A vida do homem e da mulher do campo
depende de como se usa a terra e das condições que se tem para tirar dela o
sustento. Em nosso país, mesmo com os direitos garantidos no Estatuto da Terra
(1964), na Constituição Federal (1988) e mais recentemente (1993) na lei nº
8.634, todos garantindo um direito à reforma agrária; infelizmente ainda
existem muitas áreas de “terras presas” e agricultores sem a terra
para trabalhar. As comunidades rurais necessitam e clamam durante séculos pelo
Direito à posse da terra, direito de nela permanecer e trabalhar, direito de
acesso a água, direito ao trabalho e este em condições dignas. O artigo 186 da
Constituição Federal diz que a função social da terra é cumprida quando atende
ao mesmo tempo as exigências, o artigo 184 garante que quando uma propriedade
não está cumprindo a sua função social, pode ser desapropriada pela União
(Governo Federal) para fins de Reforma Agrária.
Do que vale um Brasil com imensas faixas de
terra sem produção? E um contingente enorme de trabalhadores e trabalhadoras
rurais sem terra a procura de um pedaço de chão para produzir alguma coisa? A
trajetória fundiária de nosso país é refletida pela má distribuição dos setores
agrários, das terras devolutas da União e dos Estados da Federação; a violência
contra os menos favorecidos ainda é uma página ensanguentada que aguarda
justiça. Um grito de alerta e de socorro ecoa desde o descobrimento, desde
quando apareceram as primeiras organizações em busca da terra, contra a
escravidão, pelo reconhecimento e livre expressão. Este grito está ainda nas
entranhas dos Sindicatos de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (STTRs), na
CONTAG, nas FETAGs, na CPT, na Via Campesina, nas marchas, encontros de CEBs,
nos assentamentos, nos cantos e cartilhas, nas associações rurais... no meio de
nós camponeses e camponesas que acreditamos num novo modelo de desenvolvimento
sustentável e solidário para este país, em comunhão e respeito com meio
ambiente, porque necessitamos de terra, de água... não apenas nós, mas toda uma
biodiversidade para se reproduzir. Os latifundiários e grandes projetos
capitalistas implantados no campo não representam nossa luta, são eles os
responsáveis pela destruição! São as barragens e grandes fazendas que expulsam
cada vez mais as comunidades tradicionais para lugares em que elas não são
acostumadas; seus modos de vida são ameaçados pelas construção de barragens
hidrelétricas, pelo avanço da criação de gado, pela exploração descontrolada de
minérios e garimpos, pela derrubada ilegal de árvores na Amazônia pelo avanço
da monocultura do eucalipto e soja e pela nova fronteira do MATOPIBA. Em meio
aos problemas apresentados no meio ambiente o capitalismo e exploração dos
recursos naturais e humanos não conseguem suprir mais suas necessidades
econômicas. Vivemos em outros tempos, com a esperança de viver em paz, com
água... com terra. Almejamos uma Reforma Agrária maciça com gente, com
assistência técnica de qualidade e linhas de créditos suficientes para uma produção
elevada de alimentos, mas jamais esquecendo as técnicas culturais repassadas de
geração para geração.
Muitos
povos do mundo precisam de alimento, o Brasil é um dos responsáveis por esse
processo, por ser um país emergente e líder dos BRICs. Temos terras mas ela
precisa ser desapropriada, regularizada, demarcada e beneficiar de fato quem
nela trabalha, sobrevive e respeita. Mais de 65% do alimento de nossas mesas
vem da agricultura familiar e são produzidos pelas mãos suadas e calejadas dos
nossos agricultores e agricultoras, porque a agricultura familiar não é digna
de mais atenção? O agronegócio ganha a bola da vez com um número alto de
recursos que são repassados diretamente dos cofres do Governo Federal,
precisa-se mudar esse quadro. A bandeira da Reforma Agrária sempre vai ser
hasteada com vigor e garra, honrando os companheiros e companheiras que deram
seu sangue por esta causa, que tombaram mas que deixaram seus nomes nas páginas
da história. A luta pela terra é uma
luta renhida válida pela vida. Viva a Reforma Agrária e o “DIREITO À POSSE DA TERRA”!
José
Antonio Basto
Militante pela Reforma Agrária
e-mail: bastosandero65@gmail.com
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