Procuraram sobre a comunidade de Santa Cruz, município de Buriti de Inácia Vaz, Baixo Parnaiba maranhense, para o seu Loura, morador do povoado de São Raimundo, município de Brejo, e ele decantou algo singular para uma comunidade negra do Baixo Parnaíba : “Eles estão ricos”. Como quase tudo no Baixo Parnaíba maranhense, uma simples revelação colide com uma perspectiva de existência que se imortalizou entre trechos de piçarra e de areal sem que, contudo, ninguém ousasse romper com essa pretensa imortalidade a toda prova.
Pela conversa do seu Loura, os moradores de Santa Cruz nadavam em dinheiro como só tio Patinhas sabia fazer em sua caixa-forte. Para algumas comunidades do Baixo Parnaíba, a riqueza se traduz em cabeças de gado e cercas de arame farpado. Ele salteou um pouco o propósito do “eles estão ricos”: “Compraram gado e cercaram com arame a propriedade toda”.
Em seus relatórios, o Incra discrimina a comunidade em 2.342 hectares de terra entre os municípios de Buriti de Inácia Vaz e Brejo, à beira do rio Parnaiba. Fica a dúvida para um pobre mortal se a comunidade de Santa Cruz é um assentamento federal ou se é uma comunidade quilombola.
Em determinado momento da história, o Incra felicitou a comunidade com o epíteto assentamento como aconteceu em muitos outros casos que condizem mais com o aspecto quilombola da questão agrária no Brasil. Aparentemente, dessa forma, evitar-se-ia maiores dissabores para comunidades que o judiciário despejaria sem pestanejar duas vezes, bastando que o proprietário requeresse a reintegração de posse.
A área entre Buriti e Brejo, uma parte bacia do rio Buriti e outra parte bacia do rio Parnaíba, enrouquece com várias comunidades tradicionais, nas quais, inúmeras refletem a questão quilombola na região. O seu Loura batiza a história de Santa Cruz a partir da família do antigo proprietário e do seu sobrado de mais de trezentas janelas. Com a morte dos varões da família, sendo que a sepultura do patriarca se encontra aos pés do sobrado, a ala feminina preferiu a urbanidade em Brejo e em Parnaiba, município do estado do Piaui. O seu Loura presenciou o desenredar dessa família e presencia mais coisas até hoje.
A figura do seu Loura permanece, em São Raimundo e nas suas histórias contadas a partir de um devido lugar, como um marco vivo da classe dos pequenos e médios proprietários rurais do Baixo Parnaiba maranhense. Entrementes o percentual de prestigio em que essas classes somavam lucros e dívidas, debaixo da ponta de um lápis ou de uma caneta, outro percentual de prestigio enchia o papo da galinha de grão em grão da soja.
As classes dos pequenos e médios proprietários rurais no Baixo Parnaiba maranhense alternam, ao longo da sua história, posturas, práticas e discursos que, em seus melhores momentos, propõe um igualitarismo social e econômico como resposta para os clamores da sociedade como um todo e que, em seus piores momentos, aderem sem nenhuma crise de consciência ao projeto de reconforto material e social praticado pela classe dos grandes proprietários em detrimento ao desconforto material e social a que se submete a maior parte da sociedade.
A propriedade do seu Loura se alastra por cinqüenta hectares de Chapada. Em sucessivas ofertas feitas pelos “gaúchos”, ele se pronunciou pela recusa das ofertas que querem parecer ofertas irrecusáveis, mas que, simplesmente, soam ridículas.
Mayron Régis
Esses "gaúchos", segundo soube, são verdadeiros PREDADORES.Estão acabando com a FLORA e FAUNA, por onde passam "semeando" soja. Além do mais,aproveitando a ignorância da maioria de pequenos proprietarios de terra, adquirem suas propriedaes por preços aviltantes.Aqueles, antes proprietários, agora não passam de párias trabalhando como peões,recebendo,também um salário aviltante.
ResponderExcluirE parodiando Cícero - senador romano - diremos: Até quando "gaúchos", seguirás explorando nossa humilde gente!"