Aonde cair morto
O Francisco, vizinho de Vicente
de Paula, mudou-se para uma pequena propriedade no município de Duque Bacelar. Quando
inquirido sobre o porquê da mudança, ele respondeu que na Chapada, onde residia
com a mulher e com as filhas, não colhia boas safras de nenhuma cultura.
Francisco culpava o solo e o clima da Chapada de Buriti pelas suas agruras agrícolas
e pelas suas dificuldades socioeconômicas. Demonstrava não ter nenhuma dúvida
de que na propriedade, para a qual se mudaria, conseguiria desenvolver melhor
suas atividades de agricultor. A falta de água na Chapada também contribuiu
para a sua decisão. Ele e os amigos escavaram duas vezes um poço no qual só
toparam com areia. A família se servia do poço do Vicente de Paula. No começo,
carregava-se água em uma bicicleta. Depois de algum tempo, improvisou-se uma
rede de distribuição de água até perto da casa do Francisco. O Vicente permitiu
que eles puxassem água por reconhecer as suas dificuldades e também por
precisar de alguém que morasse perto e resistisse as investidas do agronegócio.
Antes de se fixar na Chapada, a família (mãe e irmãos) do Francisco não tinha
onde cair morta. O Vicente convidou-os e eles passaram a ser vizinhos. A
gratidão não durou muito. A mãe do Francisco se aliou ao André, plantador de
soja. Pauta dos dois: depoimento contra o Vicente de Paula e a favor do André em
audiência na justiça de Buriti e a troca da posse na Chapada por uma
propriedade com documentação (não importava aonde). Consumou-se a troca. Pelo
que se sabe, Francisco se mal diz diariamente pois quente por quente Duque
Bacelar é muito mais quente que Buriti. É um terreno acidentado, enquanto que a
Chapada é plana. A remuneração vem dos campos de soja que recrutam trabalhadores
para catar gravetos antes do preparo da terra. Outro dia, perguntou-se novamente por que
Francisco aceitou a decisão da mãe que o levou a viver na situação que vivia
atualmente. Não se respondeu ou se respondeu de outra forma: “Bastava ele ir à
Chapada. Cortava umas madeiras. Vendi-as. Daria uns 300 reais. Agora nem isso.”
Mayron Régis
Nenhum comentário:
Postar um comentário