quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Arame e a Terra Indígena Araribóia: a luta dos povos indígenas na defesa da floresta


Uma experiência interessante foi trilhar e ao mesmo tempo se perder dentro do Território Indígena Araribóia entre as cidades de Grajaú e Arame – na região central do Maranhão. O destino seria uma formação para os dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Arame, município conhecido como perigoso quando se trata de conflitos fundiários. Saímos do Entroncamento no final da tarde e viajávamos pela rota via Peritoró, Presidente Dutra, Barra do Corda, Grajaú até chegar em Arame. O caminho encurtaria via Santa Luzia e Santa Inês, mas a desinformação das rodovias não deixara.
O destino nos fez conhecer melhor as terras que antes muito antes ainda no tempo das Capitanias Hereditárias eram dos índios. As várias tribos e troncos linguísticos que habitavam aquelas regiões hoje cobertas de grandes fazendas de criações de gado, muitas delas desapareceram, restaram apenas as poucas que heroicamente moram nas beiras das estradas. Refletimos a respeito desses povos primitivos residentes nos municípios de Grajaú, Arame, Amarante, Penalva – alargando seu território para os lados de Imperatriz, Zé Doca e todo região do Alto Turi, região Tocantina e central do Maranhão, esses índios continuam lutando pela demarcação de suas terras, esperam a boa vontade do Governo Federal; vivem a mercê, largados e esquecidos pela sociedade. Vivem talvez já acostumados com os problemas das cidades numa situação miserável atingidos pela globalização e avanço das tecnologias que agride seus modos de vida tradicional. Na estrada de Grajaú a Arame se passa por uma enorme reserva, olhava-se da janela do carro as frondosas árvores da floresta amazônica no Maranhão e de vez enquanto topávamos com índios caçadores no meio do caminho, momentos inéditos. Crianças índias pediam para parar o carro, estendiam suas mãozinhas pedindo dinheiro. Vendo aquilo, percebi que nossos nativos foram engolidos pela civilização, incapaz de viverem em paz para que assim se reproduzam de forma cultural e sustentável. BRs e ferrovias lhes ameaçam, construção de barragens lhes expulsam da terra, extinguindo espécies da fauna e da flora... elementos esses que necessitam para a sobrevivência.
Uma região bonita cheia de serras e vales, o capim nasce naturalmente, por isso o desenvolvimento das fazendas de gado. Além dos povos indígenas existem muitos povoados e outras comunidades tradicionais como os assentamentos, vilas e vilarejos. Essa região é tida no mapa como violenta, terra sem lei onde manda quem tem dinheiro. Constantemente assistimos casos de assassinatos no campo envolvendo lavradores, lideranças indígenas, ativistas ambientais e lideranças sindicais - estes casos quase sempre estão envolvidos nos crimes de pistolagem fazendeiros e empresários como os principais mandantes. O Maranhão hoje é o estado campeão de conflito no campo superando já até o estado do Pará; em 2016 os índices elevaram-se de forma assustadora - os homicídios acontecem na disputa por terra e por água; os assassinos e mandantes vivem impunes e as comunidades e povos tradicionais não tem proteção policial. Um problema social que assola boa parte do Brasil, o cenário agrário em nosso país quase nada mudou desde os tempos coloniais.
Ao terminar o trabalho de dois dias no STTR de Arame, voltamos para casa, desta vez por Santa Luzia - passávamos mais uma vez por dentro da Terra Araribóia – reserva dos índios Guajajara. A mesma reserva que em outubro de 2016 foi alvo de muitas queimadas. O pedaço da BR que corta a área indígena não foi reformada porque os índios não deixaram e com razão. Aproveitaram o momento das obras para reivindicar seus direitos e chamar a atenção dos governos para a urgência da regularização de suas terras, como não foram ouvidos, também não deixaram terminar a estrada. As reservas ficam entre as cidades e fazendas. A monocultura também é muito forte por ali, existem grandes faixas de terras plantadas de eucalipto e soja – os povos tradicionais reclamam dos uso intensivo de agrotóxicos sob suas áreas. Os povos Guajajara da Terra Araribóia merecem respeito porque precisam diretamente da floresta para tudo, eles demarcam suas áreas pelas trilhas de caça. As serras e vales daquela região me fez lembrar de que aquele grande chão tem dono desde séculos bem remotos de nossa história.

José Antônio Basto                                                        
E-mail98607-6807: bastosandero65@gmail.com
(98)                                                                                                                                


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