O vento passava pelos
bacurizeiros e pequizeiros, com sua força balançava os galhos das pitombeiras e
candeias. A areia espalhava-se com esse forte vento levando as formigas
saubeiras que ali trabalhavam incansavelmente em suas tocas;naquele ato formavam-se
palavras e frases conduzidas pelos braços das árvores, essas mãos traçavam
histórias passadas, contos do presente e do futuro. Quando era dia a chapada
falava sobre o grunhido das unhas-de-gato, cachorrinhos e juritis cantavam ao
longe e quando era noite ela adormecia com as cantigas do caburés, tudo parado,
só se ouvia o roncado das palmeiras e dos buritizeiros nos brejais.
Ela sabia de tantas
coisas que jamais esquecera de cada detalhe em suas narrações. Dissertava
linhas sobre sua formação natural na geografia donde estava localizada a região
e o território, recordou de quando a fauna e a flora era tão diferente na época
dos tremembés, sem disputas, sem jogo... sem destruição da biodiversidade...
naqueleperíodo tinha muita água, lagoas e grotiões falavam das fortes chuvas e
de outros fenômenos, os dias e as noites mudaram velozmente, sendo que muitas
coisas também seguiram um outro ciclo.As páginas perderam suas cores e vulgarizaram-se,
a tinta já não mais celebrava a aquarela da vida, em telas de cânticos e
recantos. O pensamento parou e se esgotou porque não havia mais conteúdo para
seguir avante. Mesmo assim ela não deixou de produzirsobre o chão, aperfeiçoou sua
técnica e a arte natural de sua própria arte de criação divina.
Aquela chapada sonhou
que certa vez as pessoas morreriam de fome e de sede,pois tudo que os humanos
necessitam como fonte de alimentação e respiração seria em verdade fornecido
por seu espaço natural: os pomares, as águas... a terra. A inconsciência dos
homens é a grande e triste prova da destruição hedionda, hipócritas e sem noção
dos fatos que assola o planeta. A chapada despertou deste sonho, ficou
cabisbaixa e chorou lágrimas de sangue, um pranto desceu escorregando por sua
sensível face que por ventura também alimentou as fontes, os capins emacambiras.
Passou-se mil anos e tudo que escrevera foi revelado; os tempos mudaram de
curso, a profecia se juntou com os fatos no início, meio e fim. Então os
escritos na terra vêm sobrevivendo a passagem do tempo e a chapada continua lá
lendo e escrevendo.
José Antonio Basto
Email: bastosandero65@gmail.com
(98) 98890-4162
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