Última entre as grandes tradings de
commodities agrícolas a se posicionar no corredor do Tapajós, a Louis Dreyfus
Company fechou a compra de um terreno na ilha de Marajó, (Ponta de Pedras) no
Pará, onde pretende construir seu primeiro porto na principal rota de
escoamento de grãos do Arco Norte do país.
A multinacional optou por uma área de
quase dois mil metros de frente e águas mais calmas localizada em uma antiga
fazenda na região conhecida como Enseada do Malato. É ali que a Dreyfus
pretende fazer o transbordo das barcaças para navios graneleiros destinados ao
exterior, com capacidade máxima de movimentação de 9 milhões de toneladas ao
ano. Se tudo ocorrer como esperado, diz a empresa.
"Estamos fazendo tudo certo, com
cuidado. Queremos fazer (o terminal) lá, mas sempre podem surgir novas
questões", diz Luis Barbieri, diretor para Oleaginosas da Dreyfus no
Brasil, referindo-se à presença ainda inicial na região.
A compra do terreno em Marajó é a
última etapa de um projeto logístico no Arco Norte que consumirá estimados R$ 1
bilhão em investimentos pela empresa. A Dreyfus também investirá em frota
própria de barcaças e empurradores e no terminal de transbordo de grãos em
Santarenzinho, a alguns quilômetros de Miritituba, onde a maior parte dos
terminais fluviais da concorrência já foi levantada.
Segundo Barbieri, a companhia aguarda a
emissão das licenças de praxe para dar início aos trabalhos no Tapajós. A
expectativa é que a licença de instalação de Santarenzinho saia no fim de 2017,
o que tornaria o terminal operacional em meados de 2019. "Mas sempre que
falei uma data, eu atrasei", diz ele.
Já em Marajó, a história pode ser mais
longa. Por esse motivo, Barbieri diz estar conversando também, paralelamente,
com dois potenciais parceiros logísticos na região. O "plano B" seria
a tentativa de garantir o fluxo da Dreyfus em um cenário de descasamento do
cronograma das obras portuárias.
O executivo é cauteloso em falar sobre
os planos para a ilha paraense. Nos últimos três anos, a Dreyfus mapeou várias
possibilidades de terrenos para implementar seu corredor fluvial. A Enseada do
Malato atraiu pelo calado - de 15 a 35 metros, a depender do local, ótimo para
a atracagem de grandes embarcações. Mas a empresa queria "ir com
calma", apesar da dianteira de Bunge, Cargill, ADM, Amaggi, Glencore e
Hidrovias do Brasil, todas já navegando pelo rio Tapajós.
Arrozeiros e quilombolas
A vantagem de chegar depois, neste
caso, trouxe o benefício do aprendizado com o erro do outro. No Pará, corre o
dito de que para cada casa há sempre quatro andares - alusão ao caos fundiário
que permite a disputa de um imóvel por vários "donos". A OTP, da
Odebrecht, viveu isso em Miritituba - a titularidade do seu terreno foi
questionada depois por um local.
"Não queríamos brecha para
questionamento jurídico ou conflitos com a comunidade. Nossos advogados foram
até a Portugal estudar o processo de sesmarias, quem vendeu pra quem [a terra].
Temos um dossiê desse tamanho", diz o executivo, representando com as mãos
o volume de papéis.
Conflitos com os ribeirinhos também são
uma preocupação. No ano passado, a Bunge foi alvo de questionamentos por
supostos incômodos à comunidade de um pequeno braço do Tapajós, onde passou a
fundear as suas barcaças.
Nesse processo, a Dreyfus contratou a
The Nature Conservancy (TNC), organização ambiental com alto expertise em
Amazônia, para fazer o diagnóstico de Marajó. Apesar da localização boa, a ilha
é conhecida pela grave disparidade social, abandono do Estado, conflitos entre
quilombolas e fazendeiros e, mais recentemente, com os arrozeiros. Só na área
de influência da Dreyfus, em Malato, vivem hoje cerca de 400 famílias.
"A gente precisava entender as
externalidades de um projeto que é complexo", afirma Barbieri. Ao fim de
seis meses de audiências públicas e análises de pontos cegos do impacto do seu
negócio na região, a Louis Dreyfus diz estar mais apta ao diálogo com
"stakeholders". No início do ano passado, contratou Eloiso Araújo,
ex-Vale, para ser o primeiro Gerente de Sustentabilidade no Pará.
A "licença social" que a
companhia buscou para atuar no Tapajós ainda terá de se provar com o tempo. Por
ora, a subsidiária brasileira terá de lidar com outras variáveis que
determinarão o ritmo de implementação de seu novo corredor para o Norte: um
caixa mais baixo e compromissos financeiros vultosos já firmados, como o seu
futuro terminal graneleiro em Santos, que arrematou em leilão junto com a
Cargill, por R$ 303 milhões. Fonte: Valor
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