sábado, 23 de abril de 2011

Saúde da População Negra: Estudo Preliminar da Hipertensão Arterial na Comunidade Negra Rural Quilombola Santa Cruz-Buriti/MA



Luiz Alves Ferreira 1, 7 (luiz_brejo@yahoo.com.br), Rosilda Silva Dias 2, Tâmara Rúbia Coutinho 2, Hugo Leandro Araújo Moraes 2, Maria Eliana Alves Lima 4, Luciana Karla Almeida Rabelo 4, Luciana Brandão Ferreira 3, 5 e Kélcia Alexandra Taylor de Carvalho 6

(1. Depto. de Patologia, Universidade Federal do Maranhão - UFMA; 2. Depto. de Enfermagem - UFMA; 3. Curso de Administração, Universidade Estadual do Maranhão - UEMA; 4. Mestrado em Saúde e Ambiente - UFMA; 5. Depto. de Hotelaria - UFMA; 6. Curso de Especialização em Metodologia do Ensino Superior - CEMES, UFMA; 7. Centro de Cultura Negra do Maranhão - CCN-MA)

INTRODUÇÃO:
A Comunidade Negra Quilombola Rural Santa Cruz localiza-se no Município de Buriti-MA, há mais de duzentos anos na região de cerrado do Baixo Parnaíba. A população vive da agricultura familiar de subsistência (plantio de arroz, milho e mandioca, do extrativismo das palmeiras de babaçu e buriti, dos frutos do bacuri e piqui) como complementação alimentar. Na comunidade não há água potável, saneamento ambiental e sanitário. O abastecimento se dá através da água do Riacho Santa Cruz que passa em várias localidades e desemboca no rio Parnaíba, na Lagoa do Escalvado. Este riacho surge de três nascentes na zona de preservação ambiental e sofre o impacto do desmatamento, do uso de agrotóxico para plantio da soja. A hipertensão arterial é doença que afeta mais de 20% da população mundial. No Brasil é um problema de saúde pública, afetando mais de 25 milhões de pessoa, sendo considerada como doença por razões étnicas, na população brasileira afro-descendente pelo Ministério da Saúde. Cerca de 75% da população maranhense são de afro-descendentes e vivem em comunidades rurais quilombolas e aglomerados urbanos, nas periferias das cidades.

METODOLOGIA:
Baseou-se inicialmente em estudos realizados na comunidade para medir a pressão arterial e observar as condições de moradia e trabalho. Foi perguntado às pessoas sobre a hipertensão, seguido da medição da pressão arterial de cada uma das 116 pessoas com idade entre 12 e 86 anos. Constituídos de crianças, adultos e idosos, destes, 35 são do sexo feminino e 81 do sexo masculino. Foram utilizados equipamentos calibrados, a técnica auscultatória registrada nos braços direito e esquerdo de cada pessoa, sentada, através do esfigmomanômetro aneróide e estetoscópio. As medidas de pressão foram feitas nas residências das pessoas, orientando que não se alimentassem 30 minutos antes, assim como evitar fumo, bebidas alcoólicas e esforço físico.

RESULTADOS:
Em uma população de cerca de 420 pessoas da comunidade, foram observados nas pessoas examinadas, que os níveis pressóricos variaram de 18 x 10mmHg a 10 x 6mmHg. Constatou-se que algumas das pessoas cadastradas no Programa de Hipertensão do Município vêm sendo medicadas com Captopril. Das moradias 99% são casas cobertas de palhas de palmeira do babaçu, incluindo paredes e coberturas, algumas de taipa e sem água tratada, sem fossa e sem energia elétrica. Das pessoas examinadas uma a uma, 38% apresentaram hipertensão arterial, foi utilizado, como parâmetro, as medidas de 14 x 9mmHg e 12 x 8mmHg; e 12 pacientes apresentaram pressão no limite recomendado pela OMS, alguns eram jovens.

CONCLUSÕES:
Os dados preliminares demonstram que não tem saneamento básico, ambiental, abastecimento de água potável e nem esgotamento sanitário. O abastecimento é feito em riachos, córregos, poços, fontes e cacimbas. A terra não se encontra titulada. Os trabalhos na roça são feitos por homens, mulheres e crianças. A vegetação predominante é de cerrado. As condições ambientais de vida são precárias. Presença de desmatamento para a agricultura mecanizada próximo ao território quilombola e uso de agrotóxicos por colonos da região sul/sudeste, contaminação dos mananciais de água, onde a comunidade se abastece. Dos 116 examinados, a hipertensão arterial está presente em 38%, sendo um grave problema de saúde pública. Tem posto de saúde na comunidade, não têm profissionais de saúde. Estresse em pessoas da comunidade. Descontinuidade e irregularidades do programa de hipertensão, distribuição da medicação. Informação inadequada à população sobre a gravidade da doença. Melhorar acesso ao Sistema Único de Saúde às medidas de prevenção, tratamento e controle da doença. Reavaliar o Programa de Saúde da Família, considerando a Saúde da População Negra no contexto geral do SUS. O presente trabalho encontra-se em andamento.

Trabalho de Iniciação Científica

Palavras-chave:  Saúde da População Negra; Hipertensão Arterial; Afro-descendentes.

Anais da 57ª Reunião Anual da SBPC - Fortaleza, CE - Julho/2005

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