Ivonete
Gonçalves de Souza (CEPEDES)
Winfridus
Overbeek (WRM)
“Enquanto estão comprando o produto, estão deixando desgraça para nós” (resposta de liderança
comunitária em Santa Quitéria, Baixo Parnaíba, Maranhão, à pergunta sobre qual
seria sua mensagem aos compradores europeus da madeira da Suzano)
Em tempos em que as economias
mais “cinzentas” do mundo são rebatizadas de “verdes” e formas depredadoras de
geração de energia, chamadas de “renováveis”, é de suma importância mostrar o
que há por trás dessas palavras, ou seja, conhecer melhor a realidade dos
projetos “renováveis” e “verdes”.
Um exemplo é o projeto
desenvolvido pela empresa brasileira Suzano Papel e Celulose na região do Baixo
Parnaíba, estado do Maranhão, justificado como “inovador”[1].
Trata-se de produzir uma energia “renovável” através de biomassa de madeira, os
chamados “pellets”, ou seja, pequenos
pedaços adensados de madeira, produzidos a partir de extensas monoculturas de
árvores de eucalipto, chamadas de “florestas plantadas” ou “florestas
energéticas”. O objetivo é vender os “pellets” a empresas de energia na Europa,
que precisam cumprir as novas metas obrigatórias da União Europeia de utilização
de “energias renováveis”, tendo como suposto “objetivo” proteger melhor o clima.
Um porta-voz da empresa de energia britânica MGT Power Ltda, que busca
substituir o uso de combustíveis fósseis e também uma possível compradora de “pellets” da Suzano, afirmou que fazer
negócios com essa empresa é confortável, uma vez que se trata de uma das
maiores produtoras de papel e celulose do mundo, além de ser bem estabelecida e
ter credenciais de sustentabilidade[2].
Mas de qual “sustentabilidade” a empresa britânica está falando?
O objetivo deste artigo é
mostrar o que ocorre na região do Baixo Parnaíba, onde a Suzano está promovendo
a monocultura de eucalipto para fins de energia. O
Cerrado, com sua exuberância e sua diversidade, é fonte de sobrevivência de
muitas famílias e vem sendo destruído com o uso de tratores e correntões. Ao
destruir o Cerrado, a Suzano destrói também as formas de vida dessas
comunidades, que estão indignadas. Uma liderança de 51 anos, de uma comunidade
com 100 famílias que não têm e não conhecem outro lugar para viver,
desabafa:
“A
Suzano está destruindo a nossa fonte de renda. Vivemos basicamente do bacuri e aqui tiramos pelo menos 100 toneladas por
vez. E é disso que a gente vive. Além do bacuri, dentro desta área tem paca,
tatu, veado, jacu, nambu. Além de pássaros e outras espécies também importantes
pra nós. Na chapada tem remédio, tem fruta, tem flores, tem beleza e dá pra
soltar um pouco de gado por lá.”
Dedicamos este artigo a
todas as comunidades[3],
suas mulheres e homens, que têm resistido bravamente às tentativas da Suzano de
se apropriar dos seus territórios e destruir extensas chapadas cobertas de Cerrado.
Breve
histórico das comunidades tradicionais do Baixo Parnaíba
A grande maioria das terras na
região do Baixo Parnaíba[4] e no
estado de Maranhão é devoluta, ou seja, terras que nunca foram devidamente
registradas nas instâncias oficiais do Estado e que, por isso, pertencem legalmente
ao estado do Maranhão, cujo dever é regularizá-las em favor daqueles que as
ocupam, conforme determina a Constituição Brasileira de 1988.
Terra devoluta não é sinônimo de
terra desabitada, ao contrário. No Baixo Parnaíba, assim como em todo o território
brasileiro, as terras devolutas costumam ser habitadas e usadas de forma
secular por comunidades locais que delas sobrevivem, praticando uma agricultura
de pequena escala e diversificada de arroz, feijão, milho e mandioca, fazendo
hortas e criando pequenos animais[5]. Essas
comunidades fazem uso do bioma predominante na região, neste caso, o Cerrado,
vivendo nas áreas mais baixas, permeadas por riachos e rios, repletos de imponentes
buritizeiros – palmeiras muito utilizadas
pelas comunidades para alimentação. Mas a maior parte do Cerrado ocupa as
vastas áreas de chapada, formando uma terra, mais alta e plana, de uso comum e
aberto para todos, oferecendo alimentos como as frutas do bacurizeiro e do pequizeiro,
muito apreciadas pelos moradores; materiais para a construção de casas e confecção
de utensílios como esteiras e peneiras, lenha para cozinhar, diversas matérias-primas
para remédios naturais e muito mais. O modo de vida, bem como a valorização do
uso coletivo de grande parte do território, além da convivência harmoniosa com
o ecossistema local, faz com que as comunidades no Baixo Parnaíba, também
chamado de Leste Maranhense, possam ser definidas como comunidades tradicionais.
As famílias que foram compondo as
comunidades do Baixo Parnaíba eram, na sua grande maioria, posseiras,
populações agroextrativistas sem título das terras onde se instalaram, mas que
construíram seu modo de vida fortemente ligado ao lugar, ao território e ao
Cerrado e seus muitos benefícios e utilidades. A maior parte das famílias chegou
no Século XIX, vinda dos estados próximos do Piauí e do Ceará, de onde partiu fugindo
da seca, e se estabeleceu nas terras do Baixo Parnaíba. E já se foram muitas
gerações, portanto, as terras foram se configurando como tradicionalmente ocupadas por essas
comunidades camponesas[6], que também
incluem 14 comunidades quilombolas[7] estabelecidas
na região, visto que, no século XIX, a região também estava na rota de fuga de
negros escravizados.
O fato que mais incentivou o
processo de negociar e vender as terras das comunidades tradicionais nas
últimas décadas, no Maranhão, foi a promulgação da Lei Estadual das Terras no.
2.979 de 1969 pelo governo do estado. Essa Lei ocasionou uma série de conflitos
entre grandes proprietários de terras e comunidades de posseiros – conflitos sobre
posse e acesso a terras, que levaram, inclusive, à expulsão de muitas famílias
e comunidades[8].
Histórico
do projeto da monocultura do eucalipto no Baixo Parnaíba
Na década de 1980, a Maranhão
Gusa S/A (MARGUSA) chegou na região com um projeto de produção de carvão
vegetal, motivado pela abertura da mina de ferro de Carajás, da VALE, no vizinho
estado do Pará. A mina de Carajás levou à criação de dezenas de siderúrgicas de
ferro gusa, aumentando a demanda por carvão vegetal como fonte energética. A
MARGUSA não comprava terras; em vez disso, pagava pessoas para cortar madeira
do Cerrado nas chapadas, causando muita devastação. No entanto, criou uma
empresa “florestal”, a Maranhão Forestal S/A (MARFLORA), com o objetivo de plantar
eucalipto, como também fez a ITAPAGÉ Papéis, Celulose e Artefatos, pertencente
ao Grupo Industrial João Santos, de Pernambuco.
A Suzano também chegou à região nos
anos 1980, sob o nome de Comercial
e Agrícola Paineiras S/A, adquirindo áreas de eucalipto
da MARGUSA quando esta começou a entrar em crise financeira. Paralelamente, a
própria Paineiras arrendou novamente áreas para a MARGUSA quando esta tentou
retomar o plantio de eucalipto em 2003, ano em que foi comprada pela GERDAU[9]. Porém,
o projeto de plantio de eucalipto da MARGUSA nos anos seguintes nunca se
concretizou, visto que o EIA/RIMA elaborado por uma empresa chamada STCP[10] para o
plantio de 100 mil hectares de eucalipto no Maranhão nunca foi concluído, e a GERDAU
acabou se retirando da empresa no final de 2007.
À partir de 2008, foi a vez de a
Suzano expandir fortemente o plantio de eucalipto no Baixo Parnaíba, em terras das
quais a Paineiras já tinha se apropriado anteriormente. A Suzano também adquiriu mais terras por conta própria,
com a ideia de produzir madeira para um projeto de celulose no vizinho estado do
Piauí. Ali, a Suzano pretendia plantar 160.000 hectares de eucalipto, enquanto,
no Maranhão, a idéia era plantar 400 mil hectares no estado todo, visando
abastecer também um segundo projeto de uma fábrica de celulose em Imperatriz, no
Sul do estado.[11]
O processo de expansão do
eucalipto na região do Baixo Parnaíba ocasionou, a partir de 2005, uma explosão
de conflitos com as comunidades que começaram a perder suas áreas de chapada, exatamente
as terras planas e agricultáveis que estão na mira da Suzano.
A partir de 2008-2009, o projeto
da fábrica de celulose no Piauí[12] deu
indícios de inviabilidade, pelo menos no curto prazo. Diante disso, a Suzano
muda o destino das plantações de eucalipto no Baixo Parnaíba para a produção de
pellets para
exportação, de olho no novo mercado emergente na Europa, que demanda biomassa
de madeira como fonte energética alternativa a petróleo e carvão mineral. Em
2009, no apagar das luzes do governo estadual do ex-governador Jackson Lago, a
Suzano conseguiu obter a licença ambiental – de instalação e operação – para seu
projeto de plantio de eucalipto na região, recebendo autorização para o
desmatamento de cerca de 40 mil hectares de Cerrado para plantar uma área
correspondente de monocultura de eucaliptos nos municípios de Santa Quitéria,
Urbano Santos e Anapurus[13]. O
Fórum Carajás[14] estima
que hoje existam cerca de 30 a 40 mil hectares de eucaliptos plantados no Baixo
Parnaíba, concentrados nos municípios mencionados, afetando diretamente a vida
de mais de 50 comunidades rurais tradicionais.
Um dos principais motivos que trouxeram
a Suzano, que pertence a uma família tradicional do estado de São Paulo, no
Sudeste, para se expandir longe dali, no Nordeste, foi e continua sendo o
atrativo baixo preço de terra. Trata-se de um mesmo padrão de migração rumo ao
Norte e Nordeste do país, já traçado por outras monoculturas do agronegócio
brasileiro, como cana e soja. Moradores das comunidades no Baixo Parnaíba falam
em preços de terras pagos no ano 2000 em torno de R$ 80 por hectare, sendo que
o valor hoje estaria chegando a 500 reais, ainda muito baixo em comparação com
o preço médio pago pela terra no Brasil e extremamente baixo se comparado ao
preço praticado hoje nos estados do Sudeste, onde há a maior concentração da
monocultura de eucalipto. O preço médio das terras no Brasil para agricultura,
pecuária e “reflorestamento” – leia-se: monocultura de eucalipto – saltou de
R$ 2.280 por hectare em 2003 para R$ 7.470 em 2012, sendo que o preço por
hectare de terra no estado de São Paulo em 2012 chegou a valores de R$ 32.000[15].
Outro grande projeto no Baixo
Parnaíba veio com a chegada de plantadores de soja do Rio Grande do Sul, os
chamados “gaúchos”, no final dos anos 90, o que também deu início à destruição
do Cerrado e à concentração de terras. Os gaúchos projetavam plantar 500 mil
hectares de soja na região. Não conseguiram concretizar esse plano, mas, mesmo
assim, destruíram quase 40 mil hectares de Cerrado, hoje transformados em
monocultura de soja.
[1]
http://www.relatoriosuzano2011.com.br/PDFs/RA_Suzano2011.pdf
[2]
http://biomassmagazine.com/articles/5023/mgt-signs-mou-with-suzano-for-biomass-supply
[3] Diversas comunidades impactadas pela ação da Suzano receberam
visita de campo por parte dos autores no período de 13 a 17 de maio de 2013;
ressaltamos que não citamos nomes das pessoas que nos acolheram e nos
concederam entrevistas durante nossa estadia na região, buscando resguardá-las,
devido ao clima tenso em torno dos conflitos de terra na região.
[4] Território com 19.179 km2 e 16 municípios,
com uma população de 411 mil habitantes, sendo que 53% do total vivem na área
rural
(http://www.territoriosdacidadania.gov.br/dotlrn/clubs/territriosrurais/baixoparnabama/one-community?page_num=0)
, muito mais do que a média nacional da população rural de cerca de 15%.
[5] No Brasil, cerca de 70% dos alimentos que compõem a
alimentação básica dos brasileiros são produzidos pela pequena agricultura
familiar e camponesa.
[6] Gaspar, Rafael, “Mobilização e Justiça Ambiental:
resistência camponesa e as transformações agrárias no Médio Mearim e Leste
Maranhense”,
http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_26_RBA/grupos_de_trabalho/trabalhos/GT%2036/rafael%20bezerra%20gaspar.pdf
[7] http://www.territoriosdacidadania.gov.br/dotlrn/clubs/territriosrurais/baixoparnabama/one-community?page_num=0
[8]
Gaspar, Rafael, “Mobilização e Justiça Ambiental:
resistência camponesa e as transformações agrárias no Médio Mearim e Leste
Maranhense”,
http://www.abant.org.br/conteudo/ANAIS/CD_Virtual_26_RBA/grupos_de_trabalho/trabalhos/GT%2036/rafael%20bezerra%20gaspar.pdf
[9]
http://www.abmbrasil.com.br/news/noticia_integra.asp?cd=573
[10] Régis, Mayron, 2011. “As chapadas e os bacuris”, Fórum
Carajás, página 55 – vale complementar que esta empresa de consultoria, a STCP,
também foi posteriormente contratada pela Suzano para
elaboração de EIA/RIMA.
[11] Régis, Mayron, “As chapadas e os bacuris”, 2011. Fórum Carajás, página 50.
[12] Diversos artigos na imprensa afirmam que o projeto não
será retomado antes de 2016.
[13] Régis, Mayron, “As chapadas e os bacuris”, 2011, Fórum
Carajás, página 60.
[14] Organização não governamental criada no início dos
anos 90 para monitorar a expansão e os impactos dos grandes projetos
desenvolvimentistas no estado de Maranhão.
[15]
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,preco-da-terra-agricola-subiu-227-em-dez-anos-quase-o-dobro-da-inflacao-,1003989,0.htm
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Eu acho legal o autor da matéria falar em comunidades que "perderam" suas terras...
ResponderExcluirPERDERAM OU VENDERAM...????
E porque o preço das terras é tão baixo...???
Se essas são terras tão boas, porque vendem...???
É muita pilantragem ideológica pra o meu gosto...