quarta-feira, 4 de abril de 2012

Maranhão produz cerca de 5 milhões de litros de cachaça



SÃO LUÍS - O Maranhão produz anualmente cerca de 5 milhões de litros de cachaça, sendo que metade da produção é oriunda da região do Sertão. Sucupira do Riachão, que é um dos municípios que se destacam na produção da bebida, sediou no último fim de semana, no Sítio Vertentes, o lançamento da Cachaça Vale do Riachão.
O secretário de Agricultura, Pecuária e Pesca (Sagrima), Cláudio Azevedo, que também é presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae, participou do lançamento da cachaça e elogiou a iniciativa do empresário Erivan Holanda em investir na qualidade do produto.
“É bom saber que no Maranhão existem homens com a visão do empresário Erivan Holanda que está aqui dando uma demonstração do seu empreendedorismo, construindo uma fábrica de cachaça como essa, nos padrões de Minas Gerais, e dentro das exigências feitas pelo Ministério da Agricultura, enfim, mostrando que é possível fabricar um produto de qualidade no interior maranhense”, afirmou Cláudio Azevedo.
Segundo o secretário Cláudio Azevedo, a Sagrima apoiou o empresário Erivan Holanda e a Secretaria Estado do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Sema) emitiu a licença ambiental para que o investidor desse continuidade ao empreendimento.
O empresário Erivan Holanda informou que a fábrica tem capacidade para produzir, diariamente, mil litros de cachaça de cana de açucar. O lançamento aconteceu no Sitio Vertentes, onde é feito todo o processo de fabricação da cachaça Vale do Riachão. Também estiveram presentes no evento, o prefeito de Sucupira do Riachão, Juvenal Leite, vereadores, secretários municipais, empreendedores locais e líderes de entidades.
Atualmente, os municípios que mais produzem cachaça na região do Sertão, são Colinas, Pastos Bons, São Domingos do Azeitão, São João dos Patos, Sucupira do Norte e Sucupira do Riachão.
De acordo com o Estudo de Mercado da Cachaça do Sertão Maranhense, que faz parte das ações do Projeto Alambiques do Sertão Maranhense, desenvolvido em 2007, pelo Sebrae-MA, o estado possui cerca de 450 alambiques.
A região dos Sertões abriga 216 engenhos, que produzem 12 mil litros/cada. No entanto, a demanda de consumo dos municípios é estimada em 15,5 milhões de doses/ano. “Mais da metade da preferência de consumo da região é pela cachaça. A cerveja aparece em segundo lugar, com 28,42% da preferência”, apontam os estudos do Sebrae.
Apesar do otimismo dos números, o índice de informalidade no mercado da cachaça é preocupante. Segundo estudos recentes, cerca de 98% dos alambiques atuam na informalidade.
O desenvolvimento, a elevação da qualidade da produção e a comercialização da cachaça produzida no Maranhão foi pauta de recente encontro, que reuniu gestores da Sagrima, do Sebrae, Federação das Indústrias do Estado do Maranhão (Fiema), Banco do Nordeste e da Federação da Agricultura e Pecuária do Maranhão (Faema).
O objetivo da parceria entre as instituições é o de ter um enfoque empresarial e industrial da cachaça, contribuindo para o aumento da qualidade dos produtos e conquistar espaços para comercialização em estabelecimentos dentro e fora do estado.
As informações são da Secom Estadual.

Estado e BNDES lançam edital para seleção de projetos da agricultura

Estado e BNDES lançam edital para seleção de projetos da agricultura


SÃO LUÍS - Agricultores familiares, assentados da reforma agrária, extrativistas e remanescentes quilombolas participaram do lançamento do Edital 01/2012 destinado à seleção pública de projetos de empreendimentos da agricultura familiar e de economia solidária, com propostas de inclusão produtiva nos Arranjos Produtivos Locais (APLs) visando a apoiá-los financeiramente. A solenidade, realizada na manhã desta quarta-feira (4), no auditório da Secretaria de Estado de Cidades (Secid), foi presidida pelo governador em exercício Washington Luiz Oliveira.
A iniciativa é coordenada pelas Secretarias de Estado do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (Sedagro) e de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplan), Fundo Maranhense de Combate à Pobreza (Fumacop) e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). “O edital é mais uma ação do Governo do Estado de incentivo ao fortalecimento da agricultura familiar e arranjos produtivos locais. Trabalhamos para desenvolver o Maranhão e transformá-lo em um estado mais forte”, declarou o Washington Luiz.
A secretária de Desenvolvimento Agrário, Conceição Andrade, ressaltou o aumento significativo dos recursos disponibilizados pelo edital em 2012, num total de R$ 19 milhões, superando em mais de 250% os R$ 5 milhões empregados ano passado. “Este edital é um instrumento de apoio à agricultura familiar para tornar os empreendimentos sustentáveis”, declarou.
Conceição Andrade informou ainda que, por causa da expectativa em alcançar um número maior de inscritos, serão disponibilizadas 19 mesas técnicas que auxiliarão no estudo das propostas. O edital é aberto a todo o estado, mas com foco na aptidão agrícola de cada região.
Na ocasião, a secretária também entregou um relatório das ações desenvolvidas pela Sedrago, de 2009 a 2011, e destacou a assinatura de oito convênios com associações e cooperativas que tiveram seus projetos aprovados na etapa do edital de 2011.
Participaram da solenidade os secretários de Estado Pedro Fernandes (Cidades e Desenvolvimento Urbano); Ricardo Guterres (Minas e Energia), Olga Simão (Ciência, Tecnologia e Ensino Superior), Benigna Almeida (adjunta de Igualdade Racial), José Antonio Heluy (Trabalho e Economia Solidária), além do gestor financeiro da Fumacop, Nairo Balata; do secretário executivo do Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável, Jadson Lago; presidente do Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma), Luis Alfredo Fônseca; presidente da Agência Estadual de Pesquisa e Extensão Rural (Agerp), Jorges Fortes; superintendente do Núcleo Estadual de Programas Especiais (Nepe), César Rodrigues Viana; superintendente do Instituto Terra, Ana Teresa Lopes Viana; representantes de associações agrícolas, produtores rurais do interior do Estado.
Reconhecimento
O presidente da Associação de Meliponicultores do Município de Palmeirândia, Cláudio Luis Oliveira, elogiou a iniciativa e disse que a partir de agora o trabalho com abelhas nativas terá maior reconhecimento. “O edital é uma oportunidade que garante ao nosso trabalho um reconhecimento. Queremos divulgar que o mel não é remédio, é alimento. Estamos felizes com a ação de apoio do Governo do Estado”, afirmou ele.
Para o gestor financeiro do Fumacop, Nairo Balata, o lançamento do edital é mais um passo no combate à pobreza extrema, porque beneficia famílias rurais de baixa renda que vivem no interior do Maranhão. “Com a inclusão produtiva e fortalecimento da agricultura familiar o governo contribui na geração de trabalho e renda”, assinalou Balata.
Recursos
Dentro do total de recursos destinados (R$ 19 milhões), o valor de cada projeto aprovado será estabelecido obedecendo os seguintes limites: 60% serão destinados a projetos com valores de até R$ 150 mil; e 40% serão para projetos com valores de R$ 150.000,01 até R$ 300 mil. Cada organização associativa ou cooperativa pode submeter apenas uma proposta de projeto produtivo. A proponente deve oferecer contrapartida de, no mínimo, 10%.
Os recursos podem ser solicitados por associações de agricultores familiares, assentados da reforma agrária, remanescentes de quilombos rurais, produtores rurais, extrativistas, silvicultores, mulheres agricultoras, indígenas, pescadores artesanais, aquicultores e associações da economia solidária e outras formas associativas sem fins lucrativos, regidos pelo Decreto-Lei n.º 594/ 74, de 7 de novembro, e Decreto-Lei n.º 71/77, de 25 de fevereiro, e cooperativas de produção, comercialização, de beneficiamento e de serviços regidos pela Lei 5.764/1971. Outras informações sobre o Edital podem ser encontradas no site do Governo do Estado (www.ma.gov.br).
As informações são da Secom Estadual.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Fórum Carajás solicita audiência pública sobre licenciamento da Suzano em Chapadinha/MA

O Fórum Carajás solicitou (21/03/12) junto a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Naturais-SEMA   audiência pública concernente aos Estudos de Impacto Ambiental e ao Relatório de Impacto Ambiental para obtenção da licença prévia para atividade de industria de " pellets" da Suzano   no município de Chapadinha conforme  processo SEMA - 749/2012.


A Justificativa da Suzano Papel não convence



 

    Um leitor mais atento da nota que a Suzano Papel e Celulose espalhou aos quatro cantos sobre a decisão da justiça federal que suspendeu o licenciamento ambiental de seus plantios de eucaliptos no Baixo Parnaiba maranhense, com fins de produção para pellets que se destinariam a Europa, indagar-se-ia sobre os reais motivos que levaram a empresa a escolher a autojustificativa como  desfecho para sua argumentação.
   A Suzano ao rumar em direção a autojustificativa embrenha-se por um terreno perigoso. Ao se justificar com frases ou com ideias que evocam a si própria, a empresa atesta a sua inépcia quando as coisas fogem do seu e do controle dos seus aliados locais e regionais.    Esse trecho da nota agora reproduzido prima pelo fastio diante da problemática que envolve a liminar da justiça federal: “A Companhia reforça sua convicção de que agiu e continuará agindo de forma absolutamente adequada, baseada na prática vigente no Brasil, onde os licenciamentos ambientais são realizados pelo Estado”. Quer dizer, ela reforça sua convicção do “certo” a partir da ação destruidora do meio ambiente que motivou o pedido de liminar do ministério público federal. Só a falta de tato desse trecho já responde o quanto a Suzano se mortificou e mortifica-se nesse tempo todo por conta de denúncias avocadas pelas comunidades do Baixo Parnaiba maranhense e pelas organizações da sociedade civil.
    O efeito surpresa da liminar fez com que parte do mundo da Suzano Papel e Celulose caísse, só faltou Maysa cantar, e a nota reflete bem esse aparvalhamento por parte da direção da empresa. Em vez de “reforçar a convicção...”, a nota poderia apenas ressaltar que cumpre a legislação ambiental como todos fazem em seus respectivos projetos e que caberia ao órgão ambiental do estado do Maranhão a sua fiscalização.
   Como não há notificação por parte da Sema então pressupor-se-ia que tudo corre dentro dos conformes da lei. Bem, pelo jeito a Suzano se apressou mais por conta do mercado e dos seus possíveis financiadores para o projeto da fábrica de pellets no Baixo Parnaiba maranhense e para que não respingasse nada de “venenoso” sobre o projeto de celulose em Imperatriz do que por conta da sociedade de maneira geral. Os veículos de comunicação alçaram a nota da Suzano a condição de celebridade pública do tipo “com muita dignidade a empresa responde as acusações de crime ambiental”. 
    Para a parte debaixo da Suzano Papel e Celulose, digamos os trabalhadores qualificados e não qualificados que ganham salário minimo, pode parecer inacreditável que a empresa cometa crimes visto que ela amealha prêmios de toda ordem, mas em várias dessas situações a indústria de reflorestamento patrocina esses prêmios como se fosse uma festa e como é festa, rapidamente, as pessoas se esbaldam e, daí em diante, a verdadeira faceta da empresa comparece para que não seja relegada ao esquecimento.
 
Mayron Régis

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Sociedade civil elabora propostas para Política Nacional de Agroecologia


Apesar de contexto desfavorável ao crescimento de escala da produção agroecológica no Brasil, sociedade civil não se furta do papel de provocar um debate político com o governo.

Denis Monteiro, secretário nacional da Agência Nacional de Agroecologia (ANA) | Foto: Divulgação
O governo federal e a sociedade civil organizada estão empenhados na elaboração da Política Nacional de Agroecologia e Sistemas Orgânicos de Produção. De 10 a 12 de abril, acontecerá em Brasília, um Seminário Nacional no qual serão consolidadas as propostas das organizações e movimentos sociais do campo para esta política. O evento acontece após seminários em todas as regiões do país. A Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) anima os processos de reflexão e proposição da sociedade civil e tem intermediado o diálogo com o governo.



Apesar do desejo dessa política se tornar, de fato, um conjunto de diretrizes que favoreçam a ampliação da escala de produção de alimentos agroecológicos,  as organizações e movimentos do campo acreditam que esta expectativa não será atingida no atual cenário de hegemonia do agronegócio. Mesmo sem chance de vencer essa disputa, não se furtam do seu papel de provocar um debate político com o governo e dar mais visibilidade aos exemplos práticos de produção de alimentos saudáveis para consumo dos brasileiros sem agressão aos recursos naturais. Para falar sobre o papel da sociedade civil e do governo na relação com a agroecologia e fazer uma leitura do contexto político atual, a jornalista da Asacom, Verônica Pragana, entrevistou o engenheiro agrônomo e secretário executivo da ANA, Denis Monteiro. Confiram!

Asacom - Como a sociedade civil vê a iniciativa do Governo Federal em elaborar esta política?

Denis Monteiro - Na Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), vemos, por um lado, com certa surpresa, e por outro, com uma oportunidade de propor ações mais consistentes para o fortalecimento da agricultura familiar com enfoque agroecológico. Suspresa porque é um movimento aparentemente contraditório do governo, já que está claro que o modelo que defende e implementa para a agricultura e o meio rural é o do agronegócio, de exportação de commodities. O Brasil é, desde 2008, o maior consumidor de agrotóxicos do mundo, e o Estado se omite de fiscalizar e ainda dá isenções fiscais. O governo atuou de forma militante para liberar, nos últimos anos, diversas variedades transgênicas de soja, milho, algodão e até feijão, o que é radicalmente contrário à agroecologia.


O Estado não tem cumprido o papel de reconhecer os territórios de comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, o que abre caminho para um ofensiva brutal sobre esses povos; a reforma agrária está praticamente parada. Não só não apoia, como também desapropria territórios para grandes obras, basta ver o caso de Belo Monte ou da Chapada do Apodi no Rio Grande do Norte. Isso tudo é contraditório com a defesa da agroecologia, pois não se avança sem uma agricultura familiar forte, sem a reforma agrária, sem reconhecer os territórios das comunidades tradicionais e sem reverter este modelo que torna o Brasil exportador de commodities, gerando riqueza para os latifundiários e corporações, pobreza nos territórios [das populações locais] e deixando degradação do meio ambiente e das condições de saúde.

Segundo motivo da nossa surpresa: por que só agora? Não estamos no primeiro ano de governo, mas sim no nono ano, se contarmos desde o primeiro governo Lula de 2003. Ficamos nos perguntando se o governo vai dedicar esforços para construir uma política consistente, abrangente, eficiente, se vai enfrentar os desafios e contradições, contrariar interesses do agronegócio, ou se isto é só uma jogada de marketing verde às vésperas da Rio+20. Queremos acreditar na primeira hipótese.


Asacom - O atual contexto político é favorável às pautas defendidas pela sociedade civil para a política?

DM
- Se olharmos para as questões que levanto acima, vemos um contexto político bastante desfavorável.  Porém, o modelo brasileiro baseado em exportação de commodities será colocado em questão mais sistematicamente daqui pra frente com o agravamento da crise mundial. Haverá mais espaço para visões críticas e propostas alternativas. As contradições afloram e a sociedade começa a reagir. Veja o exemplo do Código Florestal, a sociedade se manifestou em defesa das florestas, e entendeu bem que está em jogo o “liberou geral” para mais desmatamento, avanço da soja e da cana sobre os cerrados e Floresta Amazônica, do eucalipto pelo país inteiro. Cresce a preocupação com as enchentes, deslizamentos, secas prolongadas, efeitos das mudanças climáticas e da degradação ambiental gerada pelas monoculturas e pela ausência de políticas consistentes para conter o desmatamento e promover a conservação ambiental.


Outro exemplo interessante: a Campanha Nacional Contra os Agrotóxicos e pela Vida tem sido bem sucedida em mostrar que os monocultivos e os transgênicos estão provocando uma contaminação ambiental por agrotóxicos sem precedentes na história do país, e as pessoas não querem veneno, nem o trabalhador rural, nem o consumidor na cidade.

Uma política séria de agroecologia tem que ter um plano claro de controle do uso de agrotóxicos, que retire a absurda isenção de impostos e promova uma drástica redução do uso de venenos e transgênicos no Brasil. Isso a sociedade quer e é obrigação do Estado fazer. Isso tudo acontece quando o Brasil vai sediar a Rio+20 e as questões ambientais estarão no centro das atenções.

Vamos nos mobilizar para denunciar os impérios alimentares como grande causador da crise atual e apontar as reais soluções para a crise. Uma delas é seguramente a agroecologia e o fortalecimento da agricultura camponesa. Temos muitas experiências bem sucedidas que apontam o caminho e elas pesam a nosso favor no atual contexto político.


Asacom - Diante deste quadro, qual a contribuição mais valiosa da sociedade civil neste processo? Quais são as premissas que não devem ser deixadas de lado?

DM
- A construção de experiências concretas que se orientam pelos princípios da agroecologia sempre foi feita pela sociedade civil, na grande maioria dos casos sem apoio das políticas públicas, ou apesar das políticas públicas, que no geral promovem o modelo agroquímico, mesmo junto à agricultura familiar. Não estamos falando somente de promover um setor da agricultura, de nicho de mercado para produtos orgânicos, entendemos a agroecologia como uma proposta de organização das agriculturas e do meio rural desse país em outras bases, em contraponto ao agronegócio.


Então, uma de nossas contribuições é politizar esta discussão, colocar em debate os rumos do desenvolvimento rural. Outra premissa fundamental é que não se constrói uma política nacional de agroecologia sem promover a participação ativa da sociedade civil. Se a política não fortalecer estas organizações, favorecer ferramentas para que elas protagonizem a política, não vai funcionar.  Ao Estado cabe o papel de retirar entraves, apoiar, criar programas que gerem mobilização social, melhorar a infraestrutura das comunidades rurais, adequar as políticas de financiamento e de assistência técnica que promovam o diálogo de saberes entre agricultores e equipes de assessoria técnica, e não fazer uma coisa de cima pra baixo, nas quais os agricultores são apenas beneficiários.

Asacom - Em que medida a ação da ASA ajuda a sociedade civil a formular suas propostas para a Política Nacional de Agroecologia? Quais os aprendizados que vêm dessa experiência?

DM
- A ASA tem contribuição fundamental. As mobilizações de 2011, contra o absurdo das cisternas de plástico e em defesa do P1MC e P1+2 como programas com participação popular verdadeira, que empoderam as comunidades, promovem a segurança alimentar e dinamizam as economias locais, foram uma lição de política para a sociedade brasileira e para o governo. Dissemos em reunião com o governo: mas como vocês querem construir uma política nacional de agroecologia e desmontam o P1MC e P1+2? É uma contradição muito evidente. O maior aprendizado está na construção de propostas de políticas públicas que geram autonomia e participação dos agricultores e suas organizações, que políticas, para darem certo, precisam promover protagonismo da sociedade civil.


Asacom - No Seminário Regional Nordeste, observou-se algum aspecto que precisa ser cuidado com atenção pensando na diversidade cultural e de biomas do Semiárido?

DM -
Um dos ensinamentos é uma premissa da ANA da qual não abrimos mão: os povos tradicionais e suas práticas são muito valiosos para a agroecologia. O Estado, incluindo órgãos de pesquisa e de assistência técnica, tem que ter a humildade de reconhecer este acervo de conhecimentos e práticas e não vir com pacotes prontos, mesmo que disfarçados de agroecológicos. O que faz com que a perspectiva agroecológica avance é o diálogo entre os saberes tradicionais e os conhecimentos sistematizados e produzidos nas universidades e órgãos de pesquisa.


E no Semiárido temos muitos exemplos de iniciativas que envolvem milhares de famílias nos territórios, que ajudam a quebrar o mito que a agroecologia só se faz em pequena escala ou poucas famílias aderem à práticas agroecológicas. No Semiárido, os processos de modernização estão chegando mais recentemente, e de forma desastrosa.

As áreas onde se utilizou o pacote agroquímico, com irrigação pesada, mecanização, estão muito degradadas, até desertificadas. Ao passo que nos territórios agroecológicos que estão sendo construídos, há democratização econômica, conservação descentralizada das águas, sementes na mão dos agricultores, produção maior e mais diversificada de comida para as populações locais, não há contaminação por agrotóxicos. Então, no Semiárido é muito evidente que são dois caminhos opostos: ou se opta pelo fortalecimento da agricultura familiar com enfoque agroecológico ou pelo agronegócio.

Outro exemplo: a questão das sementes no Programa Brasil Sem Miséria. Apesar de todo o acúmulo da ASA de iniciativas de valorização das variedades locais, crioulas, antes realizadas pelos próprios agricultores, e que depois contaram com apoio de políticas como o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos] e leis estaduais de bancos de sementes, o Brasil sem Miséria está distribuindo sementes de pouquíssimas variedades comerciais, pouco adaptadas às condições culturais e ecológicas do Semiárido. A carta política do II Encontro de Sementes do Semiárido afirma que, desde 2003, somente via PAA foram adquiridas mais de 536 toneladas de sementes de variedades locais que foram doadas a mais de 23.000 famílias.

Asacom - Os princípios da agroecologia estão pautados na participação coletiva, no respeito às diversidades e no incentivo à autonomia dos grupos sociais, neste caso, dos agricultores e agricultoras familiares e nas populações tradicionais. Como estes princípios podem ser garantidos tendo em vista que o governo vem demostrando uma preocupação com o alcance de metas a curto prazo?

DM -
A proposta da política nacional de agroecologia pode jogar a favor do campo agroecológico na lida com esta tensão que realmente existe. O que aconteceu com os programas da ASA no ano passado e a distribuição de sementes pouco adaptadas pelo Brasil sem Miséria, são fatos emblemáticos desta tensão, e de como o cumprimento das metas físicas a curto prazo muitas vezes está dissociado da preocupação de resolver os problemas reais com participação popular e gerando autonomia. Os números vão estar lá nos relatórios e nas propagandas do governo, tantas milhares de cisternas ou toneladas de sementes distribuídas, mas os problemas reais não terão sido resolvidos.


Outro exemplo são as políticas de assistência técnica e extensão rural. Achamos muito importantes e reconhecemos os esforços para aprovar uma lei sobre o tema, ampliar o orçamento e reverter o processo de sucateamento dos órgãos públicos de extensão rural, porém os editais de Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) estão presos a uma concepção difusionista, de atendimento indivividualizado. E numa política de agroecologia, a ATER tem papel fundamental, mas em novas bases.

Asacom - De que maneira a diminuição da participação da sociedade civil na gestão de políticas públicas da agricultura familiar bloqueia a expansão da agroecologia no campo?

DM -
Bloquear a participação da sociedade na gestão das políticas para a agricultura familiar é condená-la ao fracasso, pois quem historicamente construiu as experiências bem sucedidas foram as organizações da sociedade civil. Além do fato que o Estado, principalmente na esfera municipal, permanece sequestrado por interesses de caciques políticos locais, que usam o aparato do Estado e as políticas públicas para manter o povo cativo e obter votos. Podemos citar como exemplo positivo o PAA. O programa, quando apoia diretamente as organizações dos agricultores, fomenta a diversificação da produção, auxilia a organização local e tem impacto muito positivo nos processos de transição agroecológica. Apesar disso, desde 2003, o programa só teve R$ 3,5 bilhões, muito pouco se comparado aos bilhões anuais para o agronegócio ou mesmo para o Pronaf, e sempre está ameaçado pela lógica de só operar via governos estaduais e prefeituras, sem confiar na sociedade.


Asacom - Olhando para a sociedade civil, o documento faz uma autocrítica ao reconhecer um momento em que se vivencia um apagão de ideias e proposições. A que isto se deve e como vencer este adormecimento?

DM -
Muitas organizações da sociedade civil, no início do governo Lula, depositaram uma confiança muito grande na capacidade do governo promover mudanças estruturais a favor da agricultura familiar. Fomos a reboque da agenda colocada pelo governo, participamos de vários conselhos, comitês, conferências, para debater a agenda que era colocada, ou construindo propostas que não foram implementadas, embora tenha havido avanços em alguns campos como o da segurança alimentar e nutricional.


Outra questão que demonstra certa fragilidade do nosso campo: agroecologia nunca esteve com a centralidade devida na pauta de reivindicações dos movimentos sociais do campo, sempre foi algo marginal e acessório. Mas este quadro está mudando recentemente. Além disso, nos últimos anos as organizações da sociedade civil estão numa crise séria. Há uma estratégia orquestrada da direita para criminalizar os movimentos sociais e as organizações não governamentais, e o governo federal acaba refém desta tática, que é extremamente prejudicial para a democracia no Brasil.

Vencer este adormecimento passa por voltar a organizar nossas reflexões próprias, fazer a nossa análise da conjuntura política e das contradições do momento histórico atual. Deixamos de fazer isso para ir a reboque da pauta proposta pelo governo. Também acho que temos que sair da defensiva, devemos ser mais contundentes na defesa da agroecologia e formular as nossas propostas a partir das experiências, a nossa agenda política, independente de governo e fazer mobilização social para que tenhamos força política para fazer valer o que acreditamos.

Por: Verônica Pragana - Asacom
www.asabrasil.org.br

domingo, 1 de abril de 2012

Aquecimento Global está perto de ser irreversível, dizem cientistas





O aquecimento global está próximo de se tornar irreversível, o que torna esta década crítica nos esforços para preveni-lo, disseram cientistas nesta segunda-feira. As estimativas científicas diferem, mas é provável que a temperatura mundial suba até 6ºC até 2100, caso as emissões de gases do efeito estufa continuem aumentando de forma descontrolada. Mas, antes disso, haveria um ponto em que os estragos decorrentes do aquecimento - como o degelo das camadas polares e a perda das florestas - se tornariam irrecuperáveis.

"Essa é uma década crítica. Se não revertermos as curvas nesta década, vamos ultrapassar esses limites", disse Will Steffen, diretor-executivo do instituto para a mudança climática da Universidade Nacional Australiana, falando em uma conferência em Londres.

Apesar dessa urgência, um novo tratado climático obrigando grandes poluidores como EUA e China a reduzirem suas emissões só deve ser definido até 2015, para entrar em vigor em 2020. "Estamos no limiar de algumas grandes mudanças", disse Steffen. "Podemos (...) limitar o aumento das temperaturas a 2ºC, ou cruzar o limite além do qual o sistema passa para um estado bem mais quente."

No caso das camadas de gelo, cruciais para desacelerar o aquecimento, esse limiar provavelmente já foi ultrapassado, segundo Steffen. A capa de gelo da Antártida ocidental já encolheu na última década, e a região da Groenlândia perde 200 km³ de cobertura por ano desde a década de 1990.

A maioria dos especialistas prevê também que a Amazônia se tornará mais seca em decorrência do aquecimento. Uma estiagem que tem matado muitas árvores motiva temores de que a floresta também poderia estar perto de um ponto irreversível, a partir do qual deixará de absorver emissões de carbono e passará a contribuir com elas.

Cerca de 1,6 bilhão de t de carbono foram perdidas em 2005 na floresta tropical, e 2,2 bilhões de t em 2010, o que reverte cerca de dez anos de atividade como "ralo" de carbono, disse Steffen. Um dos limites mais preocupantes e desconhecidos é do "permafrost" (solo congelado) siberiano, que armazena carbono no chão, longe da atmosfera.

"Há cerca de 1,6 trihão de toneladas de carbono por lá - cerca do dobro do que existe hoje na atmosfera -, e as latitudes setentrionais elevadas estão experimentando a mudança de temperatura mais severa em qualquer parte do planeta", disse ele.

No pior cenário, 30 a 63 bilhões de t toneladas de carbono por ano seriam liberadas até 2040, chegando a 232 a 380 bilhões de t por ano até 2100. Isso é um volume bem mais expressivo do que os cerca de 10 bilhões de t de CO2 liberadas por ano pela queima de combustíveis fósseis.

*Fonte: terra
Foto: Paulo Whitaker/Reuters

Deputados temem que Piauí vire fornecedor de eucalipto para o Maranhão




A Suzano Papel e Celulose já adquiriu 27 mil hectares de terras para o plantio de eucalipto no Piauí. No Maranhão foram plantados outros 35 mil hectares da empresa Vale do Rio Doce com o mesmo intuito. A produção visa alimentar a fábrica da Suzano que está sendo construída no Maranhão.

A preocupação dos deputados piauienses é que o Piauí ao invés de produzir celulose e processar o eucalipto para exportar para a Ásia e Europa, possa ser apenas o canteiro dos viveiros de eucalipto e das plantações para alimentar a fábrica no Maranhão.

O deputado Flávio Júnior (PDT-PI) confirmou que alguns diretores da Suzano devem comparecer a Assembléia Legislativa para explicar o projeto de investimento da indústria no Piauí. A previsão é que fossem investidos mais de R$ 5 bilhões a partir de 2014, gerando mais de 10 mil empregos diretos no Estado.

“Não podemos perder mais esta indústria. Não podemos continuar sendo meros fornecedores de matéria prima para outros estados. Temos que esclarecer essas dúvidas que pairam sobre este investimento. A Suzano, para se ter uma ideia, vai gerar mais energia que a barragem de Boa Esperança, que foi o maior investimento do Governo Federal no Piauí, até hoje.”, finalizou o deputado Themístocles Filho (PMDB-PI).