quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Geraldo Iensen escreve sobre "De tudo, quase nada", coletânea de artigos de Mayron Régis

Quanto restou de silencio?

E o que são tiros que se ouvem e parecem vir das chapadas? São tiros de morte? De armas emprestadas pra acabar com aberrações ou o povo prascóvio de prascóvio não tem nada?
Tiros ainda se ouvem muitos no sertão. E muitos tombam. Tombam os homens, as máquinas ficam. A agricultura do agro negócio é de máquinas, como os robôs exterminadores de futuro.
E o que é o futuro além de terminologias do inferno como commodities, benchmark, Selic e outros nomes roskoffs ou semelhantes que se adentram na mata para por mulas com cabeças e acabar com o tradicional e o sustentável, tidos equivocadamente como barreiras ao crescimento econômico?
A sociedade de consumo (a mesma do espetáculo), que está em queda no mundo, ainda é um objetivo no Brasil dos anos dois mil em diante. A indústria automotiva é um desses equívocos. Não se constrói uma sociedade justa sobre um pra lá e pra cá individual e silencioso.
Talvez por isso encontremos nesse novo livro de Mayron Regis frases como “Quanto restou de silencio?”. A música é feita de som e silêncio intercalados. Já viram como o silêncio foi suprimido da música?
Não há tempo pra pensar. É preciso manter as pessoas com zumbidos na cabeça e não são zumbidos quaisquer. Daí outro trecho “As portas, em Afonso Cunha, ‘respiram’ um ar de desleixo e de resignação. Elas não respiram, alguém diria”. Será porque as carvoarias do cerrado maranhense tornam o ar irrespirável?
Como compreender a realidade do semi-árido? É isso que as reflexões encontradas neste livro tentam. Mas a tarefa é árdua. Com muitos lugares pra ver, sentir e parar.
“Uma parada que pode durar poucos minutos, assim como pode durar vários minutos. Depende do que está em jogo”.

“As comunidades de Afonso Cunha navegam na incerteza fundiária que se agravou e que agravou outras questões como as socioambientais com os desmatamentos das Chapadas para os plantios de soja”.

E não é só o município de Afonso Cunha e não é só a soja. É a monocultura no cerrado.
E isto está dito nesse trabalho de ourives de Mayros Regis. Os textos são polimentos de pérolas e diamantes de quem põe os pés naquele chão. São visões de olhos postos.
E o que é este livro? É “um lugar onde se comercializaria pensamentos filosóficos variados”.
E se um dia alguém correr; se um dia alguém gritar; se um dia alguém sofrer, se um dia alguém morrer... Esses dias já chegaram. E quem vai olhar pra essa gente? Não são paus retorcidos entrecortados pela beleza da flor do pequizeiro. Ali é o mundo todo.

“Vai ver foi a chuva que espantou os demais”.

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