segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

CHAPADA DO MEIO, URBANO SANTOS - BAIXO PARNAIBA



Quando eu era menino caçava murici vermelho na “chapada do meio” -, próxima a sede de Urbano Santos, no baixo Parnaíba. A chapada escorrega suas fronteiras e limita com os povoados Porto Velho I e II, Escuta e Riacho Seco. Pássaros como cacurutas, pipira-preta e bem-te-vis da mata alegravam o imenso campo repleto ainda de bacuris, pequis e pitomba de leite. Por lá se encontra um cemitério antigo que concentra os restos mortais de pessoas que moravam nas redondezas e sobreviviam da caça e do extrativismo.
A chapada do meio já está possivelmente visada por grupos de gaúchos que estão nas proximidades plantando soja e assassinando animais nas comunidades. Os povoados citados pertencem a pequenos lavradores que herdaram de seus familiares que não venderam suas terras para o agronegócio destruir. O gado pasta livremente comendo o capim e juquira dando vez para carcarás catar os carrapatos em suas costas. Agora poucos dias atrás bateu uma saudade de visitar a chapada e fazer algumas fotos da paisagem. Saí cedinho de casa neste domingo passado, 11/01, para visitá-la, muita coisa mudou, percebe-se como em quase todas as chapadas o problema do fogo que a vaqueirada ateia na pastagem para novos brotos. Sai pelas veredas velhas que só restam rastros de porco e gado, “desci pela grota que desemboca nos currais antigos dos tabocais” e voltei para casa novamente pela mesma trilha. Os campos estão diferentes mas intactos como antes, desconfiança, talvez! Parte da chapada do meio foi cercada ainda na década de 80 pela Empresa Florestal LTDA, no mesmo período em que sua sede foi instalada. O campo grande de futebol que ficava no inicio, hoje já faz parte do Bairro São José pelo avanço das mudanças estruturais das famílias que construíram suas casas vindo do interior. A chapada do meio precisa de proteção, não apenas ela, mas todo nosso bioma cerrado do Baixo Parnaíba Maranhense. A Suzano e os gaúchos vieram para mudar nossas tradições e nosso modo de produção como agricultores familiares, mas eles não são daqui e sabemos trabalhar com consciência, essas terras já tem donos -, os camponeses que vivem há séculos tiram seus sustentos, criando... recriando e protegendo com respeito. Nasce na chapada do meio a cabeceira do “riacho braço do boa hora” -, que infelizmente  já secou há muito tempo possivelmente causado pela devastação do bioma e plantio de monocultivos. Precisa-se dá um basta nessa questão, não nos alimentamos de soja nem de eucalipto, muito menos de veneno e agrotóxicos; ingerimos alimentos da agricultura familiar para nossa saúde como arroz, feijão, farinha, abóbora, melancia e fava. Os trabalhadores rurais lutam ainda pelo tão sonhado “PROJETO ALTERNATIVO DE DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL”, para assim poder desenvolver a Reforma Agrária e a nossa luta em defesa dos direitos humanos e da vida no BAIXO PARNAIBA.
Os encontros e desencontros da chapada do meio nos faz refletir sobre a carência de projetos alternativos de proteção do meio ambiente em nossa região e a luta da natureza em meio à grande problemática do impacto ambiental e transformações das populações tradicionais. Muitos jovens no futuro talvez não verão as belezas de nossas chapadas, isso não é baixo-astral, nem mesmo pessimismo... mas é a realidade em que estamos vivendo no momento, no real. Queremos a chapada em pé e não cortada de motor-serra e queimada pelo fogo do capitalismo neoliberal! Que um outro mundo seja possível, se a humanidade conscientizar-se que ela mesma está se destruindo. Viva a chapada do meio como todas as chapadas! Esse pedaço do mundo em Urbano Santos, no leste maranhense.

 (JOSÉ ANTONIO BASTO)
-Militante dos Direitos Humanos / Baixo Parnaíba-MA.
(email: bastosandero65@gmailcom)

(98) 98890-4162

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