terça-feira, 19 de agosto de 2025

a narrativa não é um negocio

Qual lugar você preferiria para se sentar e escrever suas crônicas em São Luís? E qual assunto daria a largada? Pode ser que alguém responda os casarões históricos construídos no centro da cidade e suas lendas. Permitam que se abra discordância. Se para alguns os casarões históricos oferecem esse espaço atrativo para a escrita, para outros a preferência recairia sobre a periferia do centro, a confluência do oceano com o rio Anil, junção da água salgada com a água doce, cenário para os versos de O poema sujo de Ferreira Gullar. Uma boa resposta para quem admira Joseph Conrad, escritor polonês/inglês, que escreveu a maior parte de sua obra tendo como principal influência os anos que passou capitaneando barcos da marinha mercante inglesa no final do século XIX. E claro que nem todas as obras de Conrad tem a água salgada e/ou água doce como espaços privilegiados de contemplação deslocamento e conversação. O que se depreende da obra de Conrad e que sem conversação não pode haver contemplação e nem deslocamento. Vejam as páginas iniciais de "Coração nas Trevas" em que Marlow, um dos personagens principais do livro, apresenta para uns amigos com os quais estava reunido num barco ancorado no rio Tâmisa, a história de Kurtz que trabalhava para uma empresa de Londres na bacia do rio Congo, interior da África. Kurtz, funcionário exemplar, não dava mais notícias para empresa e por essa razão ela contrata Marlow para trazê-lo de volta. Marlow e Kurtz são homens de negócio e devem cumprir seus compromissos celebrados com a empresa que os contratou. Quando os compromissos não sao cumpridos, o funcionário deve ser trazido de volta. Entretanto, "Coração nas Trevas" não é uma narrativa de negócios. Ela visa mais afastar investidores da África do que atraí-los para o continente.

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