O destino seria a Comunidade São Raimundo – município de Urbano Santos, território do Baixo Parnaíba; eles chegariam de surpresa na sede do STTR na sexta-feira passada, 13/01/2016. Praticariam uma matéria sobre a produção de bacuri naquela região. O Sidney Pereira, repórter da emissora já era familiar com esse tipo de trabalho, estaria em 2010 para realizar uma matéria sobre o problema da monocultura no município de Urbano Santos. Dez anos depois voltaria para ver o que mudou. Na conversa deixaram claro que queriam filmar uma comunidade que desenvolve a cultura do extrativismo do bacuri e resiste conflitos em defesa da terra. Pensamos de imediato no São Raimundo, pela causa defendida há muitos anos e sobretudo ainda agora que se inicia o período da safra do bacuri.
Saímos da sede da cidade já quase meio dia, praticaríamos a estrada das Comunidades Baixa do Cocal, Ingá, Santana, Mangabeira, Estiva, Boa União até chegar ao São Raimundo. Os plantios de eucaliptos assombrava a todos, mas percebia-se também que a Suzano já não tem tanta força a assim, pois as ações das comunidades tradicionais no Baixo Parnaíba fez com que a Justiça Federal (Ministério Público) proibisse o alargamento do desmatamento do cerrado para novos plantios de eucalipto. Estas ações da militância do Movimento Social já vinha de concretizando desde décadas passadas. Na década de 80 quando a monocultura do eucalipto chega em Urbano Santos trazida pela Empresa Florestal LTDA que depois se chamou “Comercial Agricola Paineiras – hoje Suzano Papel e Celulose, as comunidade rurais naquela época confrontaram com a empresa no local onde implantaram seu primeiro viveiro, Comunidade Santo Amaro. Orientados pela Igreja Católica, os trabalhadores rurais já profetizavam o que de certo vem acontecendo hoje em dia - a destruição incontrolável das nossas chapadas e o uso de técnicas adequadas e aplicação de agrotóxicos.
As comunidades que resistiram os conflitos fundiários como foi o caso do Bracinho e São Raimundo passaram a ser mal vistas pelos representantes da empresa. A Associação de moradores da comunidade Bracinho enfrentou os tratores da Suzano, com o fogo da luta e a união dos camponeses na luta pela terra, o empreendimento capitalista ainda tentou enganar os trabalhadores rurais com 400 hectares de terra -, não aceitaram e foram pra cima. Se trabalhavam na terra desde os seus avós, muito antes da década de oitenta. Esses problemas são comuns no Baixo Parnaíba, as chapadas foram vendidas por antigos políticos onde os camponeses nem sabe de tal procedimento. Como todas as partes do Brasil, por aqui sempre teve e sempre terá conflitos no campo. São Raimundo se tornou modelo nessa luta porque os moradores se uniram em defesa do bem comum: a terra. O bacuri, fruta especial das comunidades das chapadas é uma das fontes de renda destas populações hoje está em perigo de extinção em muitos povoados, principalmente nas áreas em que a monocultura do eucalipto está presente. Para os lavradores a terra é um espaço sagrado, os bacurizais e pequizeiros transformados em campos limpos para o plantio de eucalipto e soja, esses são muitos dos outros empreendimentos no campo com investimentos capitalistas de espoliação de terras que não visam o desenvolvimento das comunidades rurais e desrespeitam social e culturalmente seus modos de vida. Os agricultores sempre levaram a sério o processo de racionalidades por serem resistentes nos seus modos de reprodução social e cultural, pois sempre mantiveram uma relação amorosa no que fazem na agricultura e no extrativismo. Os bacurizeiros e pequizeiros são espécies mais conhecidas de nossa região e merecem respeito, merece respeito toda biodiversidade.
A importante dessa matéria sobre a colheita do bacuri nas chapadas das Comunidades São Raimundo e Bom Princípio, nos fez refletir sobre o Projeto de Iniciativa Popular que travamos em 2016, encabeçando pelo STTR -, uma proposta de se criar uma lei junto ao legislativo para proibição do desmatamento do cerrado para o plantio de monoculturas e uso de transgenia no município de Urbano Santos, tomando como exemplo as leis de municípios vizinhos que não aceitam a entrada do eucalipto. Com a concretização dessa lei, os camponeses só tem a ganhar, pois os espaços de extrativismo, agricultura e cabeceiras de rios serão mais protegidos longe das monoculturas agressivas que tanto destruíram e ainda ameaçam a biodiversidade no Baixo Parnaíba.
José Antonio Basto
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