quinta-feira, 28 de maio de 2015

Baixo Parnaiba: Ver o tempo passar devagar



Ele lia para ver o tempo passar rápido. Ou talvez para que o tempo o levasse rápido. Não sabia explicar o que realmente acontecia quando lia. Só sabia que ao ler, deitado na cama, sentado numa cadeira ou, em pé, encostado a parede, julgava-se capaz de realizar todos os seus sonhos e resolver todos os seus dilemas. Ele leu muitos livros, das mais diversas áreas, então, um belo dia, isso não mais o satisfez. Ele queria agora ver o tempo passar mais devagar. Como fazê-lo? Argumentou com os livros, os quais empunhava todos os dias, que precisava de um tempo para por tudo que aprendera em ordem. Os livros perguntaram se os deixava para viver uma paixão qualquer. Não, ele respondeu, só quero por a prova o tempo que vivi.  Como fazê-lo? A melhor forma, para alguém que passara a vida toda lendo, era escrever sobre lugares onde não se lia ou não se escrevia quase nada. Aonde encontrar esses lugares, afinal, fora de si, só conhecia os livros e nada mais? Perguntou para os livros se havia esse tipo de lugar.  “Esse lugar tem um nome e uma localização para que não me perca na hora de procura-lo?” Os livros responderam de forma dúbia. “Talvez sim, talvez não.” “Nem todos os lugares que se procura tem um nome ou uma localização.” “Então, daqui por diante, eu darei um nome para cada lugar que encontrar e também escreverei histórias sobre ele.” Desde então, viu o tempo passar bem devagar e sempre voltava aos livros por mais distante que estivesse. 

Mayron Régis

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