sexta-feira, 12 de julho de 2013

Os Confins de Buriti de Inácia Vaz



Ele não se importará com esse breve comentário, mas é um comentário que magoaria muita gente. Ele não sabe ler e nem escrever. Iniciou-se no bê a bá e na tabuada sem, contudo, prosseguir nos estudos. Deslocava-se com extrema dificuldade de seu povoado, na zona rural de Buriti, à sede do município. Não havia outro jeito, senão andar muito. Vicente se lembrou, deveras, desse tempo inusitado quando visitou a moradia do Jandy e da Das Dores, na comunidade da Bacaba. Quando pisaram na varanda da casa, a Das Dores conversava com seus afilhados. Antes de se dirigirem à Bacaba, o Vicente confirmara que trafegar pela Chapada se dificultara porque o senhor Gilson impedira que os caminhões de uma empresa de soja passassem próximo a sua propriedade à beira do riacho Feio. Definir um riacho como feio soava incongruente, mas o Vicente explicou que o riacho Feio é lugar de cobra Surucucu de larguras e comprimentos de botar medo em qualquer um. Cansei de ver essa baixa ai encher de água em uma época que os invernos irrompiam rigorosos, contou Vicente. O Baixo Parnaiba maranhense presenciara chuvas impenetráveis, de gente se recolher cedo porque a chuva engrossava. Eles rumavam em direção à Bacaba e notaram que naquela parte da Chapada, diferente do lugar onde o Vicente reside, a chuva alagara vários trechos. Nesses trechos moravam o seu Zé Branco, o seu Manoel e seu Madalena. Sobre o seu Madalena, sabe-se que ele expulsa qualquer representante de plantador de soja assim que põe os pés em sua propriedade. Isso se deve em parte ao fato de que os plantadores de soja o puseram na cadeia por conta de disputa de terras. A família do ex-prefeito de Buriti Nenem Mourão vendera cinco mil hectares sem possuir um palmo de terra na Chapada. Dessa forma, a monocultura de soja se iniciou naqueles confins de Buriti e de Mata Roma e o Vicente conhece essa história como poucos.
Mayron Régis

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