Há quem diga: por que alguém escolheria
escrever sobre chapadas? Modestamente afirmo que “o ato de escrever que me persegue desde a pré-adolescência é, quase uma
necessidade vital, com um pouco de autocritica e alguns tempos de leituras
solitárias, fui aprendendo e buscando desenvolver minha própria forma de polir
as letras”, escrevendo textos em prosa... em versos ou reportagens sobre as
comunidades tradicionais da Região do Baixo Parnaíba Maranhense; aquela gente e
seus modos de vida passaram a fazer parte dessas histórias – partindo da
preocupação que tenho a respeito dos problemas da terra, conflitos no campo,
batalha dos trabalhadores rurais pela preservação de seu território – local
sagrado de onde tiram o necessário para manterem suas sobrevivências e
reprodução cultural. Nessa carreira fui então descobrindo que minha literatura
não deve ser muito do agrado da academia, mas é uma forma muito pessoal da
junção de dois ou mais gêneros que se completam. Criei forças na alma e nos pulmões
para seguir essas estradas, abrindo veredas nas páginas da história do meu
povo, por isso não posso ter preocupações com o julgamento externo da crítica -
vejo com humidade. Preocupo-me mais com o sentimento de justiça e direitos na
prática de que com o que ao mesmo tempo escrevo. Acalento-me! Creio que essa
prosa-poética e esse estilo venha suprir as necessidades de pesquisadores ou
mesmo de meros leitores e curiosos sobre o assunto. Desde alguns anos atrás,
essas simples produções tem se tornado mais presentes em meu cotidiano,
compartilhadas em meu blog: bastopoetaemilitante.blogspot.com e no do Fórum
Carajás: territorioslivresdobaixoparnaiba.blogspot.com.br. As palavras
transformaram-se e vão se transformando na imaginação e na realidade de um
convite para almoçar galinha caipira ou mesmo numa reunião com associação para
tratar sobre Reforma Agrária e questões socioambientais. São essas chapadas onde
plantei meu chão de vida, donde nasci, criei amizades e sobrevivi obstáculos na
luta pela vida. Convicto sempre estou de que uma nova etapa dos tempos é
possível, mas que existem muitos desafios pela frente para a concretização
urgente de um novo modelo de desenvolvimento sustentável e solidário. Segue aos
leitores esta mensagem para melhor compreensão sobre nosso Baixo Parnaíba e
suas belas chapadas... seus problemas e nosso ideal. Tomamos caraná nessa
viagem de maneira lúdica, podendo assim ver de perto suas perdas e vitórias,
avaliando com sensibilidade a realidade de um povo quase que esquecido pelos
poderes e órgãos competentes, mas que lutam e defendem seu território. Essa é
minha prosa... meus versos! Narrativa ou narrados! Não sei, ao mesmo tempo, sem
toque ou quase poesia, onde a chapada clamava dizendo assim: “Estou morrendo
com sede, / Meus rios estão secando, / Pássaros já não voam mais / Terra e água
é só veneno! / Que desgraça! / Essa situação / Em que me colocaram, / Meu povo
chora com fome / Porque o agronegócio não nos / Oferece nada... nada! / A
miséria é demais! / As grotas e lagoas não tem mais peixes, / Os rios nem se
falam! / Cadê o tatu das chapadas? / Cadê o peba e a cotia? / Cadê os bacuris e
pequis? / Cadê a mangaba? / Cadê toda fauna e flora? / Tudo desapareceu! / Os
correntões levaram, devastaram... / Não vejo mais nada, nada vejo... / Minha
natureza em tempos de outrora, / Nessa
louca alucinação / E ganancia pelos lucros / Da expropriação das terras / Com o
eucalipto e a soja aqui no Baixo Parnaíba / Infelizmente parece que / Todo
mundo vai morrer a míngua / Na verdade não parece... é pura realidade mesmo, / No
mesmo campo haveremos de expirar / Porque está faltando água para todo mundo / Aqui
e em lugares distantes / As doenças crescem a cada dia / A biodegradação também
/ Em seu além-mar... / Não consigo respirar! / Em meio a todo esse processo / De
destruição da própria vida; / De desacato aos direitos humanos... / De impacto
ambiental / De impunidade / Sem respeito a biodiversidade / E a ecologia... / Precisamos
acordar, / Entender e sobretudo sonhar com um outro mundo [...].
José Antonio Basto
e-mail: bastosandero65@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário