A Aconeruq (Associação
das Comunidades Negras Rurais Quilombolas) contratou o Centro de
Formação para a Cidadania Akoni para elaborar um diagnostico que enxergasse a situação
socioeconômica de 8 comunidades quilombolas do interior do estado do Maranhão.
As comunidades quilombolas se encontram por quase todo o Maranhão,
principalmente, no norte e no centro-leste maranhenses. Essas regiões, por
muito tempo, assumiram papel de destaque no cenário político-econômico do Maranhão
ao comportarem fazendas de cana, de arroz e de gado. A balança comercial maranhense se compunha de
um lado de importações de negros e produtos manufaturados e pelo outro de
exportações de bens primários. De todo modo, a produção maranhense não marcou o
plano nacional porque outros estados mais próximos dos grandes centros sulistas
e da europa escoavam seus produtos com mais facilidade. O momento em que a
economia de monocultura e escravagista do Maranhão superou outras economias
regionais foi por conta da guerra da secessão dos Estados Unidos. Os nortistas
impediam os sulistas de exportar o algodão para Europa. Então, o Maranhão
substituiu por algum tempo o sul dos Estados Unidos. O algodão do Maranhão supriu
as necessidades de países como a Inglaterra pelo tempo que durou a guerra da
Secessão, pois, logo após o termino, os ingleses voltaram a importar dos
Estados Unidos. A economia do Maranhão, na década de sessenta do século
dezenove, voltou-se bruscamente para o algodão em vista da demanda europeia,
mas o que ocorreu com essa economia algodoeira depois que os pedidos
cessaram? O que fazer com uma sociedade
fincada no escravagismo e na monocultura do algodão, por pouco tempo, é
verdade, mas tempo suficiente para que se relembre sempre desse boom econômico
fugaz? Essas questões aqui postas não
esvaneceram por conta da passagem do tempo e da mudança nas elites maranhenses.
A economia e a politica no Maranhão se trajam com o vazio do discurso e com o
vazio da prática. A derrocada da economia algodoeira levou a vida pública no
Maranhão ao vazio ou foi a derrocada da vida pública no Maranhão que levou a
economia algodoeira ao vazio? As comunidades quilombolas, que testemunharam a
derrocada da economia algodoeira e sobreviveram a ela, foram engolidas pelo
vazio da vida pública e pelo vazio da economia no século XX. O Akoni
entrevistou produtores de 17 comunidades quilombolas do Vale do Itapecuru, dos
Lençois maranhenses, da região do Munim, da região dos Cocais e do Baixo
Parnaiba e captou bem o esvaziamento da vida pública na qual as elites enrolaram
as comunidades quilombolas. A totalidade das associações se mantem em dia com
relação as questões administrativas do dia-a-dia como CNPJ regularizado, por
exemplo. Contudo, as associações emperram no acesso a programas e politicas do
Estado pensadas para fomentar a produção da agricultura familiar, caso do PAA
(Programa de Aquisição de Alimentos) e do PNAE (Politica Nacional de
Alimentação Escolar), pois 67% dos entrevistados responderam que não acessaram
nem um e nem outro. O fato do PAA e do PNAE serem novidade explica, em parte, o
baixo acesso. A outra parte da responsabilidade fica por conta das prefeituras
que investem muito pouco em agricultura familiar e em assistência técnica. O desconsolo com que as prefeituras tratam as
comunidades quilombolas não é nenhuma novidade. Os mais jovens sentem esse
desconsolo com mais intensidade e buscam saídas nas novidades trazidas pelo
consumo da tecnologia. A tecnologia é uma válvula de escape para os jovens, mas
a tecnologia não modifica a realidade desses jovens e das comunidades. Quase
todos os entrevistados responderam que não agregam tecnologia nas suas
produções de alimentos. Como reverter esse desconsolo? Coadunar a forma e o
conteúdo das tecnologias com o conhecimento tradicional é um bom começo. A
Aconeruq e o Instituto Marques de Vale Flor desenvolvem o projeto “Promoção
de Tecnologias de Economia Solidária em áreas de Quilombos no Maranhão” que
propõe esse diálogo. O diagnóstico, que o Akoni sem incumbiu, é tanto uma
ferramenta na construção desse diálogo como um alerta do esvaziamento da vida
pública ou das politicas públicas. A equipe técnica do projeto apresentará o
diagnóstico na Secretaria de Desenvolvimento Social às 14:00 do dia 8 de maio.
A SEDES fica na rua do Giz, Centro de São Luis, próximo ao Reviver.
Mayron Régis
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