Ele lia para ver o tempo passar
rápido. Ou talvez para que o tempo o levasse rápido. Não sabia explicar o que
realmente acontecia quando lia. Só sabia que ao ler, deitado na cama, sentado
numa cadeira ou, em pé, encostado a parede, julgava-se capaz de realizar todos
os seus sonhos e resolver todos os seus dilemas. Ele leu muitos livros, das
mais diversas áreas, então, um belo dia, isso não mais o satisfez. Ele queria
agora ver o tempo passar mais devagar. Como fazê-lo? Argumentou com os livros,
os quais empunhava todos os dias, que precisava de um tempo para por tudo que
aprendera em ordem. Os livros perguntaram se os deixava para viver uma paixão
qualquer. Não, ele respondeu, só quero por a prova o tempo que vivi. Como fazê-lo? A melhor forma, para alguém que passara
a vida toda lendo, era escrever sobre lugares onde não se lia ou não se
escrevia quase nada. Aonde encontrar esses lugares, afinal, fora de si, só
conhecia os livros e nada mais? Perguntou para os livros se havia esse tipo de
lugar. “Esse lugar tem um nome e uma
localização para que não me perca na hora de procura-lo?” Os livros responderam
de forma dúbia. “Talvez sim, talvez não.” “Nem todos os lugares que se procura
tem um nome ou uma localização.” “Então, daqui por diante, eu darei um nome para
cada lugar que encontrar e também escreverei histórias sobre ele.” Desde então,
viu o tempo passar bem devagar e sempre voltava aos livros por mais distante
que estivesse.
Mayron Régis
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