PARÓQUIA DE CHAPADINHA
AUDIÊNCIA PÚBLICA DA SUZANO
Como estava previsto, realizou-se a Audiência Pública sobre a construção
da unidade industrial da Suzano na Região. Uma grande multidão
presente. O ginásio do Pequemo Príncipe completamente cheio. Gente vinda
até de outros Municípios. Muitas autoridades. Ambiente de grandeza com
tudo bem definido. Primeiro falaram os diretores da Empresa e os
coordenadores dos trabalhos preparatórios de análise e projeção da
unidade industrial. Exposição fantásticamente técnica e científica e,
segundo foi dito, tudo segundo a lei. Só teve um defeito que foi
positivo para quem estava atento: de vez em quando escapavam aos
expositores as palavras: riscos, empacto ambiental, consequências
negativas, medidas mitigadoras, compensação ambiental, influências
diretas e indiretas... Até se poderia pensar que se estava
preparando a vinda de alguma árvore sagrada para enfeitar os presépios
de natal. Mas não. Era o plantio do eucalipto que estava em causa. Os
presentes mantinham-se calados, admirando a solenidade do ambiente. Uns
dormitavam, outros admiravam os gestos da tradução para surdos. Alguns
prestavam atenção apenas à promessa de futuro trabalho, o que muito foi
falado.
Foi uma exposição alienatória, enganadora, dizendo bem da empresa
Suzano, engrandecendo sua história, elogiando sua grandeza e
especificando os benefícios que vai trazer à região do Baixo Parnaíba.
Insistiu-se demais na criação de empregos e na especialização da mão de
obra. As perguntas, por escrito, que se seguiram foram só pedidos de
esclarecimento sobre as
exigências do emprego. Na parede do ginásio, apenas, uma faixa dos
movimentos populares contra a construção da unidade industrial da
Suzano. Depois de duas horas, vieram as intervenções orais, apenas de
três minutos. O primeiro a falar foi P. Neves que referiu ter sido boa a
exposição industrial feita, mas lamentou ter sido desastroso o
esquecimento da enumeração dos prejuízos enormes do plantio de uma
árvore que vai degradar nossa região, desertificar os terrenos, afastar
ainda mais a água duma área do
cerrado, semi-árida, causar enorme êxodo rural, acabar com a fauna e com
muitas espécies de árvores da região. Os terrenos atingidos nem capim
vão mais produzir e até os pássaros e outros animais vão fugir. É falso
que as raízes dos eucaliptos são pequenas. O eucalipto vai buscar água
longe, acabando com nascentes, brejos e secando depressa até correntes
de água. Essas unidades industriais costumam lançar tão mau cheiro no
ambiente que atinge quilómetros de distância. Os parceiros que aderirem
ao plantio de que vão viver
enquanto os eucaliptos crescem? E na venda das toras de madeira que a
Empresa, única na região, vai comprar ao preço que quiser será que esses
parceiros vão ter dinheiro para retirar os ramos restantes que são
favoráveis a grandes incêndios? A geração de empregos para nós devia-se
fazer com a promoção da agricultura familiar sustentável, porque o nosso
povo está com fome e trabalha só para subsistir. Seca já temos e em
demasia. Vejam o que nos está acontecendo este ano! Os paliativos de
projetos apresentados só demonstram os enormes prejuízos que vão
acontecer. Até vocês compreendem, mas não querem referir. Se os
benefícios fossem tão grandes, como querem, que nós acreditemos,
pergunto: porquê o plantio do eucalipto só se faz nos países e nas
regiões mais pobres? Maranhão é o Estado mais pobre da Federação e a
Região do Baixo Parnaíba a mais necessitada.
]Por tudo isto e muito mais que apresentaria se o tempo desse, sou
contra o projeto. Que Governo é o nosso que mais privilegia o lucro de
uma grande empresa que o progresso da nossa gente? A audiência pareceu
despertar e aclamou a posição do Pároco por várias vezes. Outras
intervenções foram na mesma linha, insistindo na necessidade da mão de
obra na agricultura familiar
O que se passou não foi Audiência Pública. Foi uma sessão pública de
alienação e propaganda da Suzano, empresa em péssima situação económica.
A Secretaria Estadual do Meio Ambiente não se pronunciou, as
Promotorias Públicas nem estiveram presentes e a população não se pode
manifestar como queria. Deve haver movimentação popular para esclarecer
os prejuízos para a região que não tem agricultura familiar.
Responsabilizo as autoridades por não auscultarem a população e por os
motivos do projeto que querem realizar aqui serem políticos e não
técnicos.
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