Daniela Torezzan / ICV
Em artigo publicado nesta sexta-feira (23) na revista Science,
pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos reforçam a importância da
manutenção da moratória da soja como instrumento capaz de conter o
desmatamento na Amazônia. Eles defendem ainda ajustes para abranger
desmatamentos menores e a extensão da moratória para o Cerrado.
As análises apresentadas no artigo
mostram a eficácia da moratória na redução do desmatamento vinculado à
soja na Amazônia, incluindo uma comparação com o Cerrado, onde a medida
não foi adotada e o desmatamento para plantio do grão continuou. Mostram
também alguns pontos fracos, como o fato de o monitoramento abranger
somente áreas maiores que 25 hectares e não cobrir assentamentos da
reforma agrária.
Além disso, os pesquisadores avaliaram a
situação e perspectivas de curto prazo de implementação do Código
Florestal e concluíram que as medidas previstas não são suficientes para
impedir o ressurgimento de novos desmatamentos para cultivo da soja.
Segundo o artigo, o bioma amazônico tem
14,2 milhões de hectares de floresta tropical não protegida com
condições adequadas para o plantio de soja, e até dois milhões desses
hectares poderiam ser desmatados legalmente, de acordo com o Código
Florestal. “Sem a moratória, essas florestas estariam vulneráveis a
ocupação pela soja”, diz trecho do artigo publicado na Science.
Para Laurent Micol, coordenador
executivo do Instituto Centro de Vida (ICV) e um dos coautores da
pesquisa, essa discussão acontece num momento importante em que grandes
empresas multinacionais têm assumido o compromisso pelo desmatamento
zero. “Não podemos retroceder em uma ação que está dando certo. É
fundamental estender a moratória ou substituí-la por algo com uma
eficácia igual ou maior, e também incluir o Cerrado para garantir que
não haja desmatamento na cadeia produtiva da soja”, reforçou.
A Moratória da Soja é um acordo
voluntário firmado entre governo, indústria e sociedade civil, em vigor
desde 2006 com prazo de término previsto para maio de 2016, pelo qual as
grandes empresas comercializadoras de soja se comprometem a não comprar
grãos produzidos em áreas de novos desmatamentos na Amazônia. Para
isso, as plantações são monitoradas por satélites e a soja proveniente
de desmatamento não encontra mercado consumidor.
O artigo científico é assinado por dez
pesquisadores, incluindo três de instituições brasileiras: Britaldo
Soares Filho, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Paulo
Barreto, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), e
Laurent Micol, do Instituto Centro de Vida (ICV). A primeira autora é
Holly Gibbs, da Universidade de Wisconsin, nos EUA.
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