quinta-feira, 19 de julho de 2012

CIENCIA E CONHECIMENTO TRADICIONAL NA SPBC


    Talvez impressione a vinda da SBPC em 2012 para o estado do Maranhão, visto que no mapa da produção cientifica o estado pouco representa e pouco acrescenta. Não é nada extraordinário salientar o quanto as elites e as classes médias maranhenses se sentem desconfortáveis nesse terreno e isso repercute muito forte também nas classes menos abastadas.  Há várias versões do mesmo fato, mas no caso da produção cientifica se nota que a falta de domínio em temas relevantes e a falta de interesse por parte do Estado e da sociedade em investir na pesquisa desses temas levaram e ainda levam a uma situação vexatória.  Quando a análise falta o que sobra é o senso-comum. A nossa pobreza tem um fundo falso, isso todos sabem, se bem que os formadores de opinião prefere inocentar esse fundo falso. Esse fundo falso pode ser entendido como aquela pintura histórica em que Dom Pedro I aparece proclamando a independência com centenas de dragões ao seu lado. O fato em si não importa ou as reais razões ou as consequências, o que importa é que Dom Pedro I em férias resolve proclamar a independência no riacho Ipiranga a tantas horas da tarde. Dom Pedro I proclamou a independência, as províncias que se mantiveram fiéis a coroa portuguesa foram ocupadas e finalmente alcançou a maioridade. Curiosamente, o Brasil está sempre em busca da maioridade.
    A vinda da SBPC com o tema “Ciência, Cultura e Saberes tradicionais para enfrentar a pobreza” talvez signifique para alguns aquela visão de que o fato por si só já diz tudo sem relembrar os antecedentes e sem afastar o fundo falso do todo. E o tema ainda ajuda nesse tipo de leitura. Para que questionar se ciência cultura e sabres tradicionais estão juntos para resolver o problema da pobreza. Numa sociedade que se quer rica materialmente e rica em conhecimentos não pode aceitar que persistam índices de baixo desenvolvimento humano. Como se escreveu anteriormente o Brasil está sempre em encalço da sua maioridade e a maioridade agora é combate a pobreza. No caso do Maranhão isso gera controvérsias, pois para as elites a pobreza é uma questão cultural ou seja foi assimilada pela sociedade como algo inerente a ela tipo o “maranhense pobre e legal” e para o governo bastam programas de qualificação profissional voltados para os grandes projetos que isso tira todo mundo da margem da pobreza do tipo “antes era agricultor miserável e agora é assalariado bem de vida”. As elites se valem de certo conhecimento cientifico para afiançar seus argumentos e suas práticas. O que são os estudos de impacto ambiental e os estudos de viabilidade econômica se não uma forma das elites imporem sua visão de mundo? Os estudos afirmam que tal empreendimento vai gerar tantos empregos e tanto de impostos para o Estado e que os impactos positivos se sobrepõem aos negativos. Essa é uma visão parcial da realidade a qual a ciência foi se acomodando ao longo do tempo.
    Com as revoluções burguesas entre os séculos XVII e XIX, o conhecimento humano se fechou em nichos. Esse fechamento impediu que o conhecimento tradicional interferisse na produção do conhecimento cientifico. Na escola o individuo aprende a ler e escrever e na empresa aprende a produzir mercadorias das mais variadas, mas relacionar essas atividades físico-humanas com seu dia-a-dia ninguém faz ou se faz isso acontece dentro de uma aceitabilidade. A SBPC vem ao Maranhão discutir pobreza que é um tema aceitável mesmo que as elites maranhenses torçam o nariz – elas prefeririam discutir grandes investimentos em soja, eucalipto e ferro-gusa- sem entrar no grande mérito das relações ciência e sociedade na segunda metade do século XX. Graças a ciência, o capital capturou a natureza para si como mercadoria. Não toda natureza claro, só aquilo que lhe proporcionava lucro. Só que o capital entendeu que só a Ciência não lhe garante os seus grandes proventos. É preciso mais e ai entra o conhecimento tradicional.
    A ciência que receitava para os “males” da agricultura a revolução verde e mais tarde os transgênicos se imbui de um interesse honesto e recolhe material das comunidades tradicionais para produzir alimentos, remédios, cosméticos e etc. Vejam bem, no mundo ideal da democracia moderna burguesa o nivelamento é dado pelo consumo e pela classe média. Sendo assim a sociedade que as elites anseiam em ver surgir se contrapõem ao conhecimento tradicional porque ele não é sistematizado e não é sistêmico. O conhecimento tradicional responde por uma situação local.
    Com certeza, essas questões se farão presentes na SBPC sob outros pontos de vistas como o das organizações da sociedade civil. No período em que a SBPC acontece, entre os dias 22 e 27 de julho, o FEESMA (Fórum Estadual de Economia Solidária) e a SETRES (Secretaria de Estado de Trabalho e Economia Solidária), estarão realizando no prédio do CCH a Feira Saberes e Sabores da Economia Solidária do Maranhão que, além da mostra de produtos dos diversos segmentos da Economia Solidária no estado, terá espaços temáticos específicos como agroecologia, extrativismo do babaçu, pesca artesanal, etc  que evidenciarão conhecimentos e tecnologias desenvolvidos pelos povos e comunidades tradicionais do Maranhão proporcionando diálogos entre os saberes tradicionais e tecnologias sociais desenvolvidas no âmbito das comunidade acadêmico-científica.
   A proposta do FEESMA contempla também a realização de atividades paralelas a programação oficial articuladas com "campos" afins como Agroecologia, SAN, Justiça Ambiental entre outros criando um ambiente favorável para darmos continuidade ao processo de Diálogos e Convergências. Para isso, o FEESMA conseguiu junto a administração do CCH da UFMA a disponibilização de um mini-auditório - que está liberado durante toda a reunião da SBPC – para serem  desenvolvidas atividades como palestras, mesas-redondas, exposição de vídeos, debates, Atos Públicos etc.
mayron régis

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