quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Belágua e o agronegócio




Localização do município de Belágua/MA



                No município de Belágua, no Maranhão a gente consegue bem perceber por que o agronegócio não traz benefício algum pras comunidades. No povoado Prata dos Basílios vemos duas cenas marcantes: a propriedade de Wilson Souza, cerca de 180 ha, junto com a propriedade da associação do povoado, cerca de 350 ha está cercada por sete mil hectares contínuos de eucalipto da Margusa. Enquanto a gente vê a esplendor da variedade do cerrado na pequena parcela de área preservada, vê a monotonia do eucalipto que fustiga um ou outro pequizeiro agonizante. Pra onde vai a água?

                O cerrado é exuberante na sua vegetação, nos seus buritizais, nas suas veredas e nas suas nascentes. Um lençol rico e cobiçado pelo agronegócio, principalmente soja e eucalipto, o parasita do cerrado. As muitas nascentes, riachos que ali se desenvolvem vão alimentando o rio Preguiça que escorre exuberante desembocando nos famosos Lençóis Maranhenses, que paulistas, mineiros e estrangeiros viajam quilômetros para conhecer. Tudo está comprometido, ameaçado; a água vai secar sob a sede do eucalipto, a vegetação e a fauna perecerão sob a implacável ação dos correntões. E quando acabar, só sobrarão as raízes nefastas do eucalipto que se integrarão ao deserto dos lençóis. Que histórias vão contar, então? Que um dia ali houve um povo e um cerrado? Isso não está longe. Mas tem muita gente enriquecendo às custas do desmando, da ausência ou da morosidade dos poderes que compões nossa tão incrédula democracia.

                Uma análise da situação vexatória se constata através do resultado do ENEM 2010, onde Maranhão Piauí e Tocantins ficaram muito abaixo dos índices nacionais, foram os três piores; justo a área de cerrado onde o agronegócio se infecta como parasita sedento. Está aí o resultado.

                O Maranhão e Tocantins tiveram pontuação de 512 e Piauí de 518, os três abaixo dos 537 da média nacional. Se por um lado Uma escola particular de Teresina ficou em segundo lugar no ranking nacional, isso não foi capaz de fazer o estado chegar nem perto da média.

O Maranhão com mais de treze mil escolas conseguiu inserir apenas 555 na pontuação. O município de Belágua ficou na rabeira, ocupando a posição 545, com apenas uma escola marcando de apenas 441 pontos.

                O Brasil segue em frente, fechando os olhos para seus filhos do cerrado, como bastardos impuros, fazendo vista grossa mediantes o acordos espúrios da governabilidade deixados pelo presidente anterior, e continuado pela atual. O agronegócio, essa vil e ultrapassada forma de exploração das potencialidades naturais, segue com todo apoio de governantes e empresários irresponsáveis e gananciosos.

                Enquanto isso, Belágua lidera os piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Maranhão e do Brasil. É campeã em mortalidade infantil, em taxa de analfabetismo.
IDH
Ocupando o 7º posto entre os municípios mais pobres do estado (IDH de 0,495), Belágua abriga cerca de 5.200 excluídos sociais, 80,85% da população de 6.527 pessoas (dados do Mapa da Exclusão Social no Brasil).
Analfabetismo
Traduzindo em números vemos que de um total de 4.664 pessoas com dez anos ou mais, 1.709 não sabem ler nem escrever na cidade (36,6%).
Mortalidade Infantil
A mortalidade infantil no município também é a maior do Maranhão. Dos 30 óbitos registrados na cidade entre agosto de 2009 e julho de 2010, dez foram de crianças com menos de um ano (33,33%).
Força e coragem
Isso não falta às comunidades que enfrentam o agronegócio. Estão se organizando e defendendo suas áreas. Lutam como feras, com apenas as garras que tem. Mas Aníbal derrotou Roma, os Godos também mantiveram suas florestas, não foram expugnados. Roma não chegou à China. Wilson Souza não terá sua biblioteca queimada. A Terra não perece, seu tempo é cósmico.

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