Anapurus. Povoado Santa Maria.
Propriedade do senhor Raimundo. Rio da Fonte. O menino Pedro tagarelou bastante
dentro do carro. Na escola, ele preferia matemática e português. Entre bacuri e
pequi, a escolha era bacuri. Lembrava-se muito bem que depois de uma ladeira
haveria outra. Na casa dos avós, perguntou se não queriam ver o rio da Fonte e
o rio da Avó, braços do rio Munim. Pensara em não aceitar o convite de imediato.
Um rio a mais ou a menos, tanto faz, depois de visitar inúmeras comunidades do
Baixo Parnaiba. Por outro lado, a presença do Pedro o encantara. Resolveu
segui-lo.
Eles Caminharam alguns metros da
casa do senhor Raimundo até o rio da Fonte. O rio se enchera em demasia. Dois
dias que chovia. Parava um pouco. Prosseguia. Por conta das chuvas, o rio
carreava muita matéria orgânica. Não havia como o atravessar para chegarem ao
rio da Avó. Os anos seguidos de estiagem fizeram com que o rio da Fonte secasse
pela primeira vez. A água brutalizava ao redor e abocanhava as margens.
Confeririam cena semelhante numa lagoa que vertia o excesso de agua na propriedade
do Erisvan no povoado Morros, também município de Anapurus. A única diferença
seria o coachar dos sapos e das rãs da lagoa.
Antes do rio secar, senhor
Raimundo saira para pescar no trecho perto da sua casa. Pescou uns peixes
grandes. Não era conversa de pescador. No geral, ele conversava mais como
agricultor e criador de pequenos animais do que pescador. Nos áureos tempos,
criou-se mais de cem bodes na sua propriedade. Ele reduziu para menos de vinte
porque tem sempre um “sócio” interessado em roubar a criação do outro. Os
campos de soja impeliram as pessoas para a sede de Anapurus, onde vivem de
bico. Provavelmente, duas dessas pessoas quiseram roubar uma cabra do senhor
Raimundo. A cabra esperneou e a moça que a segurava caiu e feriu o rosto.
Deixaram a cabra em Anapurus e foram atrás de atendimento médico. Por um acaso,
um senhor viu a cabra e reconheceu a marca do senhor Raimundo que não demorou
muito bateu na porta da casa reclamando o animal. Os filhos do casal relutaram
em devolver. O seu Raimundo levou um companheiro a tiracolo para uma urgência,
mas não precisou dos seus serviços especializados.
O seu Raimundo e seus irmãos
herdaram mais de duzentos hectares do seu pai que ao longo do tempo comprara
muitas terras no município de Anapurus. Só que tivera medo do governo federal
toma-las e vendeu as propriedades no Angical e na Santa Maria II. Restou a
Santa Maria. Para que a propriedade permaneça nas mãos da família, o seu
Raimundo comprou as heranças dos irmãos que moram em São Luis. Por enquanto, só
cercou os seus quinze hectares originais. Na ponta do lápis, ele gastou mais de
vinte mil reais nessa empreitada. Ira deixar um patrimônio considerável para os
filhos quando se for.
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