Diferente
do que muitos dizem e do que muitos pensam, a ganancia não foi determinante para
que os plantadores de soja e as empresas de eucalipto se apropriassem das terras
públicas e do imaginário da população no Baixo Parnaiba maranhense, caso fosse
determinante, como sugerem algumas conclusões, a ganancia compensaria a total inatividade
da sociedade maranhense em todos os seus
campos de atuação no Baixo Parnaiba. A ganancia é sempre um atributo
individual, então a sociedade ou parte dela não pode ser qualificada como
gananciosa e nem pelo seu oposto. Antes do agronegócio da soja abarcar boa
parte das áreas de Chapada, as pessoas se deslumbravam com o Baixo Parnaiba
pela generosidade das suas comunidades e pela generosidade da sua natureza. Ninguem
escapava dessa ampla generosidade e, por conta dessa amplitude, a generosidade
se tornou mortal para muitas comunidades porque, no final das contas, ela não
deveria ser ampla e nem deveria ser para qualquer um. Wilson Ambrozi, plantador
de soja do município de Brejo, relembra o dia em que perguntou aos moradores
quem era o dono daquele pedaço de Chapada e eles responderam que pertencia a
Deus e ele, prontamente, assumiu-se como filho de Deus e requereu para si um
bom pedaço de terra para iniciar o seu plantio. Nesse caso, pode-se dizer
qualquer coisa, menos que os agricultores foram gananciosos. Eles se deixaram
levar por alguém que veio de fora. Os de fora valem mais e os exemplos se
sucedem por mais que todos saibam as consequências que as monoculturas da soja
e do eucalipto trazem para o clima e para a vida dos agricultores. O estado do
Maranhão arrecadara a área de Chapada do povoado de Lagoa Seca, município de
Milagres. Por outro lado, um plantador de soja comprara uma pequena posse e
dirigira-se ao Iterma para apossar-se toda a Chapada. O setor jurídico dera
sinal verde para o plantador de soja, desconsiderando que terras públicas se
destinam para as comunidades que nelas vivem. O setor do Iterma que é
responsável pela arrecadação de terras propusera a comunidade e a SMDH a
retirada da posse para que o plantador de soja não contestasse o processo de
regularização fundiária. A comunidade de Lagoa Seca se coadunava com outras
comunidades, como a de Santa Helena e as do Pólo Coceira, em seus propósitos de
barrar os projetos de monocultura assim como no de regularização fundiária de
todos os territórios tradicionais de Milagres e Santa Quiteria. Qualquer
empreendimento, que ameaçasse desmatar uma comunidade, ver-se-ia com as demais,
até porque o território de Lagoa Seca se encalacrava ao de Santa Helena e o
território desta se encalacrava ao da Lagoa das Caraíbas, uma das comunidades
que impediam o projeto da Suzano no município de Santa Quitéria. Decerto que
algo se desaprumou, pois a Lagoa Seca assistiu passivamente os funcionários do
plantador de soja desmatarem a Chapada sem que nenhuma comunidade a acudisse
porque só ficaram sabendo muito tempo depois do ocorrido. Suspeitou-se, e
depois houve a confirmação, que a disputa pela Chapada da Lagoa Seca se
encerrou em favor do plantador de soja porque os interesses deste e os
interesses da comunidade coincidiram em desfavor desta. O desmatamento transcorreu
em 2009 e em junho de 2014 a comunidade de Santa Helena comemorou a titulação
de mais de 1000 hectares em seu nome. Não foi a ganancia ou a generosidade o
que motivou a desistência da Lagoa Seca. Houve sim impaciência quanto a demora
na titulação por parte do Iterma e indisciplina quanto a um projeto de
resistência frente aos projetos de monocultura.
Mayron Régis
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