sábado, 4 de janeiro de 2014

Entradas e Bandeiras- FAEMA lança campanha de ódio contra os Awás Guaja


Por Diogo Cabral
A famigerada FAEMA, organização sindical patronal que congrega membros virtuosos da União Democrática Ruralista-UDR ( aquela que faz leilão para comprar armas para assassinar índios) resolveu lançar campanha de ódio contra a étnia Awá Guajá, a tribo mais ameaçada do mundo, cujos membros, caçadores e coletores, vivem na amazônia maranhense.
Num blog denominado propositadamente de Questão Indígena (http://www.questaoindigena.org), a FAEMA e seus propaladores plantonistas pregam a resistência face à desintrusão da T.I Awá Guajá. Além, anunciam aos quatro cantos do mundo que agora defendem os pequenos produtores rurais (posseiros e sem terra), visto que a FETAEMA e a CONTAG abandonaram os lavradores.
Neste jogo de palavras, a FAEMA incorre em várias mentiras: a primeira, em relação à FETAEMA e à CONTAG, que, ao lado do STTR de Zé Doca e da Coordenação Sindical do Alto Turi, tem participado de várias audiências junto ao INCRA, TERRA LEGAL, ITERMA e GOVERNO DO MARANHÃO, objetivando o assentamento das 200 famílias de lavradores que ocuparam a TI há pouco mais de duas décadas.
Outra mentira é facilmente detectada quando a FAEMA afirma defender os lavradores. Óleo não se mistura com água, por isso devemos destacar que a região onde se localiza a TI Awá Guajá esconde em seu subsolo reservas auríferas, além da riqueza da floresta. No momento em que a TI é ''concretizada'', os 118 mil hectares de florestas saem do mercado de terras, impedindo que grandes proprietários comprem direitos possessórios ou reais de qualquer natureza. Não são os lavradores que defende a FAEMA, mas o palmo de terra que ocupam.
Devemos adentrar na história para entender a atual campanha de ódio lançada contra os Awás, patrocinada pela FAEMA
A presença dos Awá Guajá na região do alto Rio Caru e afluentes do rio Gurupi é conhecida desde 1835 através de um Relatório do Presidente da Província do Maranhão. A informação foi confirmada por outros estudos de viajantes e por velhos índios Guajajara que coabitam a região. Esses dados fazem parte de um estudo da Funai sobre a terra dos Guajá.
O decreto do então presidente Jânio Quadros, que criou em 1961 a Reserva Florestal do Gurupi com 1.674.000 hectares, veio confirmar as terras indígenas na região. O decreto tem um artigo que diz: “Dentro do polígono da Reserva Florestal serão respeitadas as terras de índio, de forma a preservar as populações aborígenes, de acordo com preceito constitucional e a legislação específica em vigor, bem como os princípios de proteção e assistência aos silvícolas, adotados pelo Serviço de Proteção aos Índios”.
Desde 1985, quando foi identificada pela Funai, com 232 mil hectares, a TI Awá teve delimitações diferentes. Em maio de 1988, uma portaria interministerial nº 76 declarava de posse permanente dos Guajá, 147.500 hectares, ou seja, diminuiu a área considerada pela Funai. Em setembro do mesmo ano, outra portaria interministerial, a de nº 158, revogava a portaria 76 e declarava de posse permanente indígena, 65.700 hectares. Em maio de 1990, a portaria nº 448 interditou 18. 750 hectares contínuos aos 65.700 hectares, totalizando 84.450 hectares. Finalmente, depois de reduções e acréscimos, a extensão da TI Awá foi declarada pela portaria do então ministro da Justiça, Celio Borja nº 373, de 27/07/1992, com 118.000 hectares.

Essas alterações de extensão revelam as pressões que o procedimento dermacatório da terra dos Guajá sofreu, e que continuou após a última declaração de posse permanente indígena.
Segundo informações contidas em documentos da Funai, em outubro de 1992, a Cia Agropecuária Alto Turiaçu obteve liminar favorável em Mandado de Segurança impetrado contra a Portaria n.373/MJ/92 que lhe permitiu permanecer na TI Awá.
Em fins de 1994 foi iniciado o trabalho de demarcação física da TI Awá, com base na portaria 373/92. Porém, a equipe que realizava o trabalho foi impedida por moradores da região de continuar a demarcação. Por falta de segurança o trabalho foi suspenso.

Em 1996, a partir da publicação do Decreto 1775/96 que insere no procedimento demarcatório a possibilidade de contestação de pessoas físicas e jurídicas, a Agropecuaria Alto Turiaçu contestou a TI alegando que sua propriedade havia sido atingida. Entretanto, a contestação foi considerada improcedente pela Funai e pelo ministro Nelson Jobim.1
Assim, a TI Awá estende-se por cerca de 118.000 hectares, o que é menos da metade da área proposta originalmente em 1985. Cerca de 54 Awá contatados vivem em uma comunidade próxima ao posto da FUNAI chamado Juriti, e ocasionalmente Awá isolados têm sido vistos em outras partes do território.
Com a construção da estrada BR 222 na década de 1950, e a descoberta em 1967 de vastos depósitos de minério de ferro na Serra dos Carajás no estado do Pará e consequente instalação do Projeto Grande Carajás, parcialmente financiado pelo Banco Mundial e pela Comunidade Econômica Europeia, a ferrovia da mina até a costa oceânica, (porto da capital São Luís-MA), concluída em 1985, cortou diretamente a terra dos Awá.

As terras Awá se tornaram rapidamente acessíveis aos forasteiros, em particular, madeireiros podiam obter altos lucros com as madeiras de lei, fazendeiros e agricultores de pequena escala também prosperaram. Todos aproveitaram da evidente ausência de qualquer forma eficaz de aplicação da lei na região: a brutal opressão aos Awá, e mesmo seus assassinatos, ficaram impunes. Aqueles que não morreram pelas armas, muitas vezes, sucumbiram às doenças introduzidas, para as quais os Awá não tinham imunidade. A espoliação do patrimônio indígena foi incentivada por políticas governamentais em período remoto, porém ilegal por conta da constituição de 1988, vigente, e até mesmo das constituições anteriores, de 1967 e da emenda constitucional de 19692.

Em agosto de 2012 madeireiros começaram a convergir em direção à aldeia de Juriti, vindo de três direções diferentes. Em setembro de 2012, uma equipe da FUNAI e outros funcionários foram forçados a se retirar do Território por madeireiros armados. Poucos meses depois, em fevereiro de 2013, uns Awá de Juriti disseram à ong Survival que os madeireiros estavam agora a apenas 5 km de distância, e que eles já haviam marcado árvores a 3 km de distância.

Um declínio na taxa de desmatamento ao longo dos quatro anos anteriores ao registro da TI Awá – de cerca de 2.400 hectares em 2004 para apenas 16 hectares em 2008 – foi seguido em 2009 por um aumento de 375% em apenas 12 meses, resultando na perda de mais outros 6.000 hectares. O território alcançou a distinção de perder mais floresta em 2009 do que qualquer outro território indígena no país. Imagens de satélite capturadas em junho de 2010 mostram que, até essa data, cerca de 31% ou 37.000 hectares da TI Awá foram completamente desmatados. A zona tampão proposta em torno da TI foi ainda pior, perdendo 43% de sua cobertura florestal3.

Os mapas da FUNAI também identificam 3 grandes fazendas que têm desempenhado um papel importante na espoliação da TI Awá. A área desmatada pela Fazenda Caruturi aumentou de 240 hectares em 1991 para mais de 600 hectares em 1996, e para quase 1.000 hectares em 2010. Este dramático crescimento é explicado pela compra da fazenda em 1993 por um grande fabricante de parquet chamado INDUSPAR. A Fazenda Sampaio tem seguido um padrão parecido. Sob a propriedade de uma grande madeireira e serraria chamada Serraria Sampaio Ltda, uma área desmatada de pouco menos de 140 hectares em 2001, aumentou para mais de 5 vezes desse tamanho em 2010. Uma terceira fazenda pertence à Agropecuária Alto do Turiaçu Ltda, que ocupou 38.000 hectares de terra na TI Awá em 1985 e tem estado lá desde então. Esta empresa pertence ao Grupo Schahin, que opera nos setores de construção, imobiliário e outros setores com forte demanda por madeira.

A histeria da FAEMA em mobilizar setores à resistência4 tem ancoradouro, como já afirmamos, nos bilhões de reais que não serão mais acumulados pelo agronegócio com a matança dos Awás e a destruição da floresta. Conforme já afirmamos em recente artigo5, várias são as manobras para barrar a desintrusão da TI Awá. A sociedade brasileira deve está atenta permanentemente em cada manobra, que envolve parlamentares federais, prefeitos e governadores. Afinal, por trás de gritos inaudíveis, os grileiros, madeireiros e toda espécie de cupins destroçam a floresta e seus povos, numa verdadeira pilhagem bandeirante. Salvemos os Awás!

                                       Mapa de localização- TI Awá- Fonte: Instituto Sócio Ambiental

Diogo Cabral, 30 anos, advogado da FETAEMA e CPT/MA, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MA




1http://site-antigo.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=512
2http://www.cimi.org.br/pub/MA/Awa-Guaja/PETICAOAWA_03MAIO2013.pdf
3http://www.cimi.org.br/pub/MA/Awa-Guaja/PETICAOAWA_03MAIO2013.pdf
4http://www.questaoindigena.org/2013/12/moradores-de-sao-joao-do-caru-prometem.html

5http://diogodrcabral.blogspot.com.br/2013/12/salvemos-os-awas-das-garras-de-weverton.html

Nenhum comentário:

Postar um comentário