domingo, 14 de dezembro de 2025

filosofia indigena

Uma vez perguntaram a um filósofo se haveria possibilidade de conceber uma filosofia indígena, pensando talvez no exemplo do escritor maranhense Sousandrade, primeiro prefeito republicano de São Luís e autor do poema Guesa Errante. Obteve o silêncio como resposta. Por trás da pergunta : pensar um campo de estudo num estado que, por mais que não se reconheça, e indígena. A escravidão indígena prevaleceu no Maranhão pelos três primeiros séculos de colonização portuguesa. Os indígenas ou se integravam ou eram exterminados. A escravidão é uma forma de integração quando nada mais resta. Os portugueses não queriam exterminar todos os indígenas. Eles precisavam dos indígenas para moverem a economia rural maranhense nada promissora. Só uma região no Brasil pode ser comparada ao Maranhão em termos de escravidão indígena. O atual estado de São Paulo. E a escravidão indígena converge com a ocupação dos cerrados pelos paulistas. A ocupação dos cerrados não é recente. Data do século XVI com as investidas dos bandeirantes pelo interior de São Paulo para capturarem e escravizarem os nativos. O apogeu dessa ocupação acontecerá 4 séculos depois pela inserção de culturas exóticas no ambiente do Cerrado. Apogeu que resulta na exportação de grandes quantidades de soja e que tem como contraparte a redução da umidade, rebaixamento do lençol freático, encurralamento das comunidades tradicionais e quilombolas em pequenas extensões de terra, a inviabilizacao da produção agrícola da agricultura familiar, esmagamento da sociobiodiversidade, contaminação do meio ambiente por agrotóxicos e etc. A ocupação dos cerrados maranhenses e um fenômeno mais recente. Ela tem reflexos no meio físico e tem reflexos na linguagem e na cultura. A grande narrativa sobre a ocupação dos cerrados veio da caneta de um escritor meio conservador, meio liberal: o historiador Sergio Buarque de Holanda. Uma pergunta recai: porque um escritor com aptidões modernistas volta o seu olhar para a história dos séculos XVI, XVII e XVIII? O historiador e aquele que narra uma história com aquilo que acha pelo caminho; nem sempre o caminho levará a algum lugar ou levará ao caminho desejado. A São Paulo do século XX talvez não fosse a São Paulo que Sergio quisesse encontrar e por conta disso atravessou séculos lendo relatos em português e espanhol escritos por religiosos militares administradores e etc para encontrar um espaço em processo de ocupação. Os cerrados, em razão de suas especificidades, e visto como um espaço a ser ocupado. Não há de se descrever a ocupação dos cerrados no Maranhão sem estender a narrativa para o Piauí Ceará Bahia Pernambuco Tocantins e Para. A vinda de grandes contingentes fugindo das secas propiciou a ocupação de parte dos cerrados como forma de garantir a segurança alimentar e hídrica. Por algum tempo esses contingentes tiveram tranquilidade. Porém, essa palavra passou a representar uma utopia visto que tinham que dividir sua produção com pretensos proprietários. A vinda da soja como fator de modernização da economia nos anos 80 mudou essa conformacao. Os agricultores familiares, quilombolas, extrativistas não precisavam mais dividir o que produziam. Eles só precisarim abrir mão de seus territórios, de suas identidades e de suas tradições e tudo ficaria bem. Tendo que abrir de algo conquistado arduamente, como isso rebate na história das comunidades, na estruturação de um pensamento intelectual e social por parte dessas comunidades e como isso rebate na produção de alimentos? Aumentam os relatos de destruição ou tentativa de destruição por parte do agronegócio em grande parte do Maranhão dos inúmeros vestígios históricos e arqueológicos da época das escravidoes indígena e negra. O que fazer para deter esse processo? Temos vários exemplos dignos de serem citados. O caso da comunidade quilombola de Buriti dos Bois município de Chapadinha que luta pela preservação de parte de uma chapada rica em bacuri que um plantador de soja pretende desmatar. Essa luta passa pela discussão de sua identidade social, ancestral, jurídica, econômica e ambiental. Tem o caso da comunidade de Tanque da rodagem município de Matões que luta pela preservação de uma área de mais de 10.000 hectares para manter a qualidade de vida e história de vários idosos e da própria cidade de Matões. E tem o caso da comunidade quilombola de Cocalinho município de Parnarama que vive submersa pelos plantios de soja e pela contaminação por agrotóxicos o que acarreta vários casos de doenças e mesmo assim quer plantar seu bacuri quebrar seu coco babaçu e colher seu buriti nos brejos.

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