Quanto restou de silencio?
E
o que são tiros que se ouvem e parecem vir das chapadas? São tiros de
morte? De armas emprestadas pra acabar com aberrações ou o povo
prascóvio de prascóvio não tem nada?
Tiros
ainda se ouvem muitos no sertão. E muitos tombam. Tombam os homens, as
máquinas ficam. A agricultura do agro negócio é de máquinas, como os
robôs exterminadores de futuro.
E
o que é o futuro além de terminologias do inferno como commodities,
benchmark, Selic e outros nomes roskoffs ou semelhantes que se adentram
na mata para por mulas com cabeças e acabar com o tradicional e o
sustentável, tidos equivocadamente como barreiras ao crescimento
econômico?
A
sociedade de consumo (a mesma do espetáculo), que está em queda no
mundo, ainda é um objetivo no Brasil dos anos dois mil em diante. A
indústria automotiva é um desses equívocos. Não se constrói uma
sociedade justa sobre um pra lá e pra cá individual e silencioso.
Talvez
por isso encontremos nesse novo livro de Mayron Regis frases como
“Quanto restou de silencio?”. A música é feita de som e silêncio
intercalados. Já viram como o silêncio foi suprimido da música?
Não
há tempo pra pensar. É preciso manter as pessoas com zumbidos na cabeça
e não são zumbidos quaisquer. Daí outro trecho “As portas, em Afonso
Cunha, ‘respiram’ um ar de desleixo e de resignação. Elas não respiram,
alguém diria”. Será porque as carvoarias do cerrado maranhense tornam o
ar irrespirável?
Como
compreender a realidade do semi-árido? É isso que as reflexões
encontradas neste livro tentam. Mas a tarefa é árdua. Com muitos lugares
pra ver, sentir e parar.
“Uma parada que pode durar poucos minutos, assim como pode durar vários minutos. Depende do que está em jogo”.
“As
comunidades de Afonso Cunha navegam na incerteza fundiária que se
agravou e que agravou outras questões como as socioambientais com os
desmatamentos das Chapadas para os plantios de soja”.
E não é só o município de Afonso Cunha e não é só a soja. É a monocultura no cerrado.
E
isto está dito nesse trabalho de ourives de Mayros Regis. Os textos são
polimentos de pérolas e diamantes de quem põe os pés naquele chão. São
visões de olhos postos.
E o que é este livro? É “um lugar onde se comercializaria pensamentos filosóficos variados”.
E
se um dia alguém correr; se um dia alguém gritar; se um dia alguém
sofrer, se um dia alguém morrer... Esses dias já chegaram. E quem vai
olhar pra essa gente? Não são paus retorcidos entrecortados pela beleza
da flor do pequizeiro. Ali é o mundo todo.
“Vai ver foi a chuva que espantou os demais”.
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