terça-feira, 8 de novembro de 2011

São Raimundo, o melhor ar de Urbano Santos



Os projetos de plantios de eucalipto e de soja se permutam aqui e acolá. Presencia-se esse feito em parte do Baixo Parnaiba maranhense, onde os plantios de soja saem de cena para darem lugar aos eucaliptos, principalmente, da Suzano e outros grupos de menor expressão.
Optou-se pela soja no Baixo Parnaiba maranhense na década de 90 como suporte a outras regiões do estado do Maranhão que pouco evoluíam em termos de produção, produtividade e logística. Esse é o caso da região de Balsas.
Para o Maranhão, a monocultura da soja nunca significou uma opção séria de desenvolvimento, mesmo do ponto de vista das elites. Estas viram e ainda veem a soja como uma ponta de onde elas tirariam proveito via bancos privados e oficiais. Um histórico da grilagem de terras no sul do Maranhão permitiria iluminar quem se deu de bem nos primeiros instantes da soja até os dias de hoje.
As elites maranhenses compensam o baixo investimento em políticas de infra-estrutura com a permissividade em torno da legislação fundiária e da legislação ambiental. Não é por mero acaso que o Iterma e a Sema são os órgãos mais sucateados entre todos do governo do estado do Maranhão. Compõe-se a partir desse dueto um tango trágico ou um sertanejo brega como trilha sonora para o processo de ocupação do Cerrado maranhense.
A facilidade com que determinados grupos obtém licenças de desmatamento e de plantios de monoculturas perfaz décadas e segue par e passo as políticas do governo do estado e do governo federal que atravancam processos de regularização fundiária e de desapropriação de terras para assentamentos e para unidades de conservação.
Em algum momento, facilidade e trilha sonora se apropriam da mentalidade das elites e, por conseguinte, da sociedade civil. O capitalismo jamais recusaria esse momento, contudo isso faz com que as relações sejam menos modernas e mais conservadoras.
Os segmentos produtivos ligados a monocultura da soja no sul do Maranhão concorrem a cargos públicos ou investem em candidaturas no anseio de que ao chegarem ao poder os seus projetos serão levados a diante.
Derivar de um projeto econômico para um projeto político e o inverso não são tão simples como querem alguns. No entanto, para os padrões locais e regionais, a dimensão simbólica de um projeto se submeterá a outra para que o status quo permaneça em seu projeto particular de poder.
Um projeto de poder que se apropria do simbolismo do capitalismo, mas recusando as suas variáveis de mudança nas estruturas agrária e política. Só mais recentemente o capitalismo inseriu em sua lógica alguma coisa a respeito do meio ambiente.
Então, a modernização econômico-social e política pretendida pela monocultura da soja morreu nas praias de São Luís onde as elites maranhenses montam erguem seus monumentos ao ócio. A polêmica não está entre o ócio do litoral e a produção de grãos do sertão e nem entre a modernização capitalista versus o pré-capitalismo. As polêmicas ganham espaço na mídia, mas somem a medida que sua praticidade se esvaece no ridículo do senso comum.
A modernização da agricultura tradicional defendida por alguns setores da economia e da política brasileiras como inevitável e como inequívoca por conta de seus resultados econômicos e de sua amplitude tecnológica só realmente comparece quando ela se atrela ao conservadorismo da política tradicional. Modernização e conservadorismo pernoitam na mesma pousada para lerem a História sob o mesmo ponto de vista.
A História do Baixo Parnaiba maranhense tenderia a uma mera repetição do circo de horrores gratuito que assola o Maranhão desde a década de oitenta, em menores proporções, é claro. Antes de qualquer coisa, pergunta-se por que a dita modernização da agricultura maranhense arrombou primeiro as portas na região sul e só nos anos 90 arrombou as portas do nordeste maranhense?
Não pensem que a região do Baixo Parnaiba foi preterida. Montou-se um complexo minero-metalurgico ao longo da estrada de ferro Carajás. As áreas de floresta e de Cerrado na região de influência seriam transformadas em matéria-prima para o carvão vegetal que abasteceria as guserias. Em seguida, surge a Suzano propondo uma indústria de celulose para a região.
Aqui as elites divergem sobre os rumos de cada região. Conceituaram a região sul como ideal para a agricultura empresarial e destacaram a região nordeste como fonte de matéria-prima para a indústria de ferro-gusa. Contudo, as dinâmicas econômico-sociais de uma região, em um determinado tempo histórico, complementam-se com dinâmicas que se desenrolam em outras áreas. Os conceitos retratam hipóteses históricas que se confirmariam ou não dependendo do referencial teórico. A monocultura da soja nem se confirmou como cultura tradicional e nem se confirmou como modernizadora das estruturas locais. Iludiram e Iludiram-se com a cultura da soja. O tempo e o espaço foram curtos para tanta ilusão.
A soja no Baixo Parnaiba ocupa uma determinada faixa enquanto os eucaliptos ocupam outra faixa, deixando para a agricultura familiar um pequeno pedaço de Chapada e de Baixão. Onde a agricultura familiar resistiu ao avanço da soja e do eucalipto se respira outro ar. As comunidades de Boa União, São Raimundo, Bom Principio e Bracinho, município de Urbano Santos, esbanjam saúde para quem quiser ver. O senhor Antonio brindou a todos com essa informação. Quase ninguém adoece e caso adoeça volta no mesmo instante para a comunidade. A saúde talvez seja a melhor recompensa que alguém possa desejar.
Mayron Régis

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