quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Carrancas, povoado cercado, povo aguerrido


Final de semana produtivo e alegre no povoado Carrancas, município de Buriti de Inácia Vaz, no Baixo Parnaíba maranhense. Duas oficinas do projeto “As Carrancas do senhor Onésio”, com apoio do Casa (Centro de Apoio Sócio-ambiental) e da ong alemã ASW serviram homens e mulheres, crianças e idosos; a participação foi intensa. Eugênio Nascimento (o Dotô) e Lucineide Pinho foram os oficineiros. O primeiro, grande mestre da criação de abelhas melíponas, dividiu seus conhecimentos, tendo como alunos atenciosíssimos o senhor Onésio e o senhor Vicente de Paula.
                Dotô, de 40 anos, agricultor-experimentador (como prefere ser chamado) trabalha com abelhas melíponas na região do Munim. Dividido entre a criação de abelhas, produção de mel e a direção da Ass. Agroecológica Tijupá, Dotô arruma tempo para levar a Oficina Manejo Racional de Abelhas Melíponas às comunidades interessadas.
                O povoado Carrancas, localizado no município de Buriti de Inácia Vaz está cercado pelo desmatamento. Segundo Aidil de Sousa Carvalho Filho – Diretor Presidente da AMIB (Associação dos amigos de Buriti), mais de cinquenta por cento da vegetação local já foi destruída, com as terras destinadas ao agronegócio, principalmente a soja.
Mas numa breve circulada pela área rural do município, a devastação parece ser maior. São terras nuas a espera do produto de exportação e fornos que queimam incansáveis a vegetação nativa arrancada do cerrado pra fazer carvão. No horizonte de cada terra desmatada uma fumacinha peçonhenta anuncia uma porta do inferno. E o pior é que os condenados são os inocentes, as populações tradicionais, que, cercadas e aliciadas, seduzidas, enganadas e violentadas se veem obrigadas a vender suas posses.
O projeto da AMIB busca fortalecer as comunidades que resistem. Estimular as pessoas a manterem suas terras, levando a eles conhecimentos e assessoria, como armas para se defender. Afinal estão nessas terras há várias gerações. O senhor Onésio, agricultor de 70 anos, conta que o nome do povoado se deve à rusticidade intocada e a uns imensos paredões naturais do local na época do início de sua ocupação, histórias contadas por seu avô, que já habitava na área.
O fortalecimento se dá através do estímulo à produção e manejo autossustentável de produtos da região, como, por exemplo, a exploração do bacuri e produção de mel. A medida é urgente; o bacuri, um dos produtos mais importantes para a economia das comunidades está sendo dizimado. Vicente de Paula, agricultor do Carrancas, supõe que só no entorno da comunidade mais de dez mil pés de bacuri adultos foram arrancados nos últimos anos; se contar com as plantas jovens o número chega fácil aos cinquenta mil pés. Contando que a safra de bacuri atravessa os quatro primeiros meses do ano, a atividade é muito representativa para o faturamento da população local.
Vicente lembra que há alguns anos, numa reunião com o juiz de direito de uma cidade vizinha ouviu que “a culpa da devastação do cerrado é do povo”, uma vez que é o povo que vende a terra para o agronegócio. E se for pra ser raso assim, podemos culpar o judiciário pela criminalidade no Brasil, uma vez que a aplicação da lei é ineficiente, morosa ou ausente.
A culpa é do projeto de desenvolvimento ora aplicado no Brasil, com um governo que negocia com fraudadores, que cede a bancadas mal intencionadas e que mantém um ministro da agricultura que acredita que o cerrado não é nada, ou antes, um incômodo. Ou temos ainda deputados e senadores que não acreditam na importância das matas ciliares, ainda que imensos rios como o São Francisco, o Mearim, o Parnaíba e tantos outros estejam definhando exatamente por conta da exploração ilegal e desordenada.
Houve um tempo em que as populações temiam fantasmas, mesmo que fosse a assombração da “orelha de pau” (tipo de cogumelo que brilha no escuro), mas agora, como afirma o senhor Onésio “são os gaúchos, esses é que fazem medo à gente”. Sendo “gaúcho” pra eles, qualquer produtor do agronegócio, ainda que seja um “nobre” maranhense.
Manejo Racional com abelhas melíponas
Na oficina das abelhas, Onésio e Vicente, que já criam abelhas foram capacitados no manejo racional. Em duas etapas Dotô passou os conhecimentos para confecção da caixa que abriga o enxame e a mudança do tronco para a nova moradia. Também foi passada a técnica de divisão da colmeia pra criação de nova colônia. O êxito e a satisfação dos agricultores foram de cem por cento.
Confecção de sabão
A técnica em agroindústria Lucineide Pinho executou seu trabalho em duas etapas. No primeiro dia aconteceu a oficina de confecção de sabão, mostrando os diferentes tipos e técnicas de confecção. O resultado final foi a produção de 12 potes Pasta de Brilho, 6 potes de Sabonete ,6 litros Sabão brilho e 42 litros Sabão pra roupa.
Confecção de Tortas e Bolos
Na segunda etapa, técnicas de produção de alimentos foram passadas para trinta pessoas da comunidade. No almoço de domingo foram servidos, além da tradicional leitoa, os produtos da oficina: torta de coração de banana, bolo de tapioca torrada, bolo de milho, bolo grolado de tapioca e Raminho de goma de tapioca, além da sobremesa de doce de abóbora. Tudo perfeito e delicioso.
Geraldo Iensen

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