domingo, 1 de maio de 2011

Cana de Açucar: a história se repete como farsa

“A História se repete como farsa”. Com essa frase, escrita em o “18 Brumário de Napoleão Bonaparte”, sobre o golpe militar desferido por Napoleão 3º em 1851, contra o parlamento francês, Karl Marx rubrica com sua ironia o entrechoque na burguesia francesa que rasga o seu projeto de modernidade histórico-política e reveste a si e a seu mundo de prodigalidades consumistas, logo após os levantes populares de 1848 e a repressão política aos operários que se seguiu, como se o mundo dos materiais forjados no calor segurasse o escorrer da sua história pelo ralo – estabilize-se, então, uma história da relação do mundo orgânico com o mundo inorgânico que condiz, perfeitamente, com a História do mundo moderno, pois em nenhum outro momento uma relação encantou tanto a humanidade – para Walter Benjamin, filósofo alemão, o individuo burguês depositava sobre os novos materiais de construção, caso do ferro, uma afetividade que antes ele compartilhava, contudo esta afetividade vem contaminada de desejo de posse – “eu sou afetuoso desde que algo ou alguém me pertença ou desde que receba algo em troca”. As duas – História e farsa – andam juntas a incontáveis anos, embora a História se desvencilhasse da outra quando preciso.






O desmantelo a que se referiu Karl Marx surge quando o que pode ser comprovado pela narração histórica vacila e enfatiza-se, justamente, nas narrativas subseqüentes o episódico, sem que o conjunto esteja ordenado satisfatoriamente. Na eleição de Luis Bonaparte para presidente e em sua aclamação para imperador, os franceses queriam o tio dele de volta com suas glórias militares e como Napoleão Bonaparte morrera havia muito, só restava seu sobrinho para ocupar a vacância. O maior feito de Napoleão III foi desembrulhar a cidade de Paris, famosa por suas revoltas e por suas barricadas, para a modernidade estetizante dos novos materiais de construção – torre Eiffel – e para o capitalismo financeiro do final do século XIX e começo do século XX.


Para o novo mundo que se avizinhava, um mundo de descobertas científicas, transportes de massas e meios de comunicação infalíveis, as cidades deveriam se remodelar, ou seja, tanger o passado ou a miséria ou a fome ou a violência para longe do visual modernista das avenidas espaçosas de Paris. O verbo remodelar é a palavra-chave do capitalismo, principalmente, porque envolve o que este sistema econômico-social mobiliza de mais oportuno que é a imagem – “Uma imagem vale mais que mil palavras”. Como a História se estruturou, em primeiro lugar, em torno da oralidade e depois em torno da escrita, perguntaríamos o seguinte: dá para relatar uma História que não seja por palavras, apenas com imagens, ou dá para relatar uma História escorando o seu discurso sobre imagens? Sociabilizados pelos meios de comunicação de massa, ficamos tentados a relatar uma História desgovernada, sem pé e nem cabeça; uma História cerceada pela velocidade dos acontecimentos; e uma História que viva de novidades e que esqueça da tradição.


No âmbito da discussão sobre os agrocombustíveis e sua sustentabilidade sócio-ambiental, botaram pra escanteio uma História que universaliza o conhecimento para privilegiar o confete e a serpentina das declarações mascaradas. A verdade é que a cultura política brasileira vive mais e mais de mascaramentos, quer dizer, poucos se atrevem a separar o que é real e o que é ilusório. Quando o presidente Luis Inácio Lula da Silva carimba os empresários do setor sucro-alcooleiro de heróis, esse carimbo adoça uma farsa, pois, historicamente, o setor sucro-alcooleiro representa destruição da Mata Atlântica, a escravidão de nações indígenas e africanas, o latifúndio em suas práticas insustentáveis de uso das melhores terras do Brasil e o esbanjamento de dinheiro público. E o setor não mudaria nesse começo do século XXI? Algumas declarações de empresários do setor provariam que a mudança é possível, contudo projetos recauchutados no leste maranhense, mais propriamente em Caxias e em Aldeias Altas, retraem essas expectativas.

Comunidades de posseiros denunciam ameaças veladas de “seguranças” das empresas TG Agroindustrial e Comvap para que se retirem de áreas que ou estão em litígio ou foram compradas de forma irregular. Verifica-se também o barramento de vários afluentes do rio Itapecuru para irrigar os canaviais da empresa TG no município de Aldeias Altas.

Por: Mayron Régis
janeiro 2008

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