Uma experiência interessante foi trilhar e ao mesmo tempo se perder dentro
do Território Indígena Araribóia
entre as cidades de Grajaú e Arame – na região central do Maranhão. O destino
seria uma formação para os dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Rurais de Arame, município conhecido como perigoso quando se
trata de conflitos fundiários. Saímos do Entroncamento no final da tarde e
viajávamos pela rota via Peritoró, Presidente Dutra, Barra do Corda, Grajaú até
chegar em Arame. O caminho encurtaria via Santa Luzia e Santa Inês, mas a
desinformação das rodovias não deixara.
O destino nos fez conhecer melhor as terras que antes muito antes ainda no
tempo das Capitanias Hereditárias eram dos índios. As várias tribos e troncos
linguísticos que habitavam aquelas regiões hoje cobertas de grandes fazendas de
criações de gado, muitas delas desapareceram, restaram apenas as poucas que
heroicamente moram nas beiras das estradas. Refletimos a respeito desses povos
primitivos residentes nos municípios de Grajaú, Arame, Amarante, Penalva –
alargando seu território para os lados de Imperatriz, Zé Doca e todo região do
Alto Turi, região Tocantina e central do Maranhão, esses índios continuam
lutando pela demarcação de suas terras, esperam a boa vontade do Governo
Federal; vivem a mercê, largados e esquecidos pela sociedade. Vivem talvez já
acostumados com os problemas das cidades numa situação miserável atingidos pela
globalização e avanço das tecnologias que agride seus modos de vida tradicional.
Na estrada de Grajaú a Arame se passa por uma enorme reserva, olhava-se da
janela do carro as frondosas árvores da floresta amazônica no Maranhão e de vez
enquanto topávamos com índios caçadores no meio do caminho, momentos inéditos.
Crianças índias pediam para parar o carro, estendiam suas mãozinhas pedindo
dinheiro. Vendo aquilo, percebi que nossos nativos foram engolidos pela
civilização, incapaz de viverem em paz para que assim se reproduzam de forma
cultural e sustentável. BRs e ferrovias lhes ameaçam, construção de barragens
lhes expulsam da terra, extinguindo espécies da fauna e da flora... elementos
esses que necessitam para a sobrevivência.
Uma região bonita cheia de serras e vales, o capim nasce naturalmente, por
isso o desenvolvimento das fazendas de gado. Além dos povos indígenas existem
muitos povoados e outras comunidades tradicionais como os assentamentos, vilas
e vilarejos. Essa região é tida no mapa como violenta, terra sem lei onde manda
quem tem dinheiro. Constantemente assistimos casos de assassinatos no campo
envolvendo lavradores, lideranças indígenas, ativistas ambientais e lideranças
sindicais - estes casos quase sempre estão envolvidos nos crimes de pistolagem
fazendeiros e empresários como os principais mandantes. O Maranhão hoje é o
estado campeão de conflito no campo superando já até o estado do Pará; em 2016
os índices elevaram-se de forma assustadora - os homicídios acontecem na
disputa por terra e por água; os assassinos e mandantes vivem impunes e as
comunidades e povos tradicionais não tem proteção policial. Um problema social
que assola boa parte do Brasil, o cenário agrário em nosso país quase nada
mudou desde os tempos coloniais.
Ao terminar o trabalho de dois dias no STTR de Arame, voltamos para casa,
desta vez por Santa Luzia - passávamos mais uma vez por dentro da Terra
Araribóia – reserva dos índios Guajajara. A mesma reserva que em outubro de
2016 foi alvo de muitas queimadas. O pedaço da BR que corta a área indígena não
foi reformada porque os índios não deixaram e com razão. Aproveitaram o momento
das obras para reivindicar seus direitos e chamar a atenção dos governos para a
urgência da regularização de suas terras, como não foram ouvidos, também não
deixaram terminar a estrada. As reservas ficam entre as cidades e fazendas. A
monocultura também é muito forte por ali, existem grandes faixas de terras
plantadas de eucalipto e soja – os povos tradicionais reclamam dos uso
intensivo de agrotóxicos sob suas áreas. Os povos Guajajara da Terra Araribóia
merecem respeito porque precisam diretamente da floresta para tudo, eles
demarcam suas áreas pelas trilhas de caça. As serras e vales daquela região me
fez lembrar de que aquele grande chão tem dono desde séculos bem remotos de
nossa história.
José Antônio Basto
E-mail98607-6807:
bastosandero65@gmail.com
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