Zequinha, morador da comunidade de Santa Rosa
dos Garretos, município de Urbano Santos, presidia a associação do povoado na época
do conflito entre os moradores e a família Garreto que, utilizando-se de
pistoleiros, planejava expulsar quem morava na Santa Rosa para em seguida
vender a propriedade para a Suzano Papel e Celulose.
O Nego Garreto, patriarca da família,
estabelecera uma fama de violento naquele setor entre Urbano Santos, Anapurus, Santa
Quiteria e Chapadinha na hora do trato com as comunidades. A maioria das
comunidades passou por ou tomou conhecimento de algum confronto com o Nego
Garreto por questões de terra. Os confrontos, é claro, ficavam restritos as
comunidades que não dispunham de qualquer assistência por parte do Estado.
O Nego Garreto vendeu para a
Margusa/Marflora, sem precisar de qualquer tipo de documentação e sem que ninguém
pusesse os pés contra a parede, estirões de Chapada que, anos mais tarde,
seriam repassadas para a Paineiras, subsidiaria da Suzano Papel e Celulose. Só
a Santa Rosa não entrou na jogada.
Ele a manteve para quem sabe
exorcizar os males que praticara. Não surtiu efeito nem do ponto de vista
espiritual e nem do ponto de vista econômico (os projetos delineados para a
Santa Rosa e para o Bacabal fracassaram). Quis vender para a Suzano Papel e
Celulose, só que a empresa paralisou as negociações de compra assim que
associação e o STTR de Urbano Santos a informaram do pedido de vistoria do
imóvel no Incra.
Para a família Garreto so tinha
um jeito. Incentivar a saída do máximo de pessoas, pois quando o Incra viesse
vistoriar não haveria pessoas o suficiente para justificar uma desapropriação
com fins de reforma agrária. Os seus capangas montaram um pousio dentro da
comunidade e assediavam os moradores. Uma das pessoas que estava de malas
prontas para se mandar era o cunhado do Zequinha. Ele revelou o seu propósito,
na porta da sua casa, para a equipe do Movimento Mundial pelas Florestas que
pesquisava os impactos dos plantios de eucalipto junto as comunidades
tradicionais e ao meio ambiente.
A Suzano Papel e Celulose plantara eucalipto
em mais de 40 mil hectares nos municípios de Urbano Santos, São Benedito do Rio
Preto, Anapurus, Chapadinha e Santa Quiteria que se destinavam à fabricação de
pellets e a exportação para a Inglaterra onde virariam energia térmica a fim de
aquecer os ingleses durante o inverno.
Faziam parte da equipe Winnie
Overbeck, movimento mundial pelas florestas, Ivonete, Cepedes, e Mayron Régis,
Forum Carajas. O roteiro da pesquisa incluiu as áreas de Urbano Santos e Santa
Quiteria em que as comunidades tradicionais disputavam os seus territórios de
roça e de extrativismo com as empresas de reflorestamento com eucalipto.
A associação de Santa Rosa contava
com poucos aliados. A Secretaria do Meio Ambiente do Maranhao e o Ibama respaldavam
o projeto da Suzano Papel e Celulose de ocupar o Baixo Parnaiba maranhense com
seus plantios de eucalipto. As licenças
assinadas pela então secretaria de meio ambiente do governo Jackson Lago em
2009 e um documento enviado ao Forum Carajas pelo Ibama no qual o órgão federal
avalizava a legalidade dos desmatamentos na Barra da Onça em Santa Quiteria
provavam esse respaldo das instituições governamentais.
As entrevistas coletadas pela
equipe do Movimento Mundial pelas Florestas subsidiou um documento que foi divulgado
pela Internet. A comunidade de Santa Rosa se sagrou vitoriosa na disputa com a família
Garreto. A policia militar de Chapadinha prendeu os pistoleiros que portavam
explosivos. A justiça de Urbano Santos deu uma liminar de manutenção de posse favorável
a associação. Segundo o Zequinha, o Nego Garreto passa de vez em quando por la
para se banhar nas águas que nascem na Chapada e que desaguam no rio Preto. O
Zequinha manteve um contato rápido com a equipe na sede do município de Urbano
Santos na noite do dia em que os pesquisadores entrevistaram seu cunhado, mas,
por sua crença, as vitórias sucessivas tiveram relação com a passagem do
Movimento Mundial pelas Florestas em sua comunidade.
Mayron Régis
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