sábado, 5 de maio de 2012

Plantações de eucalipto e cana-de-açúcar no Cerrado empurram gado para Amazônia


Um dos símbolos do Cerrado goiano, a Pedra do Chapéu do Sol, em Cristalina, a 288 quilômetros a leste de Goiânia e a 120 ao sul de Brasília, está cercada de plantações de eucalipto. O maciço rochoso de cerca de 100 toneladas que se equilibra numa base de menos de 2 metros quadrados perdeu a vegetação nativa em sua volta. É uma ilustração de um cenário mais amplo. O Ministério do Meio Ambiente estima que mais de 50% do Cerrado tenha sido desmatado.
A reportagem é de Leonencio Nossa e publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, 05-05-2012.

A destruição do bioma nos últimos anos tem impacto ainda mais direto na Amazônia que nas décadas passadas. A chegada de novas culturas como o eucalipto e a cana-de-açúcar ao sul de Goiás, norte de São Paulo e Triângulo Mineiro afasta o gado para a divisa de Mato Grosso com Amazonas e para o Piauí e o Maranhão, áreas que registram porcentuais elevados de desmatamento da floresta amazônica.

"O setor de álcool diz que só planta cana em terras já devastadas, mas há um desmate indireto na Amazônia", diz o professor Ricardo Machado, da Universidade de Brasília.

Especialista em Cerrado, Machado estima que as áreas de Cerrado protegidas por lei (reservas ambientais) chegam a 7,2% do segundo maior bioma brasileiro. "Esse porcentual não quer dizer muita coisa, pois as reservas estão concentradas em algumas áreas como o Jalapão", avalia.

Ele observa que não há uma distribuição homogênea que atenda toda as regiões e lembra que a última reserva criada para proteger o bioma foi a área das nascentes do Rio Parnaíba, entre os Estados da Bahia, do Piauí e do Tocantins, em 2002. "Até 2001, vínhamos num ritmo interessante de proteção do Cerrado, com a criação de reservas. Agora, chegamos num momento em que a proteção parou e o desmatamento aumentou."

Lagos
Dez anos após ser criado, o Parque Nacional das Nascentes do Parnaíba está na mira de grupos econômicos e governos, que querem utilizar as águas dos rios para formar lagos de usinas hidrelétricas ou plantações de soja. A reserva inclui terras da Bahia, do Maranhão, do Piauí e do Tocantins, mas é um parlamentar de São Paulo que pretende reduzir a extensão. O deputado federal Nelson Marquezelli (PTB) diz que a redução da área vai "melhorar a gestão" do parque.

Machado observa que o Cerrado ainda não conta com um planejamento "decente" de ocupação. "O bioma passou a fazer parte do discurso de vários órgãos públicos, mas em termos de ações concretas há pouca coisa."

O eucalipto já predomina em muitos trechos da região rural entre Goiânia e o Distrito Federal. Machado ressalta que não há uma preocupação em intercalar a nova cultura com áreas nativas, como ocorre em algumas regiões do oeste da Bahia. Também destaca que mesmo os órgãos de pesquisas agrícolas não incentivam a produção de árvores nativas de crescimento rápido, como o jacaré e o carvoeiro, que poderiam ser aproveitadas pela indústria de celulose.

Chapéu do Sol
A cidade de Cristalina tem a maior área agrícola irrigada da América Latina, segundo o Ministério da Agricultura. São 50 mil hectares de plantios de soja, milho e feijão. Os produtores do município movimentaram R$ 1,38 bilhão em 2010, garantindo à cidade uma das primeiras posições no ranking do PIB agrícola.

As plantações de soja ocupam os campos das margens do trecho inicial da estrada de terra de 7 quilômetros que liga o centro de Cristalina à pedra Chapéu do Sol. Já no terceiro quilômetro, os eucaliptos começam a aparecer, assim como pequenos garimpos e áreas de extração de terra. O maciço rochoso ocupa uma ponta de uma área preservada de Cerrado que não passa de 2 campos de futebol.

Os eucaliptos cercam o símbolo do Cerrado goiano e outras formações que apresentam gravuras rupestres de antigos povos da região.
www.ihu.unisinos.br

Maranhão tem mais de 23% das moradias fabricadas de taipa

Gildean Farias
Publicação: 04/05/2012 19:00
De acordo com os dados do Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado do Maranhão tem 23,53% de domicílios  construídos a partir do modelo casa de taipa, ou seja, erguida com madeira e revestida com palha.


Os números apontam ainda os municípios maranhenses com a maior quantidade de residências feitas a partir desse modelo. Anapurus, na região do Baixo Parnaíba, é a cidade com o maior número de casas de taipa - 79,70%, ou seja, quase a totalidade da população do município reside em moradias desse tipo.


Além de Anapurus, as cidades de Marajá do Sena (74,20%), São Benedito do Rio Preto (76,06%), Aldeias Altas (71,62%), Serrano do Maranhão (70,95%), São João do Sóter (69,98%), Pedro do Rosário (62,60%), Itaipava do Grajaú (61,82%), São João do Carú (60,98%) e Jenipapo dos Vieiras (60,43%), completam a lista dos 10 municípios com as maiores quantidades de casas de taipa.


Os dados do IBGE revelam ainda que a capital São Luís tem ainda 2,92% de residências construídas a partir do modelo. Essas residências estão situadas nas áreas rurais e invasões da capital.
 
www.oimparcial.com.br

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Davi x Golias: descendente indígena tenta direito à sua terra

Pedro Militão tem traços fortes de descendência indígena e, há décadas, ele e sua família são os únicos moradores da comunidade Saquinho, localizada na maior ilha do Delta do Parnaíba, numa casa simples, sem abastecimento convencional de água e energia elétrica.
Na região, cerca de dez quilômetros da praia da Pedra do Sal, não há qualquer tipo de saneamento básico. Militão vive dos animais que cria e da agricultura de subsistência na área no entorno de sua casa; é um senhor de 73 anos que vive como um ermitão na localidade de onde pouquíssimas vezes se ausenta, e que há quase cinco anos luta na Justiça contra a Multinacional Ecocity, que teria adquirido o direito de posse de várias áreas do local.
A luta de Pedro Militão é para ter reconhecida como sua a terra onde mora desde criança. “Já vieram muitas pessoas medir estas terras, muitos aviões sem asas (helicópteros) já desceram por aqui e não sei o que será de nós, que nunca saímos daqui nem temos para onde ir. O povo diz que tenho que provar na Justiça dos homens que estou aqui, são coisas que eu não entendo. Basta vir aqui e ver que moro mesmo nesta casa há muito tempo”, questiona Militão. 
Mesmo aos 72 anos, o morador tem vitalidade de poucos jovens e diariamente trabalha empunhando o cabo da enxada, com o facão sempre na cintura; ele alimenta suas criações e roça a vegetação selvagem, sendo também conhecido por muitos como curandeiro e sacerdote umbandista. Por isso, é bastante procurado por aqueles que acreditam na cura e tentam orientação espiritual nesta crença.
Processo de reintegração de posse na Justiça
De acordo com a Superintendente da Secretaria do Patrimônio da União do Piauí, Ana Célia Coelho Madeira, o órgão se posiciona de forma favorável ao reconhecimento dos direitos do senhor Pedro Militão, considerando o histórico de ocupação e o vínculo que o mesmo tem com a terra em que vive. Entretanto, a SPU não conseguiu ainda formalizar este direito formalmente em razão de procedimentos que precisam ser adotados no ato administrativo.
Então, o direito e a lei existem, mas neste momento há um questionamento na aplicação do dispositivo legal; o direito que existe na legislação precisa ser formalizado no processo administrativo. Existe o processo administrativo formalizado, o pedido de Pedro Militão foi negado a princípio pela assessoria jurídica por constarem ausências de instrução processual e também por uma interpretação da Conjur que precisamos tentar reavaliar.
Ela afirma que não está comprovado no processo que “Militão” tem um vínculo antigo com a posse, que é remanescente de comunidade tradicional indígena como é informado, e por conta disso, existem algumas providências que precisam ser adotadas pelo requerente.
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http://180graus.com/geral/davi-x-golias-descendente-indigena-tenta-direito-a-sua-terra-521119.html

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Comissão quer esclarecer casos de violência contra trabalhadores rurais

Comissão quer esclarecer casos de violência contra trabalhadores rurais


IMPERATRIZ — A Comissão Nacional de Combate a Violência no Campo vai se reunir com delegados de polícia, representantes do Ministério Público e Poder Judiciário, dentre outros, para solicitar maior agilidade em inquéritos policiais e processos em que trabalhadores rurais sejam vítimas de violência no Maranhão.
Desde a manhã desta quarta-feira (02) três membros dessa comissão acompanhados do superintendente regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), José Inácio Rodrigues, estão em Imperatriz para atender uma pauta de doze processos.
A meta do Ouvidor Agrário nacional, Gercino Silva e do presidente da Comissão de Ética do Ministério do Desenvolvimento Agrário, Claúdio Braga é propor acordos extrajudiciais com os posseiros e proprietários de terra para agilizar a liberação de áreas em processo para fins de reforma agrária no Estado.
Dentre os processos que estão na pauta de trabalho estão os acampamentos “Lote 7”, “Cipó Cortado”, “Batata da Terra”,” Toca da Raposa”, “ Estrada do Arroz” e “Fazenda Arizona”. Todos estão localizados na Região Tocantina.
Apesar do anuncio dessa pauta, Claudio Braga disse que o trabalho pode aumentar em razão de a comissão sempre abrir espaço na agenda para ouvir demanda de ultima hora de um trabalhador que tenha chegado de longe.
Claudio Braga ressaltou que as superintendências regionais do INCRA elaboram a pauta a partir daqueles casos que não conseguiu resolver.
A coordenadora do Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gilvânia Ferreira disse que a vinda da Comissão Nacional de Combate a Violência no Campo renova a esperança dos trabalhadores na abertura de um canal de negociação para fazer avançar a reforma agrária no Estado.
“A nossa expectativa enquanto movimento social é que nessa audiência, que é resultado inclusive da mobilização do 16 e 17 de abril em Imperatriz, que a gente consiga dar encaminhamento a esses processos porque tem áreas aguardando quatro anos pela emissão de posse, uma decisão judicial”, ressaltou Gilvânia Ferreira. Ela acrescentou vários trabalhadores rurais estão acampados há 6 anos e as terras são da União.
Depois de promover audiências na unidade do INCRA em Imperatriz, até sexta-feira, a Comissão Nacional pretende visitar uma área de terra no município de Santa Quitéria e uma nas proximidades de São Luis.

Agronegócio - Margens das grandes tradings sob pressão


Data: 03/05/2012
Autor(es): Por Fabiana Batista | De São Paulo
Balanços

Custos altos e volatilidade nas commodities agrícolas seguem pressionando lucro das gigantes do agronegócio global

"Houve retração em etanol e em óleos", disse a CEO da ADM Patrícia Woertz

Os resultados mais recentes divulgados pelas maiores tradings globais do agronegócio mostram que os custos mais altos, a extrema volatilidade nos preços das commodities e o recuo da demanda em alguns países, sobretudo na Europa, continuaram a prejudicar seus lucros.

Apesar de Archer Daniel Midland (ADM), Bunge e Cargill terem anunciado aumentos em suas receitas líquidas - de 4,9%, 10% e 4,9%, respectivamente -, o aperto nas margens afetou de forma generalizada os últimos balanços trimestrais divulgados pelo trio.  A Cargill foi a única entre as três a praticamente manter no período o lucro de um ano atrás.  Mas, no acumulado do ano fiscal, amarga uma forte retração nos resultados.

A operação de etanol ajudou a puxar para baixo o desempenho da ADM e da Bunge no trimestre encerrado em 31 de março - o último trimestre anunciado da Cargill foi encerrado em 29 de fevereiro.  Maior produtora do biocombustível nos Estados Unidos, a ADM anunciou na terça-feira que o lucro operacional de seu negócio de "bioprodutos", no qual o etanol é o principal item, caiu para US$ 37 milhões no trimestre, US$ 121 milhões a menos que de janeiro e março de 2011.  Bloomberg / Bloomberg"Perdemos em etanol no Brasil", afirmou o CEO da Bunge, Alberto Weisser

A mesma má notícia foi anunciada pela Bunge, que é uma das principais empresas de etanol de cana no Brasil, com sete usinas.  No trimestre, o prejuízo operacional em "açúcar e bioenergia" foi de US$ 33 milhões, ante lucro de US$ 2 milhões registrado há um ano.  "As menores margens com etanol no Brasil impactaram negativamente esse negócio", afirmou o CEO da Bunge, Alberto Weisser.

O retorno obtido com a operação de processamento de oleaginosas também foi prejudicado pela combinação de aumento dos custos dos grãos e dificuldade de repasse dessa alta na cadeia.  Na ADM, o lucro operacional desse segmento, que é um dos mais importantes da companhia, caiu US$ 117 milhões para US$ 395 milhões.  Nos nove meses encerrados em 31 de março, o saldo também é de queda para US$ 869 milhões, ante os US$ 1,145 bilhão do mesmo intervalo do ano anterior.

O desafio do processamento de oleaginosas, sobretudo na Europa, foi mencionado pela CEO da ADM, Patricia Woertz, em nota divulgada na última semana.  "Devolvemos bons resultados, apesar da dificuldade com margens em etanol e em óleos vegetais na Europa".  Bloomberg / Bloomberg"Navegamos melhor pelas incertezas", afirmou o CEO da Cargill, Greg Page

No trimestre, a Cargill, a maior companhia de agronegócio do mundo, conseguiu manter os mesmos níveis de lucro de igual período do ano-fiscal passado.  O resultado líquido foi positivo de US$ 766 milhões, US$ 3 milhões maior.

A repetição do resultado trimestral foi uma excelente notícia para a múlti americana, que no primeiro e no segundo trimestres do ano fiscal corrente (iniciado em junho de 2011) registrou, respectivamente, queda de 66% e 88% em seus lucros.  Naquele momento, a empresa reconheceu que foi desafiador lidar com as instabilidades da economia e do mercado financeiro global, sobretudo no negócio de trade de commodities.

Na divulgação dos resultados do trimestre, o CEO da Cargill, Greg Page, avaliou que a empresa conseguiu gerenciar melhor seus riscos macroeconômicos, em um ambiente marcado por elevada volatilidade de commodities.

Também pesou positivamente no desempenho da empresa o bom resultado do segmento de ingredientes alimentícios.  "Foram os maiores ganhos para este negócio em um terceiro trimestre na história da companhia", afirmou Page.

No trimestre, o lucro operacional de adoçantes e amidos (ingredientes) da ADM subiu de US$ 46 milhões para US$ 93 milhões, mas, nos nove meses encerrados em 31 de março, recuou de US$ 311 milhões para US$ 194 milhões.

Apesar dos últimos meses de lucros menores, que culminaram na demissão de funcionários por ADM e Cargill, o mercado espera para os próximos trimestres uma menor pressão sobre os custos dessa empresas.  Os estoques globais apertados e os preços altos dos grãos devem encorajar os produtores a semear áreas maiores no Hemisfério Norte em 2012/13, na avaliação do CEO do Bunge, Alberto Weisser.  Com mais oferta, as cotações das oleaginosas podem cair e pressionar menos os custos.  Para Patricia Woertz, da ADM, a chegada da safra sul americana ao mercado, os níveis de processamento de oleaginosas e de exportação de farelo devem retornar aos patamares sazonais.Fonte: Valor Online

quarta-feira, 2 de maio de 2012

MA: Assembleia Legislativa concede título de cidadão maranhense a prefeito que consta na ‘lista suja’ do trabalho escravo

Notícias
divulgação/internet
 Autor: divulgação/internet


Prefeito de Códo, Zito Rolim voltou a aparecer na lista suja do trabalho escravo, divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Os deputados estaduais do Maranhão aprovaram Projeto de Resolução Legislativa nº 002/2012, de autoria da deputada Graça Paz (PDT), que concede título de cidadão maranhense ao prefeito de Codó Zito Rolim (PV). Apesar de manifestação contraria de uma minoria, ou seja apenas quatro deputados.

A honraria é designada a toda pessoa física imbuída de elevado espírito público, com relevantes serviços prestados ao Estado. Talvez pela sua inclusão do seu nome na lista suja, seja um dos méritos deste gestor. A "lista suja" do trabalho escravo, como ficou conhecido o cadastro de exploradores de mão de obra em condições desumanas. José Rolim Filho, o “Zito Rolim” é dono das fazendas São Raimundo e São José, localizadas nos povoados Quatorze e São Raimundo, na zona rural de Peritoró, o gestor tem seu nome incluído na relação desde julho do ano passado. Acesse o link da lista: http://www.reporterbrasil.com.br/listasuja/resultado.php

Trabalho escravo e inclusão na lista

Em dezembro de 2010 a Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Maranhão (SRTE/MA) encontrou 24 pessoas – incluindo um jovem de 17 anos – em condições análogas à escravidão na Fazenda São Raimundo/São José, pertencente ao prefeito de Codó (MA), José Rolim Filho, conhecido como Zito Rolim (PV).

Os libertados na Fazenda São Raimundo/São José foram arregimentados pelo “gato” Antônio Mauro. Duas mulheres responsáveis pelo preparo das refeições estavam entre as vítimas. Uma delas estava acompanhada de duas filhas com idades entre 5 e 6 anos e do filho de 13 anos. O adolescente ajudava sua mãe nas tarefas diárias e tinha a função de levar a alimentação até a frente de trabalho, que ficava a 3 km de distância dos barracos utilizados como alojamento. Os empregados eram responsáveis pelo “roço de juquira” – limpeza da área para formação de pasto para pecuária extensiva.

Por: Fórum Carajás
www.forumcarajas.org.br

Confiram como foi (na verdade!) a Audiência Pública sobre a fábrica da Suzano



Foram 5 horas de audiência. De um lado, representantes da Suzano fazendo "seu comercial". Do outro, a população do Baixo Parnaíba, representada por trabalhadores rurais, paróquias e outras entidades. Mediando o encontro esteve a SEMA (Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais), que convocou a audiência conforme determina a lei.

A reunião teve início por volta das 19h30, com a leitura de seu 'regulamento' seguida de uma breve apresentação do projeto da Suzano e de um resumo do Estudo de Impacto Ambiental (e respectivo relatório) do empreendimento.

Após um intervalo para o lanche, a audiência pública (propriamente dita) começou.

Perguntas escritas

Os questionamentos por escrito não suscitaram nenhuma surpresa. Devidamente "filtrados" pela organização do evento, foram separados "por grupo", lidos rapidamente e mecanicamente respondidos. Resumiram-se a perguntas técnicas e sobre "como empregar-se na firma". Participantes comentaram que algumas questões foram, convenientemente, esquecidas pela Suzano.

Perguntas orais

Pe. Manuel Neves
O primeiro a usar da palavra foi Manuel Neves, representando a comunidade católica local. Segundo ele, a historinha contada pela Suzano no "primeiro ato" da reunião foi até bonita, mas destoa muito da realidade. O pároco relatou que conhece a cultura do eucalipto, e suas trágicas consequências, desde quando residia em Portugal. Na Europa, segundo ele, tais empreendimentos eram instalados nas regiões mais pobres com a mesma falsa promessa: a de melhorar a vida do povo necessitado. Portanto, não era de se estranhar que, no Brasil, a monocultura viesse parar no Baixo Parnaíba, região mais carente do Maranhão, estado mais pobre da Federação. Neves contestou muitas informações prestadas pela Suzano.

Marcos Stolf
O principal porta-voz da empresa, Marcos Stolf, iniciou sua resposta com uma frase que repetiria por inúmeras vezes naquela noite: "Agradeço as colocações..." e tentou rebater os argumentos do pároco alegando que trabalha há mais de 30 anos com o eucalipto, sugerindo que teria mais conhecimento que ele sobre o assunto. Neves, por sua vez, replicou que sua família conhece a monocultura há 100 anos. Primeiro questionamento oral, primeiro mico da Suzano.

A partir daí, tirando um ou dois "suspeitos" que elogiaram o projeto da Suzano, como o prefeito de São Benedito do Rio Preto, José Creomar (tinha que ser um político corrupto!), a empresa se viu em uma verdadeira "sinuca de bico". Um a um seus argumentos foram derrubados por representantes de entidades classistas e ambientais. Moradores de comunidades dizimadas e/ou griladas pela empresa também se fizeram ouvir.

Um idoso do povoado Formiga, sito no município de Anapurus, perguntou por seus mourões, arame e telhas "apreendidos" pela empresa via ação judicial "ilegítima", segundo a família do mesmo. O "assessor jurídico" da Suzano, ao dizer que tais materiais se encontravam na sede da empresa à disposição dos interessados, ouviu do povo que "assim como eles souberam tomar os bens de quem detinha a posse da terra há várias gerações, eles também deveriam saber devolvê-los aos respectivos donos". Por mais de uma vez, a Suzano foi acusada de falsificar documentos para esbulhar terras alheias e não se defendeu a contento. Um sindicalista zombou dos porta-vozes da empresa em razão de não saberem a diferença entre as palavras "quilombo" e "quilombola", logo após terem falado sobre o povoado Bom Sucesso, situado entre os municípios de Chapadinha e Mata Roma. E a surra entrou pela madrugada, sob os aplausos do público...

Governi$tas e péla-sacos

Pasmos diante da desaprovação do povo, os ge$tores de Chapadinha - deputado (não eleito) Magno Bacelar e prefeita (idem) Danúbia Carneiro - abandonaram a audiência uma hora e meia antes de seu término, junto com toda a sua comitiva. Isso mesmo, senhores: aqueles que deveriam defender os interesses da população saíram no meio da "batalha" e ordenaram a seus blogueiros péla-sacos que "amenizassem" a reação do público ao empreendimento, tão útil em ano eleitoral...

Governi$tas desolados com a desaprovação do público

Governi$tas saindo "de mansinho", 1 hora e 1/2 antes do término

Escancarando sua servidão, um jornali$ta da prefeita noticiou que, segundo o estudo realizado, "os impactos positivos superavam, em larga escala, os negativos", sendo que, na realidade, o estudo apontou 11 (onze) impactos e riscos negativos e apenas 03 (três) impactos positivos - dentre os quais a utopia de que os impostos pagos pela empresa retornarão à população em forma de benefícios.

Ele$ também tentaram minimizar a área afetada pelo negócio, publicando uma imagem que destacava apenas a Fazenda Santo Ângelo, onde a fábrica será instalada, como se a empresa fosse utilizar somente aquela área, que já estaria, inclusive, desmatada. No entanto, o próprio Estudo de Impacto Ambiental (EIA) mostra que a área afetada será muitíssimo maior e possui ampla vegetação nativa:

Área afetada, segundo o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA)

Vegetação afetada, segundo o mesmo estudo

Algumas falácias da Suzano

Em dado momento, Marcos Stolf disse ao público: "Não se preocupem, a empresa vai gerar sua própria energia", insinuando uma suposta preocupação desta com o bem-estar da população... Logo depois, descreveu o processo: "Até 7 metros, os troncos serão utilizados para fabricar pellets. Acima disso, serão queimados para gerar energia para a empresa." Conclusão: Adeus céu risonho e límpido...

"O eucalipto absorve o gás carbônico da atmosfera", fizeram questão de esclarecer os técnicos, sem mencionar que, na escuridão da noite, ele "inspira" oxigênio e expele CO2, como qualquer outra árvore... Ou será que eles irão manter a floresta iluminada durante toda a noite?

Por falar em "floresta", os técnicos da empresa pararam de chamar os campos de eucalipto dessa forma assim que foram "corrigidos" por um participante, durante as perguntas orais. Restou evidente que tentavam evitar o termo nocivo "monocultura", substituindo-o por "floresta" - ambiente diversificado e ecologicamente estável (muito diferente do primeiro).


"As raízes do eucalipto tem, em média, 3 metros e não secam rios e veios, como dizem", justificaram os representantes da Suzano. Após uma breve pesquisa na internet, descobri que, para que atinja tal condição, a planta deve ser clonada, plantada de modo correto e em solo previamente preparado, ocasião em que, dependendo do clima, suas raízes cresceriam mais horizontalmente e absorveriam apenas a água retida na superfície do solo... O interessante é que, em nossa região, mais precisamente em Urbano Santos, o cultivo da planta - pela mesma empresa - secou nascentes e extinguiu riachos, como bem atestou a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais daquele município. Conclui-se, então, que das duas uma: ou a tal técnica não funciona em nosso clima ou a Suzano não toma as providências necessárias à proteção dos recursos hídricos locais... Alguém arrisca um palpite?

Surra levada, lucro certo!

Lucro certo - para a empresa!
O fato de a Suzano ter "se saído péssima" na audiência pública não significa que saiu perdendo: ela continua de vento em popa com o projeto, uma vez que o evento foi apenas uma exigência legal para informar a população sobre os riscos e vantagens do empreendimento mas não pesará na decisão da SEMA sobre o licenciamento em análise. A Suzano, por sinal, fez questão de dizer que já adquiriu algumas fazendas locais, além de 12 mil hectares dos sojicultores. E continuará adquirindo terras em nossa região, tamanha é a certeza de que nada impedirá seu lucrativo projeto.

E por esta razão, o Pe. Manuel Neves e outros participantes propuseram uma outra audiência pública, conclamada pelo povo e para o povo, para deliberar sobre a instalação da referida fábrica. O que fosse decido poderia ser levado às autoridades competentes em forma de abaixo-assinados e/ou Ações Civis Públicas.

A esta altura do campeonato, seria o único meio de barrar ou, pelo menos, fiscalizar o referido empreendimento, haja vista que nossos supostos representantes, no momento, só tem olhos para as eleições vindouras. Fica a dica, ou melhor, o apelo...
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