quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Aniversário e forrageira



                Na casa de Domingos, no povoado São Raimundo, numa conversa embaixo das árvores surgiu a história: um agricultor seguia muito bem vestido, com sua enxada no caminho da roça. Interpelado sobre o motivo da roupa de festa, respondeu: “Rapá... o que me dá meu sustento é a roça, a festa só leva meu dinheiro; então prestigio a roça usando minha melhor roupa”. E isso tudo por que comentei o suor, a poeira e o corre-corre de Domingos, que sempre vi arrumado e penteado. Talvez fosse esse o motivo, o dia de festa?
                Seguimos para Urbano Santos, distante 250 km de São Luís, na sexta-feira dia 13 de agosto, levando uma forrageira, parte do projeto de criação de galinhas caipira, que está sendo implantado no povoado. Depois de galgar cerca de 100 quilômetros de engarrafamento na pista de mão dupla esfarrapada, único acesso à ilha, entramos na calmaria da BR 222.
                Essa viagem tinha objetivos técnicos e pessoais. Domingos ligou mais de uma vez durante a semana pra confirmar nossa ida para participar do aniversário de sua filha Tainá, que completava dois anos. Sim, as populações tradicionais do cerrado existem, respiram, sonham, comemoram e gostam de ser o que são.
                A despeito de todo descaso estatal e de toda exploração e desrespeito por parte da sociedade capitalista liberal o povo do cerrado segue na luta sem perder a fé e a esperança numa comunidade melhor, mais assistida e sem perder os seus laços e a sua identidade.
É fato que o alimento que o país consome vem da pequena e média propriedade, incluindo a agricultura familiar. E é justamente o estímulo a essas propriedades que vai gerar uma produção mais integrada com o meio ambiente. O agronegócio, gerador de commodities, tal e qual o minério, nada mais é do que uma exploração inerme e sem escrúpulos, que nenhum crescimento social ou divisas deixa às comunidades ou aos municípios.
Melhorar a vida nas comunidades, prestigiar as populações que vivem do meio ambiente e dele cuidam, essa deveria ser uma das estratégias de preservação. O projeto da galinha caipira é mais um passo para a inclusão das populações através de ajuda material e aparato técnico. O galinheiro está pronto, os piquetes estão prontos, a forrageira já chegou, só faltam os pintos.
            Enquanto isso, comemoramos o aniversário de Tainá, que certamente não vai sair nas colunas sociais, mas que arrebanhou pessoas de várias comunidades e municípios que rodeiam o povoado São Raimundo. Gente feliz, com fé e esperança de que o produtor rural possa usar boas roupas no seu trabalho, nos seus cultos e nas suas festas. 
Geraldo Iensen

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