Indefeso e cercado por campos de
eucaliptos, o que não basta mais agora as poucas águas do Riacho Santo Amaro
serve para alimentar determinadas construções, ato esse que formaliza-se na
imagem de caminhões-pipas tirando suas águas três vezes por dia, o que não se
sabe é se esses responsáveis por essas atividades tem licença ou não. Vale a
sociedade civil juntamente com os moradores do Povoado Baixa Grande averiguar a
questão. Pois o problema da extração de água ilegal pode rolar até processo no
ministério público segundo as leis. O riacho é composto por uma área repleta de
buritizais e até juçaras, infelizmente esse afluente do Rio Mocambo vem
enfrentando na resistência o impacto ambiental desde tempos bem remotos.
O Riacho Santo Amaro remonta uma história
romântica entrelaçada na memória dos primeiros moradores da região. Segundo
informações do Sr. Zé Martins, líder de Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs),
um dos primeiros habitante daquelas redondezas, o mesmo contou que naquela
época tudo era diferente; as águas do riacho eram bem claras, as pessoas
usufruíam dos seus produtos naturais e vegetais mas com extremo respeito,
colhiam o fruto do buriti; pescavam, caçavam... vivendo portanto em verdadeira
comunhão com a fauna e flora antes da chegada do eucalipto no final da década
de 70. Zé Martins acrescenta que a comunidade trabalhava em mutirão: cobrindo
casas, trocando diárias de serviços na roça e quando abatiam algum animal a
exemplo de porco ou gado cada família tinha direito em uma pequena parte para o
sustento de seus filhos. Pois isso estava muito longe daquilo que se chama
ganância capitalista pelo poder e dinheiro. A primeira CEB a ser fundada no
município de Urbano Santos foi na Associação de Moradores do Povoado Santo
Amaro – Baixa Grande, em 1968, com o apoio dos padres Xavier e Zé Antonio,
vultos históricos que revolucionaram a educação e o pensamento de liberdade em
Urbano Santos num momento conturbado da política nacional – a Ditadura Militar.
Mas infelizmente esse ar de segurança e paz com o meio ambiente e a ecologia dura
pouco. No inicio de 1980 a “Empresa Florestal LTDA” chega no município de
Urbano Santos e instala seu primeiro viveiro de teste justamente na área que
pertencia a associação, a chamada Fazenda
Santo Amaro; começa por ali as primeiras discórdias e conflitos agrários
entre os representantes da empresa e os moradores do povoado representados e
orientados pelo movimento social com o apoio da igreja católica. A luta ficava
cada vez mais tensa, foi quando representantes da empresa decidiram conversar
com os líderes do movimento em defesa da reforma agrária e do meio ambiente. O
certo é que chegaram em um determinado acordo, que a associação ficasse com as terras do lado
direito do riacho e a Florestal com as
do lado esquerdo, foi ai então
que eles abriram grandes campos para os primeiros experimentos de eucaliptos em
nossa região, onde as espécies se deram muito bem. Construíram uma casa de
fazenda próximo ao Rio Mocambo e plantaram diversas mudas de eucaliptos nas
redondezas. Muitas ectares foram negociadas com a empresa nesse período do
inicio de 80, principalmente por intermédio dos governos municipais.
Com isso os trabalhadores rurais
foram expulsos de suas terras, onde estas passaram a pertencer famílias
influentes do município; isso se reflete até os dias de hoje no que se diz
respeito à desapropriação e usucapião do Povoado Baixa Grande. O Riacho Santa
Amaro vive na resistência tanto do afeto problemático do eucalipto quanto agora
desses fantasmas caminhões-pipas que apareceram ninguém sabe de onde para
roubar suas águas, assombrar seus peixes e maltratar a mãe natureza.
JOSÉ
ANTONIO BASTO
Urbano Santos/ 12- 01 - 2014
militante dos direitos humanos
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