Numa conversa rápida por telefone, Edivan, militante do MST e morador do assentamento Belem,concluiu que a redução do volume de água nos rios de Buriti se deve, em parte, ao aumento do numero de poços artesianos em cada povoado. Os moradores de Belem confirmariam na hora caso alguem lhes perguntasse se em 2015 o leito do rio, que nasce e que passa por dentro do assentamento, secou. Sim, secou completamente pela primeira vez. A expressão "pela primeira vez" causa impacto tanto em quem fala como em quem escuta. Se secou pela primeira vez, a saída seria entender porque o rio não secou antes, mesmo tendo rolado secas severas, só lembrar os anos 80, e entender o que tem de novo no cenário economico na região da bacia do rio Munim que acarretou um quadro de esgotamento de recursos naturais tão grave como se viu no decênio 2005/2015.
Não há grandes desmatamentos e não há monoculturas na Chapada de Belem. São mais de 2.000 hectares de Cerrado, Babaçual e de vegetação com caracteristicas amazonicas. Ela foi deixada de lado pelo agronegócio graças ao conflito entre os moradores e o grupo João Santos.A Chapada de Belem se agarra à Chapada do Brejão. Nesta Chapada, as atividades economicas ficaram meio que paradas por mais de vinte anos porque os seus quase tres mil hectares não couberam dentro do planejamento sucroalcoleiro do grupo João Santos. A inexistencia de atividades economicas de expressivo impacto ambiental no municipio de Buriti até determinada epoca explica porque os afluentes do rio Munim mantiveram seus volumes de agua em anos de seca arrochada.
Pode-se afirmar que o anos 90 foram o portal no tempo e no espaço para o agronegócio adentrar no Maranhão e competir com total segurança pelos recursos disponiveis (recursos financeiros, humanos e naturais). Desde então, o clima se alterou de tal forma que não há como negar as alterações. A alteração mais evidente é do ponto de vista fisionômico paisagistico: os desmatamentos das Chapadas e os plantios de soja e de eucalipto. No começo, esses desmatamentos eram vistos como um mal menor haja vista as necessidades de produção de alimentos para exportação e da geração de emprego e de renda para as comunidades desassistidas pelo Estado brasileiro. As pessoas tambem não viam maiores problemas porque se desmatava o núcleo da Chapada, onde ninguem morava e de onde ninguem tirava seu sustento a não ser alguem que tivesse um gado o qual soltava a fim de comerem a vegetação do Cerrado.
O agronegocio da soja encontrou a base socioeconomica do Baixo Parnaiba maranhense intacta e integra. Antes, os proprietários se sentiam a vontade para deixar seus animais percorrerem as Chapadas. NInguem interpunha obstaculos. Ninguem cobrava por esse proceder. Ninguém os intepelava. A coisa muda de figura a partir do momento em que funcionarios atiram nos animais que pisam os plantios de soja. Os proprietários se vêem em maus lençois. A justiça dá ganho de causa aos sojicultores. O proprietários assumem novos hábitos e novas posturas mais racionais e mais capitalistas: diminuiram suas criações e prenderam-nas dentro de cercados. O custo aumentou e eles não tiveram de onde tirar recursos para sustentar as criações e os empregados.
O agronegócio forçou um rearranjo na economia do Baixo Parnaiba que a fez perder sua base integra aqui diagnosticada como uma economia de base primária. Quem manteve suas posses sobre as Chapadas ainda compõe uma base economica que não se integrou e nem se entregou por completo ao agronegócio. Ainda se apreende um pouco do lado integro que pautou as relaçoes do Baixo Parnaiba por seculos. Essa suposta integridade não garante grandes coisas. Do ponto de vista ambiental, as Chapadas de Belem e do Brejão são as mais integras e as mais intactas, entretanto nem elas escaparam da queda vertiginosa do lençol freático.
Mayron Régis
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