Por
Bettina Barros
Foco
de boa parte dos investimentos realizados para alavancar a produção de grãos no
país, o Matopiba está próximo do limite de sua capacidade de expansão. A
região, que atraiu nos últimos anos centenas de produtores rurais em busca de
terras baratas, tem hoje um estoque de área com aptidão para soja bastante
restrito: menos de três milhões de hectares.
A
constatação faz parte de um mapeamento inédito com o objetivo de identificar as
áreas mais aptas para a produção agrícola no Cerrado. O bioma tornou-se a “nova
fronteira” agrícola brasileira depois da exaustão de regiões rurais
consolidadas no Sul e Sudeste e das limitações ambientais para o plantio na
Amazônia.
Realizado
pela consultoria Agroicone, o estudo faz uma recomendação surpreendente: os
produtores devem evitar o Matopiba (confluência de Maranhão, Tocantins, Piauí e
o Oeste da Bahia) e priorizar investimentos nas áreas de Cerrado localizadas em
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais e até em São Paulo.
“A compra de
terras baratas em Matopiba foi um raciocínio equivocado do ruralismo de
fronteira, baseado no ganho patrimonial. Mas não tem tanta terra com aptidão
para soja. E a crise climática será pior ali que em Goiás, por exemplo”, diz
Arnaldo Carneiro Filho, diretor de Gestão Territorial Inteligente da Agroicone
e um dos autores de “A expansão da soja no Cerrado”. Sem pestanejar, ele
sentencia: “A expansão agrícola em Matopiba é certamente uma roubada”.
Segundo
os pesquisadores, há hoje no Cerrado ao menos 25,4 milhões de hectares – território
do tamanho do Paraná – de terras já antropizadas (alteradas pelo homem) e com
alta aptidão para a agricultura. A extensão mostra que é possível plantar sem
desmatar áreas nativas remanescentes, como defendem ambientalistas, governo e
já parte do agronegócio.
Mas
a maior parte dessa área de alta aptidão, ou 22,5 milhões de hectares, está
fora das delimitações geográficas do Matopiba. São pastagens espalhadas pelo
Brasil central. No Matopiba restam só 2,8 milhões de hectares de pastos com as
condições ideais similares para o plantio de grãos, levando-se em consideração
declividade e altitude de terrenos.
Olhando
por outro lado, há no Matopiba o dobro (6,4 milhões de hectares) de pastagens
com baixa aptidão à soja, um risco potencial de investimento para desavisados.
A
análise da Agrosatélite levantou dados georreferenciados sobre o
bioma, permitindo entender a dinâmica da ocupação e o uso do solo entre 2000 e
2014, período de grande avanço da soja na região.
Nesses
14 anos, o plantio de soja no Cerrado cresceu 87%, quase 70% em áreas já
ocupadas com outras culturas e pastagem. No Matopiba a soja se espraiou
sobretudo sobre a vegetação nativa: 780 mil hectares (68% da área semeada)
entre 2000 e 2007 e 1,3 milhão de hectares (62%) no período seguinte.
Se contabilizadas
as áreas de alta aptidão com vegetação nativa, o Matopiba ganharia 4,2 milhões
de hectares de capacidade de expansão de grãos, contra 8,3 milhões de hectares
no restante do Cerrado. “Mas não é preciso desmatar. Há pasto suficiente, com
aptidão, para converter a grão”, diz Carneiro.
A
delimitação da expansão da soja no Matopiba segundo a aptidão das áreas é um
vetor novo que embaralha o cenário preocupante de quem se posicionou na região.
Nenhum comentário:
Postar um comentário