segunda-feira, 6 de junho de 2016

Os pressupostos da prosa e do verso que a chapada tem





Há quem diga: por que alguém escolheria escrever sobre chapadas? Modestamente afirmo que “o ato de escrever que me persegue desde a pré-adolescência é, quase uma necessidade vital, com um pouco de autocritica e alguns tempos de leituras solitárias, fui aprendendo e buscando desenvolver minha própria forma de polir as letras”, escrevendo textos em prosa... em versos ou reportagens sobre as comunidades tradicionais da Região do Baixo Parnaíba Maranhense; aquela gente e seus modos de vida passaram a fazer parte dessas histórias – partindo da preocupação que tenho a respeito dos problemas da terra, conflitos no campo, batalha dos trabalhadores rurais pela preservação de seu território – local sagrado de onde tiram o necessário para manterem suas sobrevivências e reprodução cultural. Nessa carreira fui então descobrindo que minha literatura não deve ser muito do agrado da academia, mas é uma forma muito pessoal da junção de dois ou mais gêneros que se completam. Criei forças na alma e nos pulmões para seguir essas estradas, abrindo veredas nas páginas da história do meu povo, por isso não posso ter preocupações com o julgamento externo da crítica - vejo com humidade. Preocupo-me mais com o sentimento de justiça e direitos na prática de que com o que ao mesmo tempo escrevo. Acalento-me! Creio que essa prosa-poética e esse estilo venha suprir as necessidades de pesquisadores ou mesmo de meros leitores e curiosos sobre o assunto. Desde alguns anos atrás, essas simples produções tem se tornado mais presentes em meu cotidiano, compartilhadas em meu blog: bastopoetaemilitante.blogspot.com e no do Fórum Carajás: territorioslivresdobaixoparnaiba.blogspot.com.br. As palavras transformaram-se e vão se transformando na imaginação e na realidade de um convite para almoçar galinha caipira ou mesmo numa reunião com associação para tratar sobre Reforma Agrária e questões socioambientais. São essas chapadas onde plantei meu chão de vida, donde nasci, criei amizades e sobrevivi obstáculos na luta pela vida. Convicto sempre estou de que uma nova etapa dos tempos é possível, mas que existem muitos desafios pela frente para a concretização urgente de um novo modelo de desenvolvimento sustentável e solidário. Segue aos leitores esta mensagem para melhor compreensão sobre nosso Baixo Parnaíba e suas belas chapadas... seus problemas e nosso ideal. Tomamos caraná nessa viagem de maneira lúdica, podendo assim ver de perto suas perdas e vitórias, avaliando com sensibilidade a realidade de um povo quase que esquecido pelos poderes e órgãos competentes, mas que lutam e defendem seu território. Essa é minha prosa... meus versos! Narrativa ou narrados! Não sei, ao mesmo tempo, sem toque ou quase poesia, onde a chapada clamava dizendo assim: “Estou morrendo com sede, / Meus rios estão secando, / Pássaros já não voam mais / Terra e água é só veneno! / Que desgraça! / Essa situação / Em que me colocaram, / Meu povo chora com fome / Porque o agronegócio não nos / Oferece nada... nada! / A miséria é demais! / As grotas e lagoas não tem mais peixes, / Os rios nem se falam! / Cadê o tatu das chapadas? / Cadê o peba e a cotia? / Cadê os bacuris e pequis? / Cadê a mangaba? / Cadê toda fauna e flora? / Tudo desapareceu! / Os correntões levaram, devastaram... / Não vejo mais nada, nada vejo... / Minha natureza em tempos de outrora, /  Nessa louca alucinação / E ganancia pelos lucros / Da expropriação das terras / Com o eucalipto e a soja aqui no Baixo Parnaíba / Infelizmente parece que / Todo mundo vai morrer a míngua / Na verdade não parece... é pura realidade mesmo, / No mesmo campo haveremos de expirar / Porque está faltando água para todo mundo / Aqui e em lugares distantes / As doenças crescem a cada dia / A biodegradação também / Em seu além-mar... / Não consigo respirar! / Em meio a todo esse processo / De destruição da própria vida; / De desacato aos direitos humanos... / De impacto ambiental / De impunidade / Sem respeito a biodiversidade / E a ecologia... / Precisamos acordar, / Entender e sobretudo sonhar com um outro mundo [...].                                      

José Antonio Basto
e-mail: bastosandero65@gmail.com

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