para correr do que para voar.
Em contato com os humanos, as seriemas se sentem bem ameaçadas,
costumam correr, voar ou abrir as asas e enfrentá-los. Tem uma lenda que
fala que o canto da seriema indica o final da época das chuvas.
Pica-pau-do-campo (Colaptes campestris)
O pica-pau-do-campo é
muito comum nos campos e cerrados do Brasil. Alimenta-se de insetos,
principalmente formigas e cupins. Vive em casais e, às vezes, em
pequenos grupos. Apresenta hábitos terrícola, costuma capturar insetos
no solo.
Tangará-dançarino (Chiroxiphia caudata)
Como estratégia reprodutiva das aves, na
maioria das espécies, os machos apresentam plumagens e cores
exuberantes para conquistar as fêmeas. Com os machos de
tangará-dançarino não é diferente: eles apresentam plumagens muito
coloridas e vistosas, enquanto as fêmeas tem colorido discreto, que se
confunde com as folhas e lhes dá proteção contra os predadores quando
está chocando os ovos.
Sapo-flecha (Ameerega flavopicta)
É uma espécie de anfíbio da família
Dendrobatidae. Alimenta-se principalmente de formigas e cupins. Às
vezes, consome pequenos aracnídeos. É encontrado no Brasil e na Bolívia.
Os habitantes do Cerrado
No Cerrado brasileiro, a agropecuária se
desenvolve muito, justificando uma população de aproximadamente treze
milhões de habitantes. Além das populações tradicionais, ainda vivem no
cerrado comunidades quilombolas, comunidades ribeirinhas e “geraizeiros”
e algumas tribos de índios. Essas populações se utilizam de uma grande
variedade de plantas do Cerrado. Mais de 200 espécies têm uso medicinal e
mais de 400 podem ser usadas na recuperação de áreas degradadas como
proteção contra erosão e barreiras contra o vento. Muitos frutos
comestíveis são consumidos e ou vendidas pela população que vive na
região do cerrado como os frutos do Pequizeiro (Caryocar brasiliensis), Buriti (Mauritia flexuosa) e Mangabeira (Hancornia speciosa), além das sementes do Barú (Dypteryx alata).
O conhecimento dessas populações associado ao uso das plantas
medicinais do Cerrado se constitui em um patrimônio cultural de grande
importância.
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