O caminheiro depois de
muitos dias de viagem pelo leste parava numa humilde choça das paredes de taipa
e coberta de palha de babaçú. Se hospedaria ali naquela tijupá para repousar a
noite e mais tarde seguir adiante, pois seu dia tinha sido bastante cansativo,
percorrera toda aquela densa região de conflitos, acumulando o aprendizado. Era
um herói? Talvez, com modéstia – esperava algumas mudanças e reformas que favorecessem
os menos favorecidos e desprovidos de direitos. Este é um ofício que escolhera
na esperança de novos tempos para colher bons frutos no futuro. Ao se abancar,
perguntaria aos anfitriões do lar sobre a questão da terra – a conversa
começaria antes do jantar que fora oferecido, pois jamais se dispensaria uma
tradicional Iguaria de “galinha caipira com arroz de pequi” a pesar de tudo
estava na chapada. A janta saiu com perfeição à luz de lamparina. Satisfeito!
Em seguida surgia uma provocação que envolveria a situação fundiária do lugar.
Poucos discutem sobre esse assunto que decerto é polêmico desde tempos bem
remotos na história das civilizações; respeitava-se o momento – deixando-os à
vontade. Mas as respostas supriam as indagações e a “prosa” prosseguira até o
fim. O Viajante tirava de seu alforje alguns livros, textos, revistas e jornais
velhos – veículos estes que alimentariam o gosto pela leitura e daria uma
injeção de ânimo na luta pela posse da terra. Presenteava-os com carinho;
recusaram de início, pois não sabiam ler nem escrever – descobrira então,
óbvio! Mas respeitosamente aceitaram os presentes e os guardaram num baú
seguro, pois dali tiveram a curiosidade de aprender a ler em uma demorada
relação com as palavras e com a gramática. Só assim demonstrariam força
intelectual e social para destrinchar os processos burocráticos no que diz
respeito a defesa do seu território. Não conheciam o mundo das letras – e nunca
leram nada – muito menos pisaram na escola; mas sabiam de cada pé de árvore da
chapada – mostravam seus saberes e técnicas no extrativismo repassados de pai
para filhos – curavam-se com remédios tirado das plantas medicinais – seus pais
lhe ensinaram; não se perderiam nas veredas nem de dia, nem de noite, a energia
era a luz da lua e das estrelas. Caçavam, pescavam, lavravam o chão e criavam
pequenos animais para a alimentação e reprodução da família, o que detinham de
mais valioso era toda aquela terra. Soletravam “lendo para entender a
chapada de forma diferente”, coisas que a escola não ensina, adquiriram o
diploma com o tempo. A existência e a convivência ensinaram essa nobre
literatura onde uma minoria dar valor. Escreve-se para quem disponibiliza um
tempinho pra ler. Conversavam ao seu modo com a natureza numa comunhão e
comunicação com o espaço em que vivem. Sabiam a hora pelo sol e o tempo de
plantar e jogar a semente no período certo através do clima. Viviam Isolados do
mundo civilizado e conectados com o meio ambiente. A cartilha era a própria
terra, as folhas, os ventos, a enxada, o jacá e as chuvas de inverno.
Formaram-se em todas as ciências, receberam prêmios valiosos e repassaram isso
para as futuras gerações. Tiveram como mestres o tempo e a paciência que lhes
ensinaram a mais bela das lições de vida.
José Antonio Basto
e-mail:
bastosandero65@gmail.com
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