Lembro que em 2006, participei do grande
encontro de comunidades em defesa do Baixo Parnaíba Maranhense, sediado na
Comunidade Quilombola de Bom Sucesso dos Pretos município de Mata Roma-MA, onde
foi debatido questões relacionadas à soberania dos trabalhadores rurais contra
o impacto ambiental do eucalipto e soja. Um evento caloroso com participação de
vários seguimentos dos movimentos de direitos humanos e da vida. Sabe-se que as
comunidades tradicionais do Baixo Parnaíba desde o inicio da década de 80 que
vem enfrentando batalhas contra a empresa Suzano Papel e Celulose e grupos de
gaúchos vindos de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul, tanto a Suzano
quanto os gaúchos são responsáveis pelo atraso do projeto de Reforma Agrária e
Desenvolvimento Rural Sustentável em nossa região. Os camponeses são os
verdadeiros herdeiros dessas terras, pois desde tempos históricos remontando
ainda o período dos índios Tremembés que eles já caçavam o tatu, peba, cotia,
veado e pássaros; pescavam cará, piaba, traíra, jacundá, catana e viviam do
extrativismo do bacuri e pequi além de muitos outros frutos do cerrado. Mas
lembrando que nada disso era predatório e sim eles praticavam esses ofícios
pela sobrevivência das famílias sucedendo então essa cultura aos habitantes que
aqui chegaram como retirantes das secas do Ceará e Piauí, conjunto que formou
nossa gente. Quando apareceu a febre do eucalipto na região, tudo foi mudando,
o cenário cultural em especial fauna e flora sofreram alterações drásticas em
todos os sentidos. Esse ato da Suzano e dos grupos de gaúchos que agora aqui
estão é inaceitável. Os grandes campos de eucaliptos que cobre os territórios
de Urbano Santos, Santa Quitéria, Chapadinha, Mata Roma e tantos outros
municípios é um cenário difícil de se ver, infelizmente, são chamados “monstros verdes”. Os rios de Urbano
Santos Mocambo e Boa Hora por exemplo já não respiram mais oxigênio puro, suas
águas secaram e seus peixes desapareceram totalmente; como diz o camponês
ribeirinho Sr. Canário do Povoado Pequi: “No
Rio Mocambo agora não se pega piaba nem pra fazer remédio.” Um problema que
deve ser observado além das lutas dos trabalhadores rurais, entregues portanto
os órgãos competentes com o intuito de dirigir
sua ótica à esses desacatos aos direitos humanos e da vida. Relembrando fatos
importantes de acontecimentos históricos de trabalhadores rurais em defesa de
suas terras, podemos rever os capítulos gloriosos do Assentamento Mangueira
(Urbano Santos), onde ainda no inicio de 80, as lideranças na pessoa do Sr.
Manuel Américo enfrentaram a Suzano -, no tempo conhecida como Florestal LTDA,
que tentava tomar e grilar as terras da associação na época, há noticias de que
até tiros foram disparados para intimidar a comunidade que depois de muitas
lutas conseguiram as arrecadações e regularizações fundiárias. Para acentuar
ainda é importante frisar figuras de resistências como as “FRANCISCAS”, uma do Povoado São Raimundo (Urbano Santos) e a outra
do Baixão da Coceira (Santa Quitéria), estas que vem enfrentando desafios
contra o impacto ambiental e combatendo latifundiários. Quero ainda saudar
nesse breve texto a pessoa do Irmão Francisco do Povoado Bracinho (Anapurus) -,
figura destacada na resistência contra os sistemas opressores da Suzana em sua
comunidade tradicional. Além destes foram muitos que contribuíram e vem
contribuindo pelo nosso grande projeto de defesa do DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL. O Baixo Parnaíba tem donos e
essas sombras são ancestrais, os donos do Baixo Parnaíba somos nós:
TRABALHADORES (AS) RURAIS, RIBEIRINHOS, PESCADORES, COLETORES, DEFENSORES DE
NOSSOS TERRITÓRIOS LIVRES. Nossa luta nunca vai parar, temos que dar as mãos contra o impacto que assola não
apenas nossa querida e amada região, mas o Maranhão, o Brasil... o Planeta
Terra. Queremos equilíbrio nas relações climáticas. Queremos justiça, queremos,
titulação, desapropriação, regularização, arrecadação de nossas terras,
queremos sobretudo REFORMA AGRÁRIA E LIBERDADE.
José
Antonio Basto
*militante
dos direitos humanos
Urbano
Santos/MA - 09/04/2014
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