Chegar
a maioria das áreas de assentamento na Região do Munim demanda
tempo, trabalho e
principalmente vontade. No caso de Bom Jardim no P.A Rio Pirangi (com
seus vastos e ricos 31 mil ha) localizado em Morros/MA, requer ainda
mais: força, energia e superação dos próprios
limites. Superação de
medos e angústias e confiança nas suas habilidades como pessoa e
profissional.
Pensar a construção de acordos ambientais e territoriais em nível comunitário, como os que tem sido motivados e realizados pela Tijupá em conjunto com as organizações locais dos agricultores/as familiares é considerar também (e sobretudo) nos acúmulos, valores e tradições expressos de
geração em geração. Ou seja, o fator determinante, não é
somente o cultivo e o local da sua roça, nos agroecossistemas existentes no entorno das
comunidades, mas antes de tudo, a lembrança dos
antepassados que o sucederam e os ensinaram a trabalhar, a olhar o dia e a
noite, saber a hora e a lua adequada para cada cultivo, é andar no caminho e
reconhecer os passos de quem por ali esteve, seja gente ou bicho do mato.
Neste contexto visualizamos o quão importante se faz o diálogo entre as
entidades representativas dos trabalhadores, organizações da sociedade
civil que atuam na assessoria à agricultura familiar, dos entes
governamentais que executam (ou não) a política de
reforma agrária, com as pessoas que de fato conhecem as áreas em
que vivem. Porém, a regularização fundiária, que, de fato, é o que
ocorre por
estas bandas do Maranhão - em vez de uma reforma agrária propriamente
dita (ou "política de assentamentos", como criticam os movimentos
sociais) - tem implicado na criação ou acirramento de conflitos como
nunca dantes vistos.
A demarcação de perímetros dos assentamento deveriam necessariamente serem feitas com muita cautela
não atropelando os “limites de respeito” pré-existentes (firmados ao longo de muitos anos entre povoados e
famílias agricultoras) pois muitas
comunidades tem resolvido de forma trágica os seus conflitos, na qual o princípio da
vingança "vez por outra", como se diz na região, tem orientado a “solução” de entreveros inter ou intra familiares.
Não é
difícil observar casos em que a intervenção da Reforma Agrária na sua
institucionalidade racionalista e a mão o pesada
dos seus servidores e parceiros na implementação dos créditos e
"benefícios" desorganizam tudo o que já existia de acúmulo e convivência
harmoniosa e respeito mútuo em diversas
comunidades rurais. Relações de compadrio e parentesco são esquecidas,
cuidados e zelos são vistos agora
como pirraça entre pessoas que deixam de lado o dialogo fraterno e
assumem
posturas que chegam a chocar os ouvidos mas não chegam a calar a boca
dos mais
experientes e que lutam incessantemente para assegurar segurança
alimentar e
qualidade de vida a seus familiares, amigos e a comunidade de um modo
geral.
É com tristeza e pesar que seu Raimundo mostra a devastação que
está sendo feita as margens do Rio Buzo que nutre a mãe terra das famílias que
praticam a agricultura familiar agroecológica na comunidade do Bom Jardim. Ele
tenta entender o que leva uma pessoa “a
cometer tal coisa. Um cara desse não vê que isso não é certo? Daqui de onde ele
roçou até a beira do rio não dá mais de três metros ? E quando ele tocar
fogo como fica? Vai acabar com tudo, nossa água, nosso banho, nossa vida,
será que não percebe que também esta acabando é com a comida da casa
dele?”.
Consequência da disputa de terra devido a um equívoco na demarcação da
área que deixou de fora espaços importantes de capoeira que vinham sendo
tratadas e cultivada há mais de 20 anos por uma família, que agora está
impossibilitada de exercer seu “habitus”
que a identifica e marca sua historia...
Conflitos gerados e acirrados... por incompetência dos gestores
públicos? Insensibilidade ou o quê? O que importa saber é a diferença que
poderemos estar fazendo na vida destas pessoas e as novas lutas e conquistas a
serem alcançadas no processo educativo pedagógico que esta questão nos remonta.
É mais do que terra, do que água e identidade: é a vida brotando e se
ajustando a cada instante e necessidade, é o ciclo da lua norteando os
costumes, o canto dos pássaros, a batida do veado no mato, sou eu e você, somos
nós a cada instante e a todo o momento fazendo a diferença e construindo um
diálogo capaz de gestar mudanças e ampliar horizontes.
Tijupá
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