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O evangelho segundo o agronegócio
Para cada comunidade havia uma
recompensa. Ele só precisava abatê-las antes de aprenderem a voar. Assim que
chegavam no Baixo Parnaiba, os plantadores de soja ou de eucalipto convocavam o
Pedrão. Ele mantinha uma lista particular das várias comunidades que abatera.
Não conhecia a derrota naquelas Chapadas de Urbano Santos, Anapurus, Santa
Quitéria e Barreirinhas. O agronegócio o salvara da miséria e da fome no final
dos anos 90 quando começaram os primeiros plantios de soja em Anapurus. O Pedrão
administrava uma fazenda na qual plantava arroz e milho. Seu sustento, contudo,
ele tirava dos desmatamentos das Chapadas e a produção de carvão vegetal nas
baterias de carvoarias. Os plantadores de soja e de eucalipto reconheciam o seu
jeito para lidar com as comunidades. Ele missionava as comunidades para o
agronegócio. O agronegócio o salvara, mas o seu propósito não era salvar ou
educar ninguém. Salvaria a própria pele, antes de salvar a de outra pessoa.
Andava sempre só ou no máximo com sua mulher na garupa. O evangelho que pregava
passava ao largo das palavras de justiça e respeito ao próximo. O seu evangelho
prosperava a qualquer preço. Por onde se andasse pelo Baixo Parnaiba
maranhense, via-se a expressão desse evangelho. Ou, melhor dizendo, via-se o
desmatamento de bacurizeiros e de pequizeiros. O evangelho de Pedrão aboliu a
carne, afinal os moradores não soltavam mais seus animais sobre as Chapadas
porque os empregados do plantador de soja os matavam. O evangelho de Pedrão
aboliu a carne, afinal os moradores não mais despregavam as carnes dos caroços
de bacuri para guardarem e depois venderem-nas para os compradores que viriam
de cidades próximas. O evangelho de Pedrão aboliu a carne e com isso desabitou
as Chapadas e os Baixões de boa parte do Baixo Parnaiba maranhense. Esse
evangelho dispensa habitações e, em consequência, dispensa pessoas para que se
consagre. Pedrão e seus patrões
obtiveram inúmeros sucessos. Por baixo, eles abateram as Chapadas de umas cinco
comunidades nas bacias dos rios Preguiça e Munim. Eles abatiam as Chapadas para
manterem seus ritmos de vida. O senhor Loeff, patrão do Pedrão em 2005, pagou R$
150 mil pela fazenda São Raimundo, em Urbano Santos. O desmatamento da Chapada
e a produção de carvão vegetal renderiam quanto para eles? O suficiente para
cobrir os seus gastos por algum tempo. O evangelho de Pedrão escamoteava o que,
realmente, queria-se com aquela Chapada. Eles visavam o dinheiro da indústria do
ferro-gusa e dos bancos que financiam os plantios de soja e de eucalipto. Como
a comunidade de São Raimundo não permitiu o desmatamento, os caras nem viram e
nem sentiram o cheiro do dinheiro da indústria de ferro-gusa e dos bancos. O
evangelho de Pedrão depois dessa derrota nunca mais foi o mesmo. Ele jogou uma
conversa para o presidente da Associação do Povoado da Jurubeba, município de
Barreirinhas. Nessa conversa, o Pedrão prometia que o André, seu atual patrão,
daria para a comunidade um campo agrícola e só bastava que a comunidade
aceitasse o desmatamento da Chapada. O seu Chico Patrocinio respondeu “Pode
esperar sentado”.
Mayron Régis
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