Ela
tinha vontade de comer pequi com galinha caipira; mas onde acharia pequi nesse
tempo. É tempo de pequi? De fevereiro a maio eles desabam no chão. A Vanessa
diria que para as bandas da chapada da Comunidade Pequi, haveríamos de
achar os frutos populares do cerrado, naquela imensa chapada ainda pouca
visitada. Sairíamos cedo com o tempo bastante neblinado, um sereno
leve e as estradas cheias de lagoas, pois a chuva da noite anterior tinha sido
forte e com certeza haveríamos de encontrar os pequis, todavia encontramos os
bacuris.
O
destino pelas chapadas a procura dos pequis se transformara num encontro casual
com os bacuris – aquela chapada ainda não explorada como poucas pelo Baixo
Parnaíba. Com particularidades, comumente se ver pequi com bacuris entrelaçados
– já por ali ao em vez de encontrá-los, deparamo-nos com os bacurizeiros.
Encontrava-se também extrativistas circulando nas veredas com suas bicicletas a
procura dos bacuris - a massa (polpa) já chegara a vinte reais no mercado,
eles acharam muitos bacuris, pois os jacás estavam cheios dos frutos amarelos.
A chapada do Pequi entre as extremidades das comunidades Riacho Seco e São José
sempre foi rica em tudo, território de posseiros que inda não foi vendido para
o agronegócio – gaúchos já estão de olho na área. Muito pasto, madeira, capim
silvestre e caça... É uma das poucas da região que concentra grandes
áreas de bacurizais e outros importantes frutos do cerrado. Encontrava-se
bacuri aqui e acolá e nada dos pequis, por que não encontra-los, estavam em
extinção? A questão é que cada chapada tem suas particularidades. A princípio
se pensava que não se achava tanto... talvez um número suficiente para comer
com farinha ou fazer um suco após o almoço. A cada momento aparecia os bacuris
espalhados sobre o chão da chapada, muita mutuca e maruim. A chuva aumentava a
cada momento. Caia mais bacuris e nada de encontrar os pequis, teríamos que
achá-los de qualquer jeito, mas o destino nos reservava algo diferente: os
bacurizeiros que apareciam a cada momento pela frente nos dava a graça de
encher os cestos.
Deixávamos
a chapada por causa da chuva tensa já por volta do início da tarde, o tiracolo
com os bacuris sobre a garupa da motocicleta balançava, uma hora caiu num
areal, - baixa de área. A chapada ficava lá, num clima de paz e de saudades.
Meus avós a herdaram muito antes de eu ter nascido; ficaram para meus
pais. Hoje ela produz seus frutos, os frutos da natureza que é do bem coletivo
das comunidades tradicionais. A trajetória do procura dos pequis se
transformara num casual encontro com os bacuris. É fácil beber o suco do bacuri
já pronto geladinho como se bebe nas lanchonetes– difícil é colhê-los nas
chapadas.
José Antonio Basto
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