Até uns anos atrás, a literatura sobre o Baixo Parnaiba maranhense se restringia a algumas matérias sobre a expansão do agronegócio da soja sobre as áreas de Cerrado da região. As matérias jornalísticas deixavam tudo para trás em busca de uma totalidade como nessa afirmação recorrente: “a última fronteira agrícola”.
Parece que as elites veem o Brasil fadado a ser uma fronteira em eterna expansão com fins econômicos e militares. Ela dificilmente descansa, pois o seu formato se redesenhou e redesenha-se tantas vezes nos últimos anos tanto com relação a rapidez de incorporação de novas áreas como do afastamento de atores sociais de perto dela. “A totalidade é uma mentira”, fuzila o filosofo alemão Theodor Adorno. O capitalismo detesta questões de fundo. Ele se realiza na superfície.
A maior parte da informação sobre o Baixo Parnaiba maranhense se originava do jornalismo e com o firme propósito de destacar ao leitor, nem tanto dos municípios maranhenses e mais leitores de outros estados, a totalidade de um processo econômico e social que recodificava e recodifica com imenso poder de dispersão as opções dispostas na mesa da sociedade para produção de riquezas, de alimentos e de subjetividades. O jornalismo em suas apostasias e em suas apologias fez crer nessa recodificação que se contrapunha e se contrapõe ao interior em questão prol de uma “totalidade de fora”.
O que se vê, pela ótica do jornalismo, é um interior adormecido. As referências que permitiam qualquer um entrar no interior e sair dele como se fosse sua casa foram deliberadamente detonadas. Quem se dirigiria a um lugar apenas para descansar ou para recordar passagens antigas da sua vida e da vida de seus familiares? Os que fazem isso incentivam os de dentro a perseverar nas mesmas práticas dos seus antepassados e que lá fora caíram em desuso. Os políticos propendem mais facilmente a aceitarem esse tipo de discurso e como tal assumem a prerrogativa de trazer os projetos que ponteiem recodificações para uma “vida sem sentido” no interior.
Segundo Gilvan, ex-vereador do município de São Bernardo e dirigente da Cáritas regional, as atividades das empresas de manejo florestal e de reflorestamento que principiaram a partir de meados dos anos 70 nas áreas de Chapada de várias comunidades de São Bernardo como Baixa Grande, São Benedito e Alto Bonito, por bem ou por mal, esquivaram-se das áreas da comunidade de Enxu, acomodando-as para um futuro não muito distante. A Suzano acomodou a situação na comunidade de Enxu pensando na resistência que as outras comunidades ofereceram a empresas como Margusa e Marflora. A Chapada do Enxu estronda em mais de cinco mil hectares de Cerrado.
Entretanto, a Suzano depois de anos de espera volta a cena e pretende desmatar a Chapada do Enxu e plantar seus eucaliptos. As comunidades de São Benedito e de Alto Bonito pediram ao Incra que vistorie pois empresários do ramo da soja ou já compraram áreas onde a comunidade roça ou planejam comprar. A possibilidade da Suzano e dos empresários da soja concretizarem seus projetos está relacionada com a capacidade das comunidades resistirem. Elas resistiram por décadas. Essa é mais uma etapa.
Mayron Régis
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