Instituições do agronegócio do Brasil e
da região do MATOPIBA reagiram veementemente à divulgação maldosa e
tendenciosa de um “estudo”, dando esta região como inviável para a
expansão agrícola, feito por uma empresa paulista de consultoria.
Nesta quinta-feira, 25, a Associação
Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja-Brasil), emitiu nota
assinada pelo presidente da instituição, Marcos Rosa, repudiando a
divulgação desse “estudo” e pedindo publicação de direito de resposta no
prazo de 24 horas.
Conforme a nota, as informações
noticiadas “são infundadas, pois a consultoria utilizou apenas dados da
produção agrícola dos últimos quatro anos, que foi comprometida em
função das adversidades climáticas provocada pelo fenômeno El Ninõ.
Dessa forma, os números apresentados não condizem com a realidade da
região”.
Ainda conforme a nota da Aprosoja
Brasil, a expansão da fronteira agrícola na região foi iniciada na
década de 1980 e intensificada nos últimos 15 anos, segundo dados da
CONAB (Série Histórica, 2016). Pode-se observar que no período de 2001 a
2012 a área de plantio na região expandiu em 228% e sua produção
aumentou em 500% no mesmo período.
– Diante do exposto, em razão do
equívoco de informações que poderá prejudicar os associados desta
entidade, a Aprosoja Brasil, nos termos do art. 5º, V, da Constituição
Federal e da Lei 13.188/2015, requer que, no prazo de 24 (vinte e quatro
horas), seja publicado seu direito de resposta, de modo proporcional e
gratuito, com as informações retro mencionadas, sob pena da adoção das
medidas judiciais cabíveis, inclusive indenização por dano material,
moral e à imagem – conclui a nota.
Piaui
Também nesta quinta-feira, 24, a
Associação dos Produtores de Soja do Estado do Piauí (Aprosoja/PI),
emitiu nota de repúdio a referida Consultoria e ao jornal “Valor”.
Na nota, assinada por seu presidente,
Altair Domingos Fianco, a instituição diz que “além de preconceituosa
por não considerar as especificidades de cada região, inclusive dentro
do próprio MATOPIBA (que aqui abreviaremos em letras maiúsculas), tem um
intuito claro de desviar os possíveis investimentos para outras regiões
num momento de escassez de recursos”
Para a Aprosoja/PI, conforme manifesta
nesta nota, “expressar através de uma consultoria (Agroícone) que os
produtores devem evitar o MATOPIBA e priorizar os investimentos em áreas
do Cerrado das regiões Centro-Oeste e Sudeste soa, no mínimo,
tendencioso, uma vez que, apesar de ser denominada como “fronteira
agrícola”, por apresentar sim elevado potencial de expansão, vem se
consolidando como importante região produtora do país a pelo menos duas
décadas”.
– No nosso Estado, conhecemos nossas
particularidades, temos ciência de como produzirmos alimentos mesmo
tratando-se de uma área de transição climática e de biomas, porém
estratégica para o desenvolvimento – diz a nota.
O manifesto continua afirmando que,
“aliás, falar em crise climática e citar que esta será pior no
MATOPIBA, é apenas demonstrar que é mais fácil e cômodo observar os
acontecimentos recentes do que avaliar as questões técnicas as quais
todos os municípios inseridos nas microrregiões produtoras de cada um
dos Estados que compõem esta área, estão submetidos para produzir”.
– É desconsiderar que estes municípios
possuem Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) indicando as
melhores épocas de semeadura. Hoje, para um município estar apto ao
cultivo de uma determinada espécie, o mesmo deve apresentar 80% de
sucesso no atendimento de um valor mínimo da demanda hídrica, com base
na análise de séries históricas de dados meteorológicos (precipitação
pluviométrica) de, no mínimo, 15 anos – aponta.
Ainda conforme a Aprosoja/PI, “entender
os conceitos e definições de variabilidade espacial e temporal,
probabilidade e período de retorno dos eventos e variáveis
meteorológicas é muito mais complexo do que afirmar que “ ‘a cada 5
safras 3 quebram’”.
– No Piauí, as microrregiões de Alto
Parnaíba Piauiense, Alto Médio Gurguéia e Chapadas do Extremo Sul
Piauiense – incluídas na delimitação do MATOPIBA, abrangem uma área
total de 8.204.588 ha (33 municípios), representando 11% deste
Território. Destes, aproximadamente 2.332.766 ha de terras são formadas
por planaltos com predomínio de vegetação do bioma Cerrado, topografia
favorável e altamente mecanizáveis, o que os tornam de elevado potencial
produtivo em condições de agricultura de sequeiro, sendo, hoje, apenas
cerca de 900.000 ha antropizados – informa a nota.
Ainda nos seus argumentos, a
Aprosoja/PI, considera que essas microrregiões “possuem uma infinidade
de planícies onde a vegetação se caracteriza pela transição (espécies do
cerrado e da caatinga), preferidas pela pecuária – áreas de pastagens,
bem como, para a agricultura irrigada pela elevada disponibilidade de
água subterrânea”.
– Hoje, são dois cenários de áreas
distintas que não competem entre si. Assim, a matéria é equívoca, mais
uma vez, por tratar apenas das áreas de pecuária tradicional como de
potencialidade para a expansão da fronteira agrícola, em especial no
estado do Piauí. Além disto, potencial produtivo e diversificação
espacial devem andar juntas, e não separadas! Não deixaremos de
acreditar neste Estado e nem que tratem nossas atividades agroeconômicas
e os investimentos futuros como uma “roubada”, uma vez que, este
Estado, em 1996, inseriu-se no cenário brasileiro do agronegócio
cultivando apenas 9.585 ha e uma produção de 22.476 toneladas de soja e
que, em 2015, chegou a marca de 666.718 ha e uma produção de 1.772.722
toneladas; o que mudou as condições socioeconômicas desta região –
pontuou.
Maranhão
Deste Estado, cuja parte de sua região
sul integra o MATOPIBA, a superintendente da Fundação de Apoio a
Pesquisa no Corredor Norte de Exportação (Fapcen), Engenheira Agrônoma
Gisela Introvini se manifestou por meio de entrevista ao site Notícias
Agrícolas.
A Executiva, que está na região sul do
Maranhão há quase 30 anos, quase 20 dos quais superintendendo a Fapcen,
contestou a pesquisa e recordou que muitos pesquisadores, a exemplo de
Evaristo de Miranda, da Embrapa Monitoramento por Satélite, pesquisaram
detalhadamente todo a região, “visualizando a capacidade de
desenvolvimento da região.
– Tudo é questão de ciclo e um estudo
não pode ser baseado apenas nas três últimas safras. Neste ano, a região
já trabalha com otimismo e, com a safra plantada, os produtores esperam
por uma superssafra, diferente do ocorrido nos anos anteriores – disse.
Introvini apontou ainda que o primeiro
desafio na região foi o desenvolvimento da genética da soja, onde a
Embrapa teve participação importante no processo, criando uma cultivar
adaptada para as baixas altitudes, “que revolucionou o Cerrado
brasileiro”.
– A partir de 2008, a região se
transformou. Foram permitidas cultivares de ciclo precoce que deixaram
mais palha no solo e algumas propriedades se tornaram modelo em nível
internacional, com alguns perfis de solo simulando uma “floresta
invertida” – lembrou.
Ela criticou a ausência de pesquisadores em campo para chegar a conclusão que esse “estudo” chegou.
– Uma reportagem desastrosa como essa pode interferir e matar uma região. E isso nós não podemos admitir – disse.
Ela também acrescentou que a única
observação procedente é de que não é possível avançar para as áreas do
semiárido da Bahia e do Piauí, mas que ainda há muito potencial agrícola
no sul do Maranhão que ainda não foi aproveitado.
Sobre a evolução do Sistema de Plantio
Direto na região do MATOPIBA, Introvini atribuiu a fatores como a
introdução das braquiárias.
– A Embrapa está para lançar o gado
tropical, o que é muito interessante para as nossas regiões – conta,
acrescentando: – Precisamos de pesquisas direcionadas para esses
avanços.
Ainda de acordo com a Superintendente
da Fapcen a cultura da soja poderá trazer transformação de renda e de
empregos para estas áreas, criando um novo cenário que ainda deve ser
desbravado no Estado.
Sobre isto ela lembrou que a gestão
anterior do Ministério da Agricultura tinha planos para essa expansão.
Disse esperar que o atual ministro, Blairo Maggi, dê continuidade a
esses planos.
– A Bahia já está resolvida neste caso, mas o Piauí e o Maranhão, ainda não – afirmou.
Ainda na sua entrevista ao Notícias Agrícolas, Introvini, tratou da questão da logística na região.
-A partir do ponto em que existir uma
estrada [melhor, em relação às atuais] irá fomentar outros nichos
interessantes, o que vai ser bom para todo mundo, ajudar tanto os
grandes [produtores] quanto os pequenos – frisou.
Outro gargalo tratado por ele é a
questão do escoamento da produção para mercados externos via marítima,
que não região é atendido pelo Porto de Itaqui, em São Luís (MA).
Conforme lembrou, existe um problema logístico por conta da situação
das estradas, o que faz o frete ficar mais alto da propriedade até o
transbordo. Por outro lado, a região é facilitada para exportar à Europa
e também para a China, por meio do Canal do Panamá.
O MATOPIBA, continuou a Superintendente
tem 73 milhões de hectares disponíveis, sendo que 35 milhões de
hectares já estão aptos e 11 milhões de hectares estão destinados para a
preservação.
Ela chamou a atenção ainda para o
grande potencial dos rios, a partir dos quais poderia ser feito um
estudo sobre sua perenização e, assim, manter o lençol freático, ter
reserva de águas de chuva e outros fatores que poderiam vir, de alguma
forma, minimizar os efeitos da seca em determinados locais.
A região já atrai o interesse de
investimentos estrangeiros, uma vez que a Europa compra créditos de soja
responsável, resultado de uma parceria com a Associação Internacional
de Soja Responsável (RTRS). Falta, agora, uma maior atenção para que a
região se desenvolva por completo.
– Aqui é desafiador e você vê uma mudança de cenário a todo o momento – conta Gisela.
Bahia
Do oeste da Bahia, a maior região
produtora em todo o MATOPIBA, o presidente da Associação de Agricultores
e Irrigantes da Bahia (Aiba), Julio Cézar Busatto, além de, a pedido de
Cerrado Rural Agronegócios, emitir nota de repúdio, em
nome de seus associados, contra o tal “estudo” divulgado por “Valor” e
revista “Portos e Navios”, concedeu entrevista ao Notícias Agrícolas
sobre o assunto.
– Foi uma surpresa muito grande essa
matéria, pois a empresa responsável (pela pesquisa) não conhece a
região e com certeza está usando uma base de dados que não está correta –
disse.
Ainda conforme ele, “é preciso
considerar que nos últimos cinco anos sofremos com a influência do El
Niño, assim como aconteceu no final da década de 1950”.
– Situação que foi agravada na safra
passada e resultou em perdas. Ainda assim, em áreas consolidadas ainda
tivemos uma produtividade próxima de 50 sacas de soja por hectare –
destacou Busatto.
Ele aproveitou para informar que
“somente no caso da soja, a Bahia deverá cultivar entre 1,5 milhão a 1,6
milhão de hectares nesta temporada, conforme dados levantados pela
Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Com isso, a produção da
oleaginosa deverá ficar entre 4,6 milhões a 4,7 milhões de toneladas na
safra 2016/17.
– Há 30 anos não plantávamos nada nas
áreas de Cerrado no Estado e hoje, nosso cultivo é de 2,2 milhões de
hectares nessa área. Somos responsáveis por 4% de que o Brasil produz em
grãos e fibras, mas também sabemos que o negócio é um risco e
precisamos de um seguro agrícola eficiente. Uma saída para que o
agricultor não banque a produção brasileira a custo das suas terras –
reforçou Busatto.
Além disso, ao Notícias Agrícolas, o
presidente da Aiba destacou que no oeste da Bahia há um potencial de
irrigação para mais de 500 mil hectares.
– Para essa safra, a orientação é diminuir o investimento em áreas novas devido aos riscos e aumentar a irrigação – diz.
Entretanto, ainda serão necessários
mais três anos para que haja recuperação na rentabilidade dos produtores
da região, ainda conforme acredita Busato.
– Estamos mais otimistas com essa
safra, finalizamos o plantio da soja e as chuvas parecem que voltaram ao
normal. No ano passado, estávamos amargando um replantio ao redor de 8%
na área. Precisamos capitalizar os produtores e avançar no crescimento –
finalizou.
Embrapa
Não obstante ser a responsável pelas
pesquisas e estudos que apontaram para a viabilidade dos cerrados do
Norte e Nordeste do Brasil para a agricultura e pela
institucionalização da região do MATOPIBA, a estatal brasileira de
pesquisas ainda, mesmo que convidada por este site, ainda não se
manifestou de forma mais aprofundada. Limitou-se apenas a emitir uma
nota superficial contestando o tal “estudo”.
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