terça-feira, 29 de novembro de 2016

As palavras do índio Apinajé em defesa do seu território sagrado - (Seminário Nacional “MATOPIBA: conflitos, resistências e novas dinâmicas de expansão do agronegócio no Brasil” – Brasília, novembro de 2016)


José Antonio Basto e Antonio Apinajé - (CONTAG - Brasília-DF)
Antonio Apinajé é o nome dessa personalidade das florestas do Tocantins. Um homem inteligente, intelectual e, sobretudo informado das notícias que rondam o mundo, com seu rádio, sua TV, seus livros e jornais. Ele fazia sua fala no início do Seminário Nacional “MATOPIBA: conflitos, resistências e novas dinâmicas de expansão do agronegócio no Brasil” – realizado de 16 a 18/11/2016, na sede da CONTAG em Brasília-DF. Transcrevia sobre uma “abordagem histórica das ameaças e impactos ambientais sobre as comunidades tradicionais”. O MATOPIBA seria o ponto principal de sua indignação; um programa de autos investimentos estrangeiros e nacionais que visa ocupar a região do cerrado brasileiro com suporte no avanço incontrolável do capitalismo sobre o campo, sobretudo as especulação e espoliação de terras que são por direito dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Mas essa política não é coisas dos dias atuais, o cerrado já tinha sido visado por programas do capital estrangeiro desde a década de setenta. Governos passados pretendiam a ocupação desse território, a exemplo do PRODECER – (Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para o Desenvolvimento dos Cerrados), assinado entre o Brasil e o Japão. O programa durou por mais de 35 anos. Hoje o cerrado, conhecido como berço das águas, onde se encontram cabeceiras dos principais rios brasileiros, estar sendo devastado pelo agronegócio e criação de gado. Esse espaço cultural deve ser protegido pelos povos que tiram sua alimentação da terra e das águas, precisam do cerrado para se reproduzir cultural e socialmente, segundo dados de algumas pesquisas de universidades e do movimento social afirmam que: 52% deste bioma já foi destruído, 62 litros de agrotóxicos são consumidos por ano pelas pessoas no Mato Grosso, 901 espécies da fauna e flora estão ameaçadas de extinção, o agronegócio expulsa os povos e comunidades tradicionais protetores da biodiversidade do cerrado, 6 bacias hidrográficas brasileiras são abastecidas pelas águas do cerrado, 80 etnias indígenas estão na região do cerrado. Esses são alguns índices que marcam a grande problemática das mudanças socioambientais no cerrado; sem a preservação desse bioma não teremos chuva para abastecer nossos rios, água para beber e lavar, nem alimentos da agricultura familiar em nossas mesas. O Seminário foi encabeçado pela Campanha nacional: Sem cerrado, sem água, sem vida. Durante o evento cheguei a conversar com o Antonio Apinajé, ele contara sobre sua experiência vivida na aldeia Areia Branca – município de Tocantinópolis –TO, suas crenças e modos de vida. Contara como nasceu seu povo apinajé há milhares de anos atrás: duas cabaças fora jogada no rio Tocantins e dali nascia o homem e a mulher, procriaram e deram frutos para a grande nação Apinajé que cresceu nas margens do Rio na região do Bico do Papagaio.  O sábio índio Apinajé informava que das 26 aldeias que compõem a reserva, uma das mais antigas e importante é a sua, a Areia Branca. Falava com gosto e convicção, muito participou das intervenções durante os três dias de seminário. Em todos os momentos, naturalmente ele compartilhava frações de sua sabedoria nata, os participantes silenciavam durante sua voz, ficávamos impressionados com tamanho grau de pura sabedoria. “Não somente sobre a vida indígena, mas também um lado politizado e informado – tanto no cenário nacional quanto internacional – que atropelaria o discurso cansado de qualquer intelectual de sala de aula”. “Não impressiona que um índio seja tão inteligente, pois pensar isso seria colocá-lo como um inferior o que realmente não é”, pois ainda temos muito que aprender com os indígenas, com os povos e comunidades que residem nesses territórios. “É de uma grandeza natural a inteligência do homem por si só, seja índio ou não”. Eis aí um grande clichê completamente desmantelado: a mídia e outros setores que tentam bagunçar a luta dos povos, sustenta o discurso intolerante de que o índio só sabe dos segredos da natureza”. Uma grande desinformação! A partir do contato com Antonio Apinajé e outras lideranças durante o seminário, índios e quilombolas -, percebi que a preocupação em estudar, buscar novos conhecimentos, manter-se atualizado e ligado nas mobilizações sociais que acontecem reserva e quilombo afora é de boa parte deles e delas. Como bem disse um deles, durante uma das nossas conversas, “eu cursei a universidade da vida, do cabo da enxada”, em outro momento, lista os inúmeros livros que leu ultimamente. As comunidades tradicionais que entre aspas são protegidas por lei, ainda tem muito que lutar pelos seus direitos. Algumas pequenas conquistas foram esquecidas pelos governos e ainda mais agora nesse momento de transformação política. A terra como instrumento de capital e poder, em especial tratando sobre o cerrado, hoje em dia passa por um processo de recolonizarão, desrespeito e desacatos aos direitos humanos. Existe um desafio para as Aldeias Apinajé, que é manter suas formas de vida tradicional em meio ao grande crescimento dos vários problemas em suas áreas que vai da grilagem de terras por parte de fazendeiros ao avanço do agronegócio por empresas desconhecidas.
José Antonio Basto
Militante em Defesa dos Direitos Humanos e da Vida
E-mail: bastosandero65@gmail.com
(98) 98607-6807

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