“Muitas coisas mudaram por aqui, tudo está diferente...
há algum tempo atrás nós vivíamos em paz, em comunhão com a natureza, aqui não
tinha conflitos de terra, nem eucalipto, nessas chapadas se encontrava tudo,
bacuri, pequi, mangaba... existia muitas matas para fazer nossas roças e para
caçar, água era com fartura, hoje tudo está morrendo e nós indo junto.” Essas
são as palavras de um camponês do Baixo Parnaíba maranhense, analisando o antes
e o agora, quando falava numa certa conversa a respeito dos problemas causados
pelo agronegócio em nossa região. Os modos de vida de muitas populações rurais
estão ameaçados, principalmente as comunidades atingidas diretamente pelas plantações
de eucalipto em Urbano Santos, Santa Quitéria, Buriti de Inácia Vaz e
Chapadinha. O agronegócio é um dos responsáveis pela violência no campo,
gerador de desigualdades sociais, impactos no modo de vida e novas necessidades
de saúde nos homens e mulheres do campo. As comunidades tem tido suas condições
de vida extremamente transformadas pelo sistema e modo de produção que a
monocultura do eucalipto e a soja operam. As mudanças na sociedade, a
modificação da paisagem e todo uma questão que diz respeito a desacato aos
direitos humanos. Os empreendimentos dos monocultivos no Baixo Parnaíba tem
sido um dos maiores responsáveis pelas transformações socioambientais. A região
se tornou da década de 80 para cá em uma arena de conflitos entre grandes
empresas e as pequenas unidades de produção. Hoje em dia sofremos as
consequências do projeto que se dizia “modelo de desenvolvimento” imposto pelo
regime militar no final da década de 70 e inicio de 80. Naquela época o momento
era caracterizado pelo incentivo a grandes projetos justificando pela
necessidade do avanço e crescimento econômico, principalmente no nordeste. O
cerrado foi visto naquele período como um grande vazio da população e renda do
capital. É daí então que a região sofre intensas ocupações balizadas nos
apetrechos tecnológicos difundidos pela falsa “revolução verde”. O Baixo
Parnaíba entra nesse jogo, pois a maioria das áreas rurais são cobertas por
chapadas e foram compradas num preço baixíssimo, além daquelas que entraram no
sistema de grilagem. Os trabalhadores rurais foram enganados e muitos deles
expulsos de suas áreas agricultáveis e extrativistas, obrigados a se mudarem
para as cidades e ver seus filhos entrarem no submundo da droga e prostituição.
Os problemas fundiárias foram avançando ao ponto de algumas comunidades ao
longo do tempo, partiram para a luta e o conflito direto, a exemplo das
lideranças de Bracinho em Anapurus e São Raimundo – Urbano Santos, que chegando
ao limite extremo, conseguiram respeito e avanços na defesa do seus territórios,
mantendo sua cultura e preservando seus modos de vida tradicional. Outrora as
chapadas do Baixo Parnaíba eram de uso exclusivo
dos moradores da região, que tinham sobre seus recursos um direito de uso em
comum; era uma terra comum, onde todos os membros de uma comunidade podiam
extrair os recursos necessários da terra e das águas, desde que obedecido as
vezes códigos estabelecidos pela própria comunidade. Era também nas chapadas
que os moradores podiam criar animais no regime de solta como bode, porco e
gado, engordavam seus bichos com capim nativo, alimentavam os animais de
trabalho, como cavalos, jumentos e burros. A chapada era, ao mesmo tempo, “de
ninguém e de todo mundo”, era uma terra “coletiva, costumeira e indivisa”.
José
Antonio Basto
e-mail: bastosandero65@gmail.com
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