quarta-feira, 1 de junho de 2016

Comunidades tradicionais e seus modos de vida




“Muitas coisas mudaram por aqui, tudo está diferente... há algum tempo atrás nós vivíamos em paz, em comunhão com a natureza, aqui não tinha conflitos de terra, nem eucalipto, nessas chapadas se encontrava tudo, bacuri, pequi, mangaba... existia muitas matas para fazer nossas roças e para caçar, água era com fartura, hoje tudo está morrendo e nós indo junto.” Essas são as palavras de um camponês do Baixo Parnaíba maranhense, analisando o antes e o agora, quando falava numa certa conversa a respeito dos problemas causados pelo agronegócio em nossa região. Os modos de vida de muitas populações rurais estão ameaçados, principalmente as comunidades atingidas diretamente pelas plantações de eucalipto em Urbano Santos, Santa Quitéria, Buriti de Inácia Vaz e Chapadinha. O agronegócio é um dos responsáveis pela violência no campo, gerador de desigualdades sociais, impactos no modo de vida e novas necessidades de saúde nos homens e mulheres do campo. As comunidades tem tido suas condições de vida extremamente transformadas pelo sistema e modo de produção que a monocultura do eucalipto e a soja operam. As mudanças na sociedade, a modificação da paisagem e todo uma questão que diz respeito a desacato aos direitos humanos. Os empreendimentos dos monocultivos no Baixo Parnaíba tem sido um dos maiores responsáveis pelas transformações socioambientais. A região se tornou da década de 80 para cá em uma arena de conflitos entre grandes empresas e as pequenas unidades de produção. Hoje em dia sofremos as consequências do projeto que se dizia “modelo de desenvolvimento” imposto pelo regime militar no final da década de 70 e inicio de 80. Naquela época o momento era caracterizado pelo incentivo a grandes projetos justificando pela necessidade do avanço e crescimento econômico, principalmente no nordeste. O cerrado foi visto naquele período como um grande vazio da população e renda do capital. É daí então que a região sofre intensas ocupações balizadas nos apetrechos tecnológicos difundidos pela falsa “revolução verde”. O Baixo Parnaíba entra nesse jogo, pois a maioria das áreas rurais são cobertas por chapadas e foram compradas num preço baixíssimo, além daquelas que entraram no sistema de grilagem. Os trabalhadores rurais foram enganados e muitos deles expulsos de suas áreas agricultáveis e extrativistas, obrigados a se mudarem para as cidades e ver seus filhos entrarem no submundo da droga e prostituição. Os problemas fundiárias foram avançando ao ponto de algumas comunidades ao longo do tempo, partiram para a luta e o conflito direto, a exemplo das lideranças de Bracinho em Anapurus e São Raimundo – Urbano Santos, que chegando ao limite extremo, conseguiram respeito e avanços na defesa do seus territórios, mantendo sua cultura e preservando seus modos de vida tradicional. Outrora as chapadas do Baixo Parnaíba eram de uso exclusivo dos moradores da região, que tinham sobre seus recursos um direito de uso em comum; era uma terra comum, onde todos os membros de uma comunidade podiam extrair os recursos necessários da terra e das águas, desde que obedecido as vezes códigos estabelecidos pela própria comunidade. Era também nas chapadas que os moradores podiam criar animais no regime de solta como bode, porco e gado, engordavam seus bichos com capim nativo, alimentavam os animais de trabalho, como cavalos, jumentos e burros. A chapada era, ao mesmo tempo, “de ninguém e de todo mundo”, era uma terra “coletiva, costumeira e indivisa”.

José Antonio Basto

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