Campos Lindos, Tocantins. Rio
Manoel Alves, afluente do rio Tocantins. Campos Lindos, o nome, faz pensar
muito antes da soja. Não havia controvérsias. Não havia tensões. Havia muita
água. Siqueira Campos, ex-governador,
destinou 100 mil hectares para 30 plantadores de soja. Nessa Chapada, havia um
Cerrado de estremecer os sentidos. Um Cerrado insubstituível. Quebrou-se cascas
e mais cascas de bacuri para saborear a polpa. Mordeu-se com desenvoltura os
pequis sem recear os espinhos que envolvem os caroços. Aos poucos 300 familias,
de um total de quase 400, mudaram-se para as periferias. A vizinhança (os
sojicultores) tirava o sono e a produção dos moradores que viam seus espaços se
reduzirem pelos desmatamentos e pelos agrotoxicos. Durma, sonhe e produza com
um barulho desses. Pelas contas, restaram 30 familias identificadas como
população tradicional em um estudo antropologico. A Associação dos Plantadores
de Soja dos Campos Lindos entrou com um pedido de reintegração de posse da área
onde vivem as 30 familias sob alegação de que elas se encontravam na área de
reserva legal dos plantios. Chegou-se a um acordo. Essas famílias permanecerão
nas suas posses sem que agreguem mais nenhuma pessoa a comunidade, ou seja,
pelo termo de ajustamento de conduta, o número de viventes continuará o mesmo
por toda a eternidade. Deve-se torcer, então, para que as famílias aguentem
firme e que construam em seus cotidianos formas de resistência pacifica ou não
à voracidade do agronegócio.
Mayron Régis
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