segunda-feira, 28 de novembro de 2016
Carta Aberta em defesa do Cerrado
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Nós, Camponeses(as), Agricultores(as) Familiares, Povos Indígenas, Quilombolas,
Geraizeiros(as), Fundos e Fechos de Pasto, Pescadores(as), Quebradeiras de Coco,
pastorais sociais, entidades da sociedade civil e apoiadores da Campanha Nacional em
Defesa do Cerrado, representantes de comunidades camponesas de Moçambique, e
ativista ambiental do Japão e organizações brasileiras que participam da Campanha Não
ao ProSavana, reunidos e reunidas no Seminário Nacional “MATOPIBA:
conflitos, resistências e novas dinâmicas de expansão do agronegócio no
Brasil”, em Brasília/DF, nos dias 16,17 e 18 de novembro de 2016, debatemos sobre a
destruição do Cerrado e as consequências e impactos para os Povos que aqui vivem.
O bioma Cerrado, também conhecido como o Berço das Águas, mantém três grandes
aquíferos (Guarani, Bambuí e Urucuia) e é responsável pela formação e alimentação de
grandes rios do continente, como São Francisco, Tocantins e Araguaia. Possui mais de
12.000 espécies de plantas catalogadas (30% ameaçadas de extinção); é o lar de metade
das aves e dos répteis do Brasil e possui mais de 200 espécies de mamíferos.
Historicamente os povos indígenas e comunidades tradicionais que habitam o Cerrado têm
desenvolvido estratégias de convivência em harmonia com a natureza, desempenhando o
papel de Guardiões dessa biodiversidade. Diante da importância desse patrimônio para
nossos povos e comunidades, manifestamos nossa indignação com o quadro atual de
propostas de expansão do agronegócio para o Cerrado.
Políticas, planos e projetos iniciados na década de 1970, contando com grande volume de
investimentos nacional e internacional, assumem no momento a denominação de Plano de
Desenvolvimento Agropecuário do MATOPIBA (PDA MATOPIBA). Instituído através do
Decreto nº 8447, esta proposta nada mais é que a manutenção da velha e contínua política
desenvolvimentista promotora de violências, de degradação ambiental, trabalho escravo e
desigualdades sociais e econômicas do campo brasileiro.
Cresce a pressão sobre as terras tradicionalmente ocupadas gerando um intenso processo
de grilagem e processo de especulação fundiária aumentando os conflitos de terra. Entre
2005 a 2014, do total de 11.338 localidades onde ocorreram conflitos no campo brasileiro,
39% aconteceram no Cerrado.
Nos últimos 10 anos os estados do Tocantins, Maranhão e Bahia figuram entre os estados
que forneceram o maior contingente de trabalhadores libertos e onde ocorreu a maior
incidência do trabalho escravo rural no Brasil.
Os depoimentos e denúncias das lideranças camponesas mostraram um processo
sistemático de violação de direitos humanos com a desterritorialização de comunidades,
desaparecimentos dos mananciais, poluição das fontes de água pelo uso abusivo de
agrotóxicos nos monocultivos, degradação e poluição do solo, extinção de árvores e frutos
nativos importantes na cultura alimentar da região – como pequi, buriti, bacuri e bacaba -,
agravando o quadro de insegurança alimentar das comunidades.
Da mesma forma, representantes dos movimentos camponesas de Moçambique
informaram que essa mesma lógica econômica baseada no modelo agroexportador
também está presente na África, através de investimentos do Brasil e do Japão no projeto
ProSavana, no Corredor de Nacala, desestruturando os modos de vida das comunidades.
Por isso, nós, participantes desse Seminário, manifestamos repúdio ao PDA MATOPIBA e
ao ProSavana, e afirmamos nosso posicionamento em defesa dos Povos do Cerrado
brasileiro e das comunidades camponesas do Corredor de Nacala em Moçambique, e
exigimos:
Reforma Agrária e regularização dos Territórios Indígenas, Quilombolas e das
Comunidades Tradicionais;
Políticas públicas que garantam o fortalecimento da agricultura familiar, baseado na
agroecologia, soberania alimentar e desenvolvimento territorial sustentável dos
Povos e Comunidades Tradicionais, na lógica das práticas tradicionais;
Aprovação da PEC 504/2010 que altera o § 4⁰ do artigo 225 da Constituição Federal
para incluir o Cerrado e a Caatinga entre os biomas considerados Patrimônio
Nacional;
Instituição da Moratória do Cerrado para coibir o avanço dos monocultivos do
agronegócio sobre as terras, territórios, águas e povos do Cerrado;
Cumprimento da Convenção 169 da OIT que estabelece o direito à consulta prévia,
livre e informada aos povos e comunidades tradicionais sobre o PDA MATOPIBA;
Respeito a soberania dos povos e ao princípio de solidariedade Sul-Sul para a
efetivação de um desenvolvimento que contemple a identidade e interesses das
comunidades camponesas do Corredor de Nacala;
Conclamamos a sociedade a se engajar na Campanha em Defesa do Cerrado – Berço das
Águas: Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida. Que se ponha um fim à agressão e destruição
deste bioma, o mais antigo do planeta. O Cerrado e seus Povos merecem cuidado e
respeito.
Participam da Campanha em Defesa do Cerrado: Associação União das Aldeias Apinajés/PEMPXÀ –
ActionAid Brasil – CNBB/Pastorais Sociais – Agência 10envolvimento – APA/TO – ANQ - AATR/BA –
ABRA – APIB – CPT – CONTAG – CIMI – CUT/GO – CPP – Cáritas Brasileira – CEBI – CESE – CEDAC –
Coletivo de Fundos e Fechos de Pasto do Oeste da Bahia – Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra do
DF – CONAQ – FASE – FBSSAN – FETAET - FETAEMA – CONTRAF-BRASIL/FETRAF – Gwatá/UEG –
IBRACE – ISPN – MJD – MIQCB – MPP – MMC – MPA – MST – MAB - MOPIC – SPM – Rede Cerrado –
Redessan – Rede Social de Direitos Humanos – Rede de Agroecologia do Maranhão – TIJUPA – Via
Campesina – FIAN Brasil.
Brasília, 18 de novembro de 2016.
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