terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Conversa de agricultor


Anapurus. Povoado Santa Maria. Propriedade do senhor Raimundo. Rio da Fonte. O menino Pedro tagarelou bastante dentro do carro. Na escola, ele preferia matemática e português. Entre bacuri e pequi, a escolha era bacuri. Lembrava-se muito bem que depois de uma ladeira haveria outra. Na casa dos avós, perguntou se não queriam ver o rio da Fonte e o rio da Avó, braços do rio Munim. Pensara em não aceitar o convite de imediato. Um rio a mais ou a menos, tanto faz, depois de visitar inúmeras comunidades do Baixo Parnaiba. Por outro lado, a presença do Pedro o encantara. Resolveu segui-lo.
Eles Caminharam alguns metros da casa do senhor Raimundo até o rio da Fonte. O rio se enchera em demasia. Dois dias que chovia. Parava um pouco. Prosseguia. Por conta das chuvas, o rio carreava muita matéria orgânica. Não havia como o atravessar para chegarem ao rio da Avó. Os anos seguidos de estiagem fizeram com que o rio da Fonte secasse pela primeira vez. A água brutalizava ao redor e abocanhava as margens. Confeririam cena semelhante numa lagoa que vertia o excesso de agua na propriedade do Erisvan no povoado Morros, também município de Anapurus. A única diferença seria o coachar dos sapos e das rãs da lagoa.
Antes do rio secar, senhor Raimundo saira para pescar no trecho perto da sua casa. Pescou uns peixes grandes. Não era conversa de pescador. No geral, ele conversava mais como agricultor e criador de pequenos animais do que pescador. Nos áureos tempos, criou-se mais de cem bodes na sua propriedade. Ele reduziu para menos de vinte porque tem sempre um “sócio” interessado em roubar a criação do outro. Os campos de soja impeliram as pessoas para a sede de Anapurus, onde vivem de bico. Provavelmente, duas dessas pessoas quiseram roubar uma cabra do senhor Raimundo. A cabra esperneou e a moça que a segurava caiu e feriu o rosto. Deixaram a cabra em Anapurus e foram atrás de atendimento médico. Por um acaso, um senhor viu a cabra e reconheceu a marca do senhor Raimundo que não demorou muito bateu na porta da casa reclamando o animal. Os filhos do casal relutaram em devolver. O seu Raimundo levou um companheiro a tiracolo para uma urgência, mas não precisou dos seus serviços especializados.
O seu Raimundo e seus irmãos herdaram mais de duzentos hectares do seu pai que ao longo do tempo comprara muitas terras no município de Anapurus. Só que tivera medo do governo federal toma-las e vendeu as propriedades no Angical e na Santa Maria II. Restou a Santa Maria. Para que a propriedade permaneça nas mãos da família, o seu Raimundo comprou as heranças dos irmãos que moram em São Luis. Por enquanto, só cercou os seus quinze hectares originais. Na ponta do lápis, ele gastou mais de vinte mil reais nessa empreitada. Ira deixar um patrimônio considerável para os filhos quando se for.    

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