Maria Eva concluira
que eles não dariam as caras naquela manhã. Aguardara a confirmação na noite
anterior. Mayron Régis, assessor do Forum Carajás, ligara dias atrás. “Estás
com tempo sexta feira?” ele perguntou. “Sim, tenho tempo.” “Vamos à Formiga?” “
A Dayane, advogada da SMDH, entregou a mim o laudo da justiça sobre a área pela qual tua família briga
com a Suzano Papel e Celulose.” O perito Luiz Joaquim Macatrão Pires Costa,
engenheiro agrônomo contratado pela justiça de Brejo, terminou seu laudo no dia
29 de março de 2016 com a seguinte conclusão: “De acordo com o que foi
levantado a requerente (Suzano papel e Celulose) mantinha conduta de dono até
ser esbulhada pelos requeridos (familiares de Eva) que não conseguiram a posse
da área.” Marcou-se, então, a ida à Formiga para conversarem sobre o laudo
com os irmãos e primos de Eva, professora
aposentada de Anapurus. Ela guardava os documentos sobre a propriedade
que herdou e também guardava os documentos sobre o pedido de reintegração de
posse que a Suzano Papel e Celulose impetrara.
Segundo informações presentes no pedido de reintegração, a
Suzano comprou uma posse de 144 hectares, no ano de 1996, de Luiz Gonzaga
Montelo Viana e nomeou-a de fazenda Mirim II, município de Santa Quiteria. Nove
anos mais tarde, a empresa entrou com um pedido de reintegração de posse na
justiça contra os familiares de Eva. A justiça defere a liminar em 2011 e com esse
documento em mãos seguranças e funcionários derrubam casas e arrancam os arames
farpados. Eva e seus parentes, por outro lado, possuem documentos de 1966 que comprovariam a propriedade da área. Para
dirimir as dúvidas, a justiça de Brejo decidiu contratr um perito, o qual a
empresa pagaria, com o propósito de produzir um laudo pericial. O perito pra
produzir um laudo não pode se ater apenas à documentação. É necessário que ele
se desloque ao local dos fatos, entreviste pessoas e verifique a temporalidade
das posses divergentes através dos indícios deixados por um e por outro.
Eva desmanchara a viagem quando Mayron Régis e Edmilson
Pinheiro, secretario executivo do Fórum Carajas, finalmente deram as caras às nove da manhã de 10 de junho de 2016.
Eles dormiram em Carrancas, povoado de Buriti, município vizinho a Anapurus.
Com isso, Eva teve que desfazer o desfeito, ou seja, arrumar um carro que desse
conta das atribulações pelas quais passariam no caminho até a Formiga. A
caminhonete do seu primo Luis estava pro conserto, não servia. De um jeito ou
de outro, a Strada de Eva serviria. O
caminho mais apresentável era por Mata Roma, pelas áreas de soja, recentemente
colhidas, e pelos plantios de eucalipto. O que define os limites entre Mata
Roma e Anapurus é o rio Preto. O Vicente de Paula, agricultor de Carrancas,
dera noticia de boas chuvas em Buriti e de que a nascente do riacho das Tocas,
afluente do rio preto, enchera-se. Portanto, o leito do rio Preto carregava um
volume esperançoso de agua próximo aos Currais, município de mata Roma.
As pessoas de Formiga nunca lerão o laudo. Eles são
analfabetos. Uma das poucas pessoas que lê é a Eva mas não teve acesso ao
laudo. A conclusão do perito, de que a Suzano Papel e Celulose é a posseira do
imóvel, pode e deve ser contestada porque o perito omitiu em seu laudo os
marcos físicos e temporais que comprovam a posse dos 144 hectares por parte da família
de Eva. Quais são esses marcos ? Um cemitério, um mata-burro e os roçados. A
Suzano não deixou marcos sobre essa Chapada. Não tem parentes da Suzano
enterrados na Chapada.
Mayron Régis
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