Relembrando
o IV Encontro de Comunidades do Baixo
Parnaíba Maranhense que aconteceu em Barreirinhas de 25 a 28 de agosto de 2011, com o tema central “O Protagonismo das Comunidades em Defesa da Vida no Baixo Parnaíba
Maranhense”. Relendo esta cartilha, refleti que os anos de lutas em nosso
território não é coisa dos dias atuais, mas algo que vem deste tempos bem
remotos. Podendo afirmar que essas
velhas batalhas seguem remontando a história dos índios Tremembés e Tapuias,
quando suas áreas de pesca, caça e agricultura foram invadidas pelos primeiros colonizadores
da região.
Imaginemos
que a Região do Baixo Parnaíba
apresentava naquela época uma realidade diferente de hoje, as matas ciliares,
as chapadas, carrascos, cocais, cabeceiras de rios... em fim, toda biodiversidade
vivia em comunhão com as populações tradicionais que aqui moravam. Um modo de
vida romântico onde tudo que se precisava se tirava da terra ou das águas: peixes,
mariscos, as lavouras de mandioca e o extrativismo dos frutos que todas as “belas chapadas” ofereciam. O cerrado já
não é mais o mesmo, as chapadas foram violentadas pelo programa agroexportador
do eucalipto e soja, as dunas foram desbravadas e suas lagoas cristalinas já não
brilham mais como antes; as cabeceiras de rios foram dilaceradas pelo veneno -
as águas sugadas e extraídas para suprir as necessidades do agronegócio. As
comunidades rurais clamam por justiça social, organizam-se para conseguir seus
direitos necessários e fundamentais no que se diz respeito à longa caminhada em
que travam no dia a dia. Como entender as mudanças radicais no meio ambiente do
Baixo Parnaíba? Os conflitos das associações de trabalhadores rurais em
combater as empresas representantes do capitalismo selvagem, que nada fazem
para nosso movimento. Os camponeses vivem há séculos tirando da mãe natureza os
seus mínimos sustentos: os bacuris, pequis, buritis, babaçu... caça e pesca
artesanal -, manejos culturais e tradicionais passados de pai para filho. A
agricultura familiar e a criação de pequenos animais para a sobrevivência é uma
atividade milenar praticada pelas comunidades, não pode ser comparada com a
caça e pesca predatória, não pode ser comparada com a extração das madeiras
nativas assim como vem sendo feito pela Empresa Maflora, assim como vem
praticando a Suzano Papel e Celulose - deixando para traz a dor, a desgraça, o
atraso das políticas fundiárias, a violência no campo e os mais hediondos
desacatos aos direitos humanos e da vida. As comunidades rurais do Baixo
Parnaíba sempre clamaram por justiça social nos seminários, congressos,
reuniões e encontros de CEBs. Os trabalhadores em seus cânticos poetizam a
tristeza, suas dores, os fatos e exaltam as conquistas em meio ao fogo cruzado.
Afirmamos que muito antes desses problemas, as terras de nossa região não eram
propriedade de ninguém, os primeiros latifundiários (fazendeiros) se
apropriaram via força e apadrinhagem política para assim tomar posse na marra
de grandes propriedades. Com o passar dos anos na década de 80, muitos
proprietários venderam essas terras para a Florestal LTDA, esta que por sua
vez, aproveitando a ocasião, aprofundou suas fronteiras e limites das terras
devolutas do estado. Foi daí então que surgiu os primeiros conflitos com as
associações que dantes, algumas delas já tinham dado entrada em processos no
INCRA e ITERMA. Exemplifica-se nesse cenário o conflito do Assentamento
Mangueira onde muitos trabalhadores saíram feridos em combate com os capangas
da antiga empresa.
Além dessas
páginas, são tantos os casos em que os camponeses na luta por direitos não
desistiram e jamais desistirão. Alguém disse certa vez que “As revoluções são as festas dos pobres e
oprimidos” – temos um mundo a ganhar! O Baixo Parnaíba merece respeito, mas
a situação de nosso território não é muito fácil, a soja, o eucalipto e muitas
outras monoculturas vem tomando espaço. As atividades e organizações sociais
devem surgir novamente da fumaça, as brasas ainda continuam acesas esperando
por palavras de conforto e apoio. Que os nossos direitos e vitórias possam
triunfar nos papeis e nos campos de batalha, na resistência sempre.
José Antonio Basto
Nenhum comentário:
Postar um comentário