“Um passeio pela Balaiada do
século XIX – 170 anos de início da revolta popular”
Eles rondavam o sertão a procura da terra, grandiosas faram suas batalhas e
ideologias em defesa de um mundo melhor. Corajosos, saíram da Vila de Manga
rumo ao Baixo Parnaíba, eram os vaqueiros rebeldes. Adentraram chapada a fora
atravessando vilarejos, escondendo-se dos legalistas e formando o povo. Talvez
tirasse da selva sua alimentação, suas famílias ficavam sob a proteção de
guerreiros.
Os heróis eram aqueles vaqueiros,
quilombolas, caboclos, camponeses pobres, índios e artesãos que sob a coragem
de lutar por um ideal desafiaram o poder provincial do país. Mas existem
mentiras em algumas páginas da história, porque quem a escreveu às vezes foi
quem torturou os mais fracos. Os papeis mostram que a insurreição começara em 13 de dezembro de 1838. Sabe-se que a
população do sertão maranhense já vinha sofrendo e se revoltando muito antes do
fato de Vila da Manga; houve na verdade várias balaiadas; muitas revoltas
contra as atrocidades dos fazendeiros, latifundiários, escravocratas que
herdaram a estrutura fundiária no interior do estado. O que foi a Balaiada? Uma
“insurreição”, “rebelião”, “revolução”, “sublevação”, “guerra civil”, “movimento
revolucionário”, “revolta” ...? Tudo isso ela foi. Foi na verdade a
insatisfação do povo humilde, dos analfabetos, das camadas mais pobres e
miseráveis do interior, atores que fizeram o movimento. A Balaiada foi uma
guerrilha camponesa, um levante que durou quatro anos de lutas entre nossos
irmão e as forças militares do império, indo de 1838 a 1842. Alguns tentaram
tirar proveitos dos corajosos rebeldes -, os “bem-te-vis”, que acovardaram-se e
no auge da radicalização da revolta caíram fora. Nossos heróis cravaram seus
nomes no imaginário popular, como o povo poderia esquecer de tamanho feito em
busca da liberdade e pela igualdade de direitos. Um salve aos nossos líderes
incansáveis que sonharam um dia, entre esses vultos o Raimundo Gomes, o Balaio,
o Negro Cosme e todos os outros que tombaram.
O sangue que regou o chão das chapadas
do sertão do leste maranhense ainda hoje clama por justiça nos esconderijos e
mocambos. Tentaram apagar os feitos que os verdadeiros heróis deixaram, o
legado de sonhos e esperança. O movimento teve como espaço o nosso sertão, as
veredas por onde ouve muitos combates marcaram as embocaduras do litoral, as
imediações do rio Parnaíba, do Itapecuru e do Munim, adentraram região do Baixo
Parnaíba afora penetrando nos atuais municípios de Barreirinhas, Tutóia,
Araioses, Brejo, São Bernardo, Buriti, Milagres do Maranhão, Chapadinha, Urbano
Santos, Vargem Grande, Nina Rodrigues, Icatu e Umberto de Campos. Muitas
pelejas, vestígios ainda restam em valas e boqueirões. Os rios estão lá para
contar o que passou.
Guerreiros balaios de ontem e de hoje,
os tempos se foram, as lutas continuam as mesmas. Os problemas de desumanidade,
de desacatos aos direitos humanos, de impactos ambientais que atinge os
camponeses e camponesas são os mesmos ou até piores do que os daquela época. O
chão é o mesmo, as comunidades também. As armas se transformaram, outras
continuam sendo os bacamartes e granadeiros de sempre. Aqueles heróis foram os
pioneiros que num grito de dor utilizaram da força do braço e do pensamento
para construir suas bandeiras em busca de respeito e dignidade. Esse capítulo
importante está gravado no panteão dos mártires e na “fumaça da carabina” que se perpetuou nos ventos da história.
José Antonio Basto
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